sexta-feira, dezembro 30, 2005

Ranzinza



A amizade é um incidente geográfico.

Imagem: Leucócito granuloso em meio as hemácias

Conto do primeiro Amor




Atende pelo nome de José o meu primeiro amor. E era mesmo como um José qualquer. Comum, inevitável e absolutamente perfeito como a sílaba átona que o encerra.

Tinha eu 10, talvez quase 11 anos de idade. A forma do encontro atestou sua divindade (embora aos 20 eu tenha me tornado um ser anticlerical). Foi dentro de uma igreja, a mais antiga desta antiga pequena cidade, onde cursávamos o catecismo.

Ele no último ou penúltimo banco, violão em punho, arranhando o que supus serem seus primeiros acordes tortos. Eu em pé, do lado esquerdo da nave principal, senti também pela primeira vez um descompasso do lado esquerdo do peito. Eu invisível aos seus olhos de criança. Ele gravado pra sempre dentro da minha memória.

Descobri, à época, a devoção de José –infinitamente mais fiel ao catolicismo que eu. Ao ponto de atuar como coroinha nas missas de terça-feira.

Eu, que mais me portava como um nativo brasileiro do século 16 (a ponto de ter sido ‘promovida’ rapidamente ao último nível do catecismo em razão dos meus questionamentos constantes dos eventos do Velho Testamento) passei a frequentar religiosamente missas, casamentos ou qualquer evento cristão na qual o pároco dependia da ajuda dos pequenos ajudantes.

A assiduidade, vista somente nas carolas cuja viuvez havia roubado parte de seus afazeres domésticos noturnos, logo me desmascarou. Pouco atenta à liturgia, eu lançava olhares incisivos (que aprimorei ao longo dos anos) ao coroinha envergonhado. Sabia eu que Jesus, em sua bondade infinita, perdoaria tal deslize romântico.

Habilidosa na arte da persuasão, por volta dos 11 ou 12 anos, convenci minha mãe a me transferir para a escola do bem amado. Dois anos depois, a investida de minha cruzada amorosa terminou quase sem ter sido. Como terminam as coisas quando se tem menos de 14 anos.

O terço trancafiado eternamente na gaveta, um baú de boas lembranças com pinceladas de agruras, beijos atrapalhados e a certeza de ter vivido, pela primeira vez e em toda intensidade, o amor.

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Contagiante





Se o espírito do Natal é a confraternização.
É estar entre pessoas que amamos --que incluem amigos e família.
Então...
Eu tive um dos melhores que poderia ter.

Que este espírito abasteça o ano de 2006!

;-)

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Stela olha estrelas



VIA-LÁCTEA
XIII

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-las, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto

A via láctea, como um pálio aberto,

Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!

que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas."

BILAC, Olavo. Poesias. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 23ª edição. 1964, p.53.

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
XII

Sonhei que me esperavas. E, sonhando,

Saí, ansioso por te ver: corria...

E tudo, ao ver-me tão depressa andando,

soube logo o lugar para onde eu ia.

E tudo me falou, tudo! Escutando

Meus passos, através da ramaria,

Dos despertados pássaros o bando:

"Vai mais depressa! Parabéns!" dizia.

Disse o luar: "Espera! que eu te sigo:

Quero também beijar as faces dela!"

E disse o aroma: "Vai que eu vou contigo!"

E cheguei. E, ao chegar, disse uma estrela:

"Como és feliz! como és feliz, amigo,

Que de tão perto vais ouvi-la e vê-la!"

BILAC, Olavo. Poesias. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 23ª edição. 1964, p.52

Imagem: Starry Night, de Vicent Van Gogh, Museu de Nova Iorque

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Amor nos Tempos pós Cólera




E na cabeceira: leio "O Amor nos Tempos do Cólera", de Gabriel Garcia Marquez. Excelente, como o Garcia Marques não consegue deixar de ser. ;-)

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Antifeminismo





Cansada de ser o homem da casa, ela sacramentou:
- Melhor esfregar cuecas a usá-las sobre as calcinhas...

Memórias de Minhas Putas Tristes



Sem a possibilidade de escrever como eu gostaria, associada a total falta de inspiração lírica, deixo aqui um texto que realmente vale a pena.
E um bom Natal a todos!
;-)


Trecho do livro "Memórias de Minhas Putas Tristes", de Gabriel García Marquez

No ano de meus noventa anos quis me dar de presente uma noite de amor louco com uma adolescente virgem. Lembrei de Rosa Cabarcas, a dona de uma casa clandestina que costumava avisar aos seus bons clientes quando tinha alguma novidade disponível. Nunca sucumbi a essa nem a nenhuma de suas muitas tentações obscenas, mas ela não acreditava na pureza de meus princípios. Também a moral é uma questão de tempo, dizia com um sorriso maligno, você vai ver. Era um pouco mais nova que eu, e não sabia dela fazia tantos anos que podia muito bem estar morta. Mas no primeiro toque reconheci a voz no telefone e disparei sem preâmbulos:

— É hoje.

Ela suspirou: Ai, meu sábio triste, você desaparece vinte anos e volta só para pedir o impossível. Recobrou em seguida o domínio de sua arte e me ofereceu meia dúzia de opções deleitáveis, mas com um senão: eram todas usadas. Insisti que não, que tinha de ser donzela e para aquela noite. Ela perguntou alarmada: Mas o que é que você está querendo provar a si mesmo? Nada, respondi, machucado onde mais doía, sei muito bem o que posso e o que não posso. Ela disse impassível que os sábios sabem de tudo, mas não tudo: Virgens sobrando neste mundo só os do seu signo, dos nascidos em agosto. Por que não encomendou com mais tempo? A inspiração não avisa, respondi. Mas talvez espere, disse ela, sempre mais sabichona que qualquer homem, e me pediu nem que fossem dois dias para revirar o mercado a fundo. Eu repliquei a sério que numa questão dessas, e na minha idade, cada hora é um ano. Então não tem jeito, disse ela sem o menor fiapo de dúvida, mas não importa, assim é mais emocionante, merda, deixa que eu telefono em uma hora.

Não preciso nem dizer, porque dá para reparar a léguas: sou feio, tímido e anacrônico. Mas à força de não querer ser assim consegui simular exatamente o contrário. Até o sol de hoje, em que resolvo contar como sou por minha livre e espontânea vontade, nem que seja só para alívio da minha consciência. Comecei com o telefonema insólito a Rosa Cabarcas, porque, visto de hoje, aquele foi o início de uma nova vida, e numa idade em que a maioria dos mortais está morta.

Vivo numa casa colonial na calçada de sol do parque de San Nicolás, onde passei todos os dias da minha vida sem mulher nem fortuna, onde viveram e morreram meus pais, e onde me propus morrer só, na mesma cama em que nasci e num dia que desejo longínquo e sem dor. Meu pai comprou a casa num leilão público no final do século XIX, alugou o andar de baixo para lojas de luxo de um consórcio de italianos e reservou-se este segundo andar para ser feliz com a filha de um deles, Florina de Dios Cargamantos, intérprete notável de Mozart, poliglota e garibaldina, e a mulher mais formosa e de melhor talento que jamais houve na cidade: minha mãe.

O espaço da casa é amplo e luminoso, com arcos de estuque e pisos axadrezados de mosaicos florentinos, e quatro portas envidraçadas sobre uma sacada corrida onde minha mãe sentava-se nas noites de março para cantar árias de amor com suas primas italianas. Dali se vê o parque de San Nicolás com a catedral e a estátua de Cristóvão Colombo, e mais além os armazéns do cais fluvial e o vasto horizonte do rio grande da Magdalena a vinte léguas de seu estuário. A única coisa ingrata na casa é que o sol vai mudando de janelas no transcurso do dia, e é preciso fechar todas elas para tratar de dormir a sesta na penumbra ardente. Quando fiquei sozinho, aos meus trinta e dois anos, mudei-me para a que tinha sido a alcova de meus pais, abri uma porta de passagem para a biblioteca e para viver comecei a vender o que estava sobrando, e que terminou sendo quase tudo, exceto os livros e a pianola de rolos.

Durante quarenta anos fui o domador de telegramas do El Diario de La Paz, tarefa que consistia em reconstruir e completar em prosa indígena as notícias do mundo, que agarrávamos em pleno vôo pelo espaço sideral através das ondas curtas ou do código Morse. Hoje me sustento, mal ou bem, com minha aposentadoria daquele ofício extinto; me sustento menos com a de professor de gramática castelhana e latim, quase nada com a crônica dominical que escrevi sem esmorecimento durante mais de meio século, e nada em absoluto com as resenhas de música e teatro que me publicam de favor nas muitas vezes em que intérpretes notáveis passam por aqui. Nunca fiz nada diferente de escrever, mas não tenho vocação nem virtude de narrador, ignoro por completo as leis da composição dramática, e se embarquei nessa missão é porque confio na luz do muito que li pela vida afora. Dito às claras e às secas, sou da raça sem méritos nem brilho, que não teria nada a legar aos seus sobreviventes se não fossem os fatos que me proponho a narrar do jeito que conseguir nesta memória do meu grande amor.

No dia de meus noventa anos havia recordado, como sempre, às cinco da manhã. Por ser sexta-feira, meu compromisso único era escrever a crônica que é publicada aos domingos no El Diario de La Paz. Os sintomas do amanhecer tinham sido perfeitos para não ser feliz: me doíam os ossos desde a madrugada, meu rabo ardia, e havia trovões de tormenta depois de três meses de seca. Tomei banho enquanto passava o café, bebi uma caneca adoçada com mel de abelhas e acompanhada por duas broas de farinha de mandioca, e vesti o macacão de brim de ficar em casa.

O tema da crônica daquele dia, é claro, eram os meus noventa anos. Nunca pensei na idade como se pensa numa goteira no teto que indica a quantidade de vida que vai nos restando. Era muito menino quando ouvi dizer que se uma pessoa morre os piolhos incubados no couro cabeludo escapam apavorados pelos travesseiros, para vergonha da família. Isso me impressionou tanto que tosei o coco para ir à escola, e até hoje lavo os escassos fiapos que me restam com sabão medicinal de cinza e ervas milagrosas. Quer dizer, me digo agora, que desde muito menino tive mais bem formado o sentido do pudor social que o da morte.




"Memória das Minhas Putas Tristes" conta a história de um velho jornalista de noventa anos que deseja festejar a sua longa existência de prostitutas, livros e crónicas com uma noite de amor com uma jovem virgem. Inspirado no romance "A Casa das Belas Adormecidas" do Nobel japonês Yasunari Kawabata, o consagrado escritor colombiano submerge-nos, num texto pleno de metáforas, nos amores e desamores de um solitário e sonhador ancião que nunca se deitou com uma mulher sem lhe pagar e nunca imaginou que encontraria assim o verdadeiro amor. Rosa Cabarcas, a dona de um prostíbulo, conduzi-lo-á à adolescente com quem aprenderá que para o amor não há tempo nem idade e que um velho pode morrer de amor em vez de velhice. A escrita incomparável de Gabriel García Márquez num romance que é ao mesmo tempo uma reflexão sobre a velhice e a celebração das alegrias da paixão.


Imagem capturada de:
http://www.interarteonline.com/Consuelo_Hurtado/altas/Muchachas_en_Flor.jpg

segunda-feira, dezembro 19, 2005

What´s Up?



A internet proporciona encontros e reencontros
fantásticos, gente bacana, novos amigos.

Infelizmente, a rede também reflete o mundo. Como nele,
há gente hipócrita, prepotente, sem nenhum senso do ridículo.

Discusões non sense. Falta de inteligência de pessoas
que não sabem distinguir admiração e tensão sexual.

Comunicar-se com alguém não significa querer transar com essa pessoa.
Pelo menos, no meu caso, é assim. Na net e na vida.

Lamentável, enfim.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Fragmentos























Sou 'audiovisual'. Ouvi certa vez.
Hoje, sou eu que apenas vejo e escuto.
Não são somente as letras oriundas
de Guttemberg capazes de alterar pulsações.

De mãos quase atadas,
passo os dias a coletar
imagens, fragmentos.
Por eles vos falo.

segunda-feira, novembro 07, 2005

A passo lento




E a vida segue um ritmo lento.
Período de recuperação.
Na quarta tiro os pontos.
E começo nova etapa.
Sofro por não poder escrever.
Sinto-me calada. E meus ouvidos
não escutam o que quero.

domingo, outubro 30, 2005

Festa estranha, gente esquisita




Tem gente que me acha estranha. Porque gosto de coisas que nem todo mundo gosta.
Porém, graças à internet, achei outros excluídos. Pessoas com gosto semelhante e, que mesmo sem saber, fizeram com que me sentisse 'incluída' novamente. Gente que gosta de gente. Entende da mesma maneira que eu certas letras de músicas --sejam elas complexas ou simples, como a ato de pintar as unhas. Vibram com melodias aparentemente desconexas e ao mesmo tempo sublimes. Sou novamente parte de alguma coisa. Estranhos de todo o mundo, uni-vos!!

Há alguns meses, deixei três pessoas com olhar arregalado ao dizer que não gosto de Legião Urbana. Quase apanhei. Talvez não tenha me explicado bem. Há alguns anos achava as letras fabulosas, a melodia bacana. Renato Russo tem milhares de méritos. Mas certas músicas da Legião tocaram e tocam tanto que parecem piada ouvida milhares de vezes. Mesmo boa, depois de um tempo quando você ouve e logo pensa: 'lá vem aquela piada de novo'?
Ainda durante a conversa, tratei de falar mal das bandas travestidas de Legião e vocais espelhados em Renato Russo. Não dá pra gostar de Catedral, sinto muito. Quase fui espancada, mas me mantive firme, forte e operante em minha posição (e olha que sou flexível!). E novamente, sou excluída de uma coisa.

Tudo bem. "Aceito a condição", parafraseando Rodrigo Amarante. Aliás, essa minha fase de ouvir os mesmos CDs não passa já há pelo menos seis meses. ;-)

quarta-feira, outubro 26, 2005

Reflexos de 'Tiros em Columbine'




Finalmente, com dois anos de atraso, assisti hoje –ao acaso proporcionado pela programação televisiva— o documentário ‘Tiros em Columbine’, de Michael Moore.

Não haveria tema melhor para a semana em que aprovamos a continuidade da venda de armas no país. Tenho lá minhas ressalvas quanto ao cineasta –a mesma que mantenho em relação a qualquer mensagem panfletária. Mas, de fato, ‘Tiros em Columbine’ têm momentos brillhantes que, para mim, superam ‘Farenheiht 9/11’, do mesmo diretor.

Talvez essa impressão seja mais emotiva que racional. Provalvemente, venha de minha empatia com o senhor Moore no que tange à venda de armas.

No Brasil, diferentemente dos EUA (graças à Deus), a venda de armas e munição oficial não é tão simples a ponto de conseguirmos cartuchos de 9 mm no Wall-Mart. Ainda não.
Mas os mesmo entusiastas do ‘Não’ à proibição do comércio de armas de fogo já falam em rever o Estatuto do Desarmamento e reclamam do endurecimento das regras do porte –entre elas, a da obrigatoriedade do teste psicotécnico a partir de dezembro deste ano àqueles que desejam ‘se proteger’ com ajuda de um ‘trêsoitão’.

Talvez os muitos brasileiros que têm adoração pela ‘América’ ou por qualquer droga que venha da terra de Tio Sam possam, no futuro, ‘contribuir’ para que nós, tupiniquins, tenhamos um destino como os dos legítimos ‘americanos’.

Em relação ao medo, o referendo das armas provou que estamos nos aproximando cada vez mais da neurose americana.

Lá, qualquer cidadão branco pode ter uma arma conforme prevê o artigo 2º da Carta Magna do país. Aqui, aprovamos a venda de armas aos ‘civis’ que querem proteger suas famílias da crescente ‘onda de violência’. Como lá, optamos por manter esse ‘direito’ de defesa à paranóia. Quem sabe um dia julgaremos condescendente o Brasil invadir outro país e destruí-lo para defender algum direito. Avisemos desde já: não tentem tomar nossa Amazônia, estrangeiros!!

Por enquanto, diferentemente dos americanos, a maior ameaça inimiga não são os terroristas do além-mar. Eles estão mais perto. São os pobres do além-muro e das cercas-elétricas, separados dos ‘cidadãos de bem’ que poderão se armar. Talvez, quem sabe, com uma ajuda futura do Wall-Mart.

Do meu lado, meu filho Henrique de quatro anos de idade também quer opiniar. Quer que eu escreva aqui ‘“NÃO” às armas no Brasil’. Acredita que as palavras são mágicas e teriam neste espaço a força da escolha em uma urna eletrônica. E com meus os sonhos tão vagos, mergulho no dele e projeto uma humanidade menos ‘protegida’. Ao menos, não pelo poder de fogo de uma arma.

terça-feira, outubro 25, 2005

Antiácido contra Maluf

O povo sempre soube (ou pelo menos parte do povo). Mas foi preciso o suposto neo esquecido Paulo Maluf ser preso para fazer o médico de "tão nobre político" (sic), Sérgio Nahas, desconfiar da sanidade mental do paciente-- provavelmente, segundo palavras de Nahas, acometido por uma doença do comportamento que levaria tal sujeito a dizer "coisas sem nexo".

Engraçado, acredito que assim como eu milhares de brasileiros já haviam chegado à tal constatação, mesmo não tenho formação acadêmica em Medicina ou qualquer especialização na área das Ciências Biológicas.

As evidências vinham de muito, muito tempo. Raciocinem comigo: Maluf alegou a vida toda não ter contas bancárias no exterior. Embora pelo menos uma dezena de documentos provasse o contrário.

Outra (essa é clássica): Maluf prometeu enterrar sua carreira política se seu pupilo, Pitta, não fizesse um bom governo. Depois se esqueceu. Isso porque gravações da campanha atestaram a tal declaração.

Esquecimento? Alguma síndrome de "qualquer-coisa"? Ou simplesmente falta de caráter mudara de nome? Ah, se todo distúrbio como o de Maluf pudesse ser tratado com algum balbitúrico qualquer. Faltaria Gardenal a muitos lá no Congresso!!! Tô certa ou tô errada?

;-/

segunda-feira, outubro 24, 2005

Ecos do ão*



Após meses de espera e ‘silêncio’, volto aqui. Não consegui me manter calada. Indignação.


Sintomático do medo, o ‘não’ venceu hoje com folga o referendo sobre as armas e deixou-me entristecida. Desde o início fui a favor do ‘sim’. Talvez porque não tenha assistido a campanha das frentes na TV. Venceu o marketing.

Há inúmero motivos que me levaram a votar o ‘sim’. E apesar da vitória do ‘não’ eu terei minha consciência tranquila quando, eventualmente, for informada que mais uma criança morreu por disparo acidental dado pelo irmãozinho que achou a arma –pensada secreta pelo pai das vítimas. Ou quando uma garota de cinco anos de idade for novamente assassinada por um disparo de arma de fogo –diga-se, legalizada—por um insandecido no trânsito de São Paulo.

Fica uma tristeza menos pelo resultado prático em si, mais pelo que ele aponta. Cada vez mais nos distanciamos do outro. E no país das maravilhas, ter uma arma pra matar ‘ladrão’ é permitido –do ponto de vista da população. Se bandido não é gente, por que não instituímos a pena de morte de uma vez?

Sim, essa declaração poderia estar em alguma campanha da frente contra as armas. Têm alguns elementos básicos para isso. Pode emocionar corações sensíveis, coloca o interlocutor em situação desconfortável, enfim.
Mas o referendo nasceu morto. Sem mudanças e apontando para o possível sepultamento de outras iniciativas como esta –altamente dispendiosa e que consumiu R$ 274 milhões do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), apesar das declarações de entusiastas (alguns derrotados) como Aldo Rebelo (PcdoB) a favor da consulta popular.


Foi um final de semana triste. Da prisão, saiu Maluf. A queda do avião na Nigéria matando 117 pessoas. E os ecos do ão vão se espalhando como um furacão –como o Wilma que atingiu o Caribe mexicano deixando pelo menos seis mortos.


E por aqui eu sigo, no ano mais estranho da minha vida. Aquele em que me tornei ‘vizinha’ de um personagem envolvido em escândalo nacional (cuja história os tantos ‘ãos’ sucessivos já quase seputaram) e deixará cicatrizes até nos meu ombro, tão novo e já tão gasto.




*É o nome da primeira faixa do CD Falange Canibal, de Lenine

quinta-feira, outubro 06, 2005

Enquanto o ombro não melhora...





Passo os dias a pensar: porque escolheste o jornalismo, Stela?
Será que aos oito anos de idade não tinha nada melhor pra fazer?

quinta-feira, setembro 08, 2005

In my shoulder...



Permanecerei ausente por algum tempo.
Odeio ser biológica porém emocional.

Quando a dor acabar, eu volto.
Confiarei meu ombro aos bisturis...

domingo, agosto 28, 2005

Minúsculo Dicionário de Latim

Quer impressionar? Bom, ainda na linha do aprendizado de "Como ser Cool em 10 passos", decidi tornar público trechos de meu secreto dicionário de latim, herdado da não menos cool mariposa apaixonada pelo espaço unibanco.

Como sou egosísta, não coloquei o minúsculo dicionário em sua totalidade. Não há novidades (especialmente aos da arte do Direito) e alguns chavões latinescos foram inevitáveis.
Engraçado foi descobri que as expressões soam tão atuais para o momento político da atualidade.

Ah, e não se esqueçam da missa de sétimo dia da "Velhinha de Taubaté". Luiz Fernando Veríssimo mandará os santinhos.


Lá vai!!

Aquila non captat (ou capit) muscas, "A águia não cata (ou pega) moscas", isto é, uma pessoa importante não se incomoda com minudências.

Audaces (ou Audentes) fortuna juvat, "A sorte ajuda os audazes" (Virgílio, Eneida, Livro X, 284).

Audi, vide, tace, si vis vivere in pace, "Ouve, vê e cala, se quiseres viver em paz".

Brevis esse laboro, obscurus fio, "Esforço-me por ser breve (e) fico obscuro". Palavras com que Horácio (Arte Poética, 25-26) desaconselha aos escritores lacônicos.

Caeci sunt oculi, si animus alias res agit, "Os olhos são cegos, se o espírito se ocupa de outras coisas".

Cogito, ergo sum, "Penso, logo existo". Tradução latina de Je pense, donc je sui, afirmação de René Descartes...

Conscia mens famae mendacia risit, "A boa consciência ri-se das mentiras da fama",

Finis coronat opus, "(É o) fim (que) coroa a obra".

Libertas quae sera tamen, "Liberdade ainda que tardia".

Magister dixit, "O mestre (o) disse". Frase proverbial entre os antigos, popularizada pelos comentadores medievais de Aristóteles, para quem a opinião de seu mestre não admitia réplica.

Mutatis mutantis, "Mudado o que deve ser mudado".

Natura non facit saltum (ou saltus), "A natureza não dá saltos". Aforismo para enunciar que não existem, na natureza, espécimes ou gêneros completamente separados, havendo sempre um elo que os liga.

Natura sarat, medices curat, "O médico trata, a natureza cura".

Ne sutor supra crepidam, "Não (suba) o sapateiro acima da sandália".

Nihil sub sole novum, "(Não há) nada de novo sob o Sol" (Eclesiastes, Prólogo, na tradução latina da Vulgata).

Non vivas ut edas, sed edas ut vivere possis, "Não vivas para comer, mas come para viver".

Oculus domini saginat equum, "O olho do dono engorda o cavalo". Também se usa: "O olho do dono engorda o porco".


Oratio vultus animi est, "O discurso é o rosto da alma".

O solitudo, sola beatitudo, "Ó solidão, a única felicidade".

Pro Brasilia fiant eximia, "Pelo Brasil seja feito o melhor".

Res, non verba, "Fatos, não palavras". Emprega-se para dizer que uma situação exige ação, atos e não palavras.


Responsio mollis frangit iram, "Uma resposta branda desvia o furor".

Sapienti sat! "Ao sábio, basta!", isto é, "A bom entendedor meia palavra basta".

Tantum homo habet de scientia quantum operatur, "O conhecimento que o homem possui é só aquele que aplica". São Francisco

Timeo hominem unius libri, "Deve-se temer não quem lê muitos livros, mas quem lê muito um só livro".

Vox populi, vox Dei, "Voz do povo, voz de Deus".

sexta-feira, agosto 26, 2005

Segue o Seco

A estiagem parece ter chegado para ficar. A cortina imposta pela nuvem de fumaça que paira no atmosfera encobriu o sol e tornou possível observá-lo com maior segurança à retina. O ar seco deu aos céus do interior os tons da capital.

Durante o trajeto para a escola do meu filho, hoje, pude observar cinco focos de fumaça apenas sobre o perímetro delimitado pelo meu raio de visão. E mesmo de longe, senti-me sufocada.

Lembro-me perfeitamente quando me dei conta da poluição pairando sobre o céu. Foi há 14 anos, durante férias em Campos do Jordão com meu pai.

Empolgada com a possibilidade de ver de cima outras cidades do Vale do Paraíba, fomos a um dos picos mais altos da cidade (lugar cujo nome não me lembro agora). A chegada ao cume veio acompanhada da decepção. Também no inverno, o céu estiado estava encoberto dessa névoa que acostumamos a ver e que impedia a visão das cidades baixas.

Naquele momento tive nojo de respirar um ar assim, tão denso. Pensei como seria possível viver debaixo dessa atmosfera e até quanto nós levaríamos para “matar” todo o oxigênio do mundo. “Ainda bem que temos a Amazônia!”, pensei baseada na minha visão simplista e adolescente.

Por sorte, meu pai me elucidou sobre os efeitos da chuva sobre a seca. E eu, que tantas vezes reclamara das tempestades, desejei pela primeira vez ver o céu chorar copiosamente como naqueles documentários sobre floresta tão interessantes à época.

terça-feira, agosto 23, 2005

Off The Road

Restou um gosto entre o azedo e o amargo. Como uma comida mal digerida ou o dia seguinte a alguns drinks bem tomados.

Depois do susto, o surto. Na hora, a carga química desencadeada pelo o que se transformaria em trauma impediu qualquer análise racional.

Somos seres biológicos. Frágeis. Fortes. Muito mais do que gostaria ser. Preferiria ser votátil, etéreo –porém com um “que” de densidade dos espectros de filme B dos anos 50.

A mente, no entanto, tem vontade própria. E mesmo que queira, talvez aquela imagem nunca saia da minha cabeça. Daqui um tempo deve ser ela, suponho, trancafiada em alguma parte do subconsciente. E apareça apenas naqueles estágios entre a vigília e a lucidez.

Certamente por enquanto continuarei vendo aquela bermuda laranja. Iluminada à esquerda pelos faróis do carro. O corpo –que sabemos hoje estar vivo por uma força que só pode ter o nome de Deus— chocando-se contra a lateral direita do carro. O pior som já ouvido por mim. Nossos gritos. O pedido de socorro. Uma insanidade momentânea –poderia ser alguém conhecido?, cheguei a pensar. A incerteza. “Estaria ele embriagado, possuído, vivo, alterado?”. “Por quê teria se lançado de peito aberto na frente do carro?”. A tristeza do momento. A felicidade em encontrá-lo razoavelmente bem no dia seguinte (salvo pela osseatura que compõe o tornozelo). O alívio. E, novamente, a imagem que interrompeu gargalhadas falsamente protegidas no interior do carro. O gosto azedo. As bermudas laranjas.

domingo, agosto 21, 2005

Em frente ao palco

Começou com uma espécie de pitada de ciúmes. Logo de cara, uma dúzia de adolescentes na minha frente. Coisa de quem está acostumada a ver o show de perto. No final, a gente acaba se achando dono do lugar. Afinal, gostamos a mais tempo do artista e comentários do tipo: “sim, ele tem outras músicas bacanas além de Segundo Sol” são inevitáveis. Coisa de gente egoísta e mesquinha. Que não combina com as letras daquele que admira.

Depois de duas horas de espera, o show finalmente começa. Não é comum tanto atraso. Estranho, além do tempo, a quantidade de pessoas que lotam o ginásio atrás de mim. Entendo. Afinal, música boa é pra tocar na rádio também. Do contrário, iria contra minhas próprias convicções a respeito do pop. Popular é bom. Quem dera se todos pudessem sentir poesia na alma.

Aos poucos, o egoísmo é substituído por uma sensação inebriante de felicidade. O coro quase cala a voz do artista para quem escolhe a proximidade do palco (onde o som do ambiente nunca é o melhor –deficiência facilmente esquecida pelo prazer de compartilhar a expressão do artista, sempre tão sensível, performático).
Mesmo que “As Letras Mais Azuis” ainda não seja a mais cantada. E que o artista esteja particularmente melancólico e um tanto quanto sofrido naquele dia, essencialmente triste.

Sim, mais uma vez eu estava lá. Compartilhando sua música, poesia e, por que não, sua vida e sentimento. Espero ter, juntamente com os outros, ajudado a preencher o vazio daquele que ajuda a embutir lirismo em nossas vida. E o egoísmo do início ao final havia se esvanecido. "A questão é sermos razoáveis".

Rodapé: Na etimologia “fanatismo” pressupõe a ausência de lógica. Se for assim, não sou uma fanática. Há muita razão em admirar quem nos emociona. Ou não?

quarta-feira, agosto 17, 2005

Fim do Inferno Astral




2005 tem sido um ano estranho. Não é só a política que parece ter tomado um rumo enlouquecedor. Tudo está muito esquisito também no meu universo particular (bom, menos que na vida do Marcos Valério, isso é óbvio).

A mudança começou logo no dia 13 de janeiro –dia do aniversário do meu filho Henrique. Foi nesta data que senti com toda força do mundo aquela dor FDP no ombro. Ela foi o marco de uma reviravolta em uma vida aparentemente pacata --conforme a pauta do dia--, com direito a noites em claro na fila do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), crise depressiva, freela com a Scheila Carvalho (quem diria?), novo corte, cor e ‘textura’ de cabelo, idas e vindas pra São Paulo etc.

De um dia para o outro, eu deixava --por imperativos do destino—a ocupação de repórter (e freqüentadora de academia de ginástica nas horas vagas) para outra não menos sofrida. A de dona-de-casa (essa sim, uma total sedentária).
Em princípio, fui ‘engessada’ pela dor e passe quase dois meses com o braço inerte, enlouquecendo menos graças à HBO e ao Cinemax. Dois meses sem dormir e tendo que provar ao empregador a origem do problema, fincada ao longo de mais de dois anos de trabalho semi-escravo.
Depois, uma disposição natural –porém quase ‘ópia’ (sic)— fez com que eu me interessasse por decoração e acabasse por pintar paredes e instalar vasos (na verdade, foi uma maneira de eu me vingar de meu próprio ombro).

2005 tem sido um ano difícil. Sem grana. Porém, estranhamente, um ano muito mais equilibrado e com menos dívidas –forçosamente enxultas pelo orçamento minguado (dentre as contenções fui obrigada a incluir o pacote HBO, meses atrás).

Desde fevereiro, meu filho Henrique tem sofrido constantes crises de bronquite, rinite e muitos outros ‘ites’ que deveriam permanecer apenas como sufixo na página dos dicionários –e deixar minha família de vez.

Apesar de todos os contras, 2005 também tem sido –estranhamente, mais uma vez— bacana (na medida do possível).
Reencontrei prima (dá-lhe Larinha) e amigos perdidos, o deleite de olhar para dentro e de escrever voluntariamente (sem ter um editor me ligando a cada minuto ou sob obrigação de cavar a melhor pauta possível). Fiz amigos blogueiros, assisti ao filme que esperava há tanto, passei muito mais tempo com minha família, redescobri o gosto de fazer bolos de chocolate à tarde e a vontade de estudar ‘de verdade’.
Dediquei-me ao inglês, tentei em vão ingressar na USP e a curar algumas feridas aparentemente incuráveis.

Agora, recentemente chegada aos 28 anos, descobri que 2005 tem sido um ano muito, muito diferente. Estranho? Sim. Incerto? Muito. Mas sem dúvida um ano em que meus sonhos têm enchido de cores e esperança essa vidinha antes tão monocromática.

Imagem: Skrull de Andy Wahrol

sexta-feira, agosto 12, 2005

Boa surpresa



Enquanto revirava uma coleção de revistas Caros Amigos, encontrei uma doce surpresa.
Como a caixa de CD em que tropecei tempos atrás, o achado --um encarte do poeta Manoel de Barros, com belíssimas ilustrações do mesmo-- encheu meu dia de alegria.

São fragmentos a então inéditos (escritos em 99), do 'poeta passarinho', decodificador da simplicidade do Pantanal e do cotidiano em lirismo.

Transcrevo aqui:

Dois fragmentos da
Pequena Biografia Minha para
Enfeitar a Noite de Meu Bem

Eu teria 15 anos
A fala torta dos tontos, das crianças e dos bêbados,
me encantavam mais do que a fala dos príncipes.
Outra: as pobres palavras que moravam nos fundos de
uma cozinha, tipo lata, borra, cisco, -me encantavam
mais do que as palavras ditas nos sodalícios.
Também meus alter-egos só eram pobres-diabos: tipo
Bola Sete, Mário Pega Sapo, Bernardo da Mata, Mané
Passo Triste, Pote Cru, etc.
Todos seriam bêbados ou bocós.
Um dia alguém me sugeriu que adotasse um alter-ego
respeitável, tipo um presidente, um almirante.
E eu respondi: mas quem ficará com os meus abismos
se os pobres-diabos não ficarem?




Ainda sobre Manoel de Barros
Admirador de Luiz Carlos Prestes, o poeta Manoel de Barros contou ter chorado de desgosto ao ver o político enaltecer Getúlio Vargas em um discurso que esperava há tanto. Não se conformou pelo fato de Prestes, que teve a mulher entregue a condenação certeira da morte por Getúlio ao governo nazista, 'virar a casaca', como diria a sabedoria popular. Abandonou o Partido Socialista, a quem servira, desde então.

Hoje, acredito que há pelo menos uma centena de petistas (e milhares de ex-simpatizantes como eu) que reviveram o sentimento do poeta ao ver Lula apresentar seu discurso populista de Getúlio. É de sentar e chorar.

Rodapé
Nas coisas práticas do dia-a-dia, espero ganhar uns trocados pra matar minha sede de consumo.

A lista (que pode aparecer esdrúxula) inclui um par de botas de plástico --de preferência azul royal, pra combinar com o céu-, daquelas, necessárias para certos serviços domésticos, como lavar o quintal, uma tesoura de jardinagem.

Por último, o objeto do desejo, um par de óculos rayban modelo seriado 'Chips'.
(Esse será mais difícil já que o preço está na casa dos R$ 650). Também preciso de um vinho. Não qualquer um. Um dos bons. Logo, caro.

E ainda: os 'novos' lançamentos do ColdPlay, Los Hermanos, Pato Fu, Foo Fighters, além de convites para dois shows programados para os próximos 15 dias em São José.

quarta-feira, agosto 10, 2005

Colcha de retalhos


Pode haver vários motivos para esses meus insights repentinos da infância.

Talvez seja pelo encontro diário e permanente com o universo infantil propiciado pela minha “cria”, hoje com quatro anos de idade. Ou a necessidade –viabilizada pelo ócio criativo -de montar essa colcha de patchwork, que é a própria existência.

Como um ‘deja vù’, as cenas têm vindo claramente à minha memória. De repente, quando menos se espera, puf! Lá estão elas.
Desde que começaram essas cenas já me fizeram entender algumas coisas importantes sobre minha vida. Foi lá, e não no pretérito recente, que achei minha fixação pelas cores. Sempre as tive.

Todas minhas lembranças, mesmo as mais tristes, são extremamente matizadas. Aliás, são elas, as cores, que vêm primeiro à mente.

Lembrei-me, ao acaso, do chão do banheiro da casa de um quarto onde morei até os cinco anos de idade. Gostava daquele piso, rústico, vermelho-terra, em contraste com os azulejos extremamente brancos –fruto da fixação, à época, de minha genitora pela limpeza.

Foi nesse ambiente, durante um banho (já aguçador de minha criatividade), que tive por volta dos quatro anos, suponho, a idéia de um slogan para o já ‘falecido’ inseticida ‘Detefon’. “´Detefon Mata Tudo´ seria legal”.
Anos depois, coincidentemente, minha idéia virou slogan mais popular da marca. Possivelmente, acho que o “Detefon Mata Tudo” passeava em outras cabeças fruto do inconsciente coletivo.

Lembro-me ainda dos lenços usados pela minha mãe para segurar os fios de cabelo ainda pretos também naquele tempo. Havia dois, basicamente. Um azul e outro vermelho.

Naquele tempo, não sei ao certo porquê, sentia uma solidão profunda, quase irreparável. A mesma me acometeu poucos anos depois. Transformei-a então em combustível para uma realidade paralela. Imaginava ser Robison Cruzoé. A ilha era o enorme quintal da minha casa (outra, melhor que a anterior de um quarto apenas). Lá era o meu mundo.
Com pedaços de lençóis velhos –um deles amarelo canário, muito desbotado— montava minha cabana para proteger-me das tempestades da “ilha”. Levava até suprimento para meu refúgio. E quando cansava, dava 30 passos e estava no alento de meu quarto.

Meu fiel companheiro, o gato Fofão, realmente cego de um olho (aproveitava do fato para transforma-lo em pirata), era quem me consolava. Passei algumas tardes cochilando estirada no quintal feito o homem de Leonardo da Vinci com o Fofão deitado sobre minha barriga.

Alheio a minha contemplação das nuvens brancas –facilmente transformadas em barcos que Cruzoé via passar de longe— o felino oferecia seu silencioso companheirismo. Poucos anos depois, Fofão fora assassinado em uma ‘chacina’ de gatos na minha rua. Estava eu tragicamente sozinha.

Intra-uterino
Aos 11 anos, passei quase um mês inteiro de férias na casa dos meus tios, em Poços de Caldas (MG). Tenho lembranças sensacionais dessa época. Desde os desenhos com cola colorida do Clube da Alcoa até o mais prazeroso de todos os passeios: o banho no Termas com água “de vulcão”, como pensava à época (aliás, tinha alguns pesadelos com uma erupção vulcânica soterrando a pequena cidade).

Aquele água liguenta e fétida pode ser repugnante para alguns.
Mas lembro-me bem da sensação de plenitude de mergulhar naquela água amarelada. O líquido enchia até a borda das banheiras marcadas pelo uso contínuo por um fio marrom que ia da torneira até o ralo.

Em um desses banhos –enquanto imaginava ser uma dançarina dos anos 30, idéia nascida provavelmente pela decoração retrô das Termas— tive um ‘deja vù’.
Vi-me nadando em um líquido semelhante. Quando abria os olhos, via uma cor avermelhada –como vemos ao ‘mirar’ na direção do sol com as pálpebras ligeiramente fechadas.
Naquele momento tive certeza de ter chegado o mais próximo do calor de 37 graus centígrados do útero materno, deixado para trás no dia 14 de agosto de 1977.

Utopia e Inspiração


Prelúdio
“Acabo de virar as costas e subir os degraus frios de metal. Deixo-o para trás em meio a uma pequena multidão. Em segundos, procuro sua imagem mas ela não está mais lá. Nunca estivera, teria pensado se não fosse pela marca que sua luz deixara em minha pele”.

Puderam, depois de tanto tempo, respirar o mesmo ar. Desta vez, denso pela alta umidade relativa do ar que aos poucos ganhara forma de gotas.
Ainda soltas na atmosfera, estavam as partículas de almíscar, madeira e sândalo que dela cobriam a derme. Havia escolhido o odor com precisão cirúrgica –deveria ser um perfume indefinido, desses que a gente sente apenas uma vez na vida.

Ficara ela confusa. Teria exagerado ao derramar em si a essência escolhida para a ocasião? Afinal, ela própria ficara por horas com o cheiro inebriante colado em suas narinas. Teria ele usado “de seu melhor sentido” para perceber tamanho cuidado da alma feminina? Teria ele pensado que os olhos estavam demasiadamente pintados (apesar de ser uma prática diária) ou ainda, que esla teria envelhecido demais?
Como sempre, ela se culpara pela forma que gastara seu tempo ao lado daquele que fora, de longe, seu companheiro e ao mesmo tempo parecia nunca ter saído de seu lado.
Teria ela, mais uma vez, cometido o pecado de galrear defronte a um ser tão taciturno? Teria ele, por esse motivo, perdido o encanto que ela pensara ser somente literário?
A conversa foi rápida e quase inócua (apesar de dar a ela uma nova possibilidade profissional).

Mesmo com o pouco tempo, fora suficiente para que ela pudesse fitar seu olhar novamente. Não esquecera desse par de globos brancos coloridos por uma íris da cor castanha-amendoada (definição que ela mesmo acabara de criar).

Como se desenvolvessem um R.E.M (Rapid Eyes Movement), ele desviava o olhar cada vez que o assunto discutido em palavras soltas ao vento úmido poderia ter sido grafado em Times New Roman. “Talvez fosse melhor se estivessem grafadas”, pensara ela.
Por três vezes, quase ingênuas, ela tocara em seu corpo, entre um gole de café e outro.

Também fora o suficiente para que sentisse a textura dos pêlos de seu braço –e desejasse que não houvesse entre eles nenhuma barreira além deles (pensamento discorrido sobre efeitos hormonais).

Pode ver como ele gesticulava as mãos, incrivelmente rosadas, postadas sobre a mesa. Pensara naquele momento que essa era a melhor forma de mexer as mãos ao falar –gestos tão comedidos, como todas as mãos masculinas deveriam ser.

Aos poucos, as gotas de chuva foram dando cor aquele momento de separação. Não pareciam ter brotado de um céu cinzento. “Foi uma pena terem surgido tão tarde”, pensara ela.

Quisera vê-las caindo compulsivamente sobre as pálpebras já distantes daqueles olhos que eram os mais doces já vislumbrados em sua efêmera existência.

sexta-feira, agosto 05, 2005

... Volto logo


Vou pra praia e volto na segunda. Essa massa de ar seco deve servir pra alguma coisa.

No mais, sem novidades. Tive um sonho estranho hoje envolvendo sanguessugas e um amigo que virava o Johnny Depp e depois desaparecia em meio aos bichos repugnantes. Essa coisa de assistir filme infantil (e misturar o novo Wonka ao mundo de Desventuras em Série) ainda acabará comigo... rs

Inté. ;-)

quarta-feira, agosto 03, 2005

Discovery e Zé Dirceu

Gambiarra espacial
Deu hoje na agência Reuters: O astronauta Steve Robinson consertou um pequeno –porém importante— defeito na nave Discovery. De próprio punho, Robinson removeu um par de tiras soltas da barriga da nave “num conserto inédito na proteção antitérmica de um ônibus espacial”, segundo a Reuters.
A saliência, de 2,5 centímetros, era suficiente para causar o superaquecimento da nave no retorno à Terra, programado para segunda-feira.

A ‘gambiarra’ do astronauta aconteceu a 352 quilômetros da Terra, onde o ônibus Discovery está atracado à Estação Espacial Internacional.
As palavras de Robinson durante o serviço soaram ao mesmo tempo ingênuas e aliviadas.
"Estou agarrando, puxando, e está saindo muito facilmente. Bonito. Legal", disse ele por rádio ao retirar o material que estava pendurado nas frestas entre as placas antitérmicas da parte de baixo da nave. "Parece um grande paciente sendo curado."

Segundo a Reuteurs, a “Nasa admite não saber se as tiras salientes são um risco para a nave, mas, depois de dois anos e meio e 1 bilhão de dólares gastos em melhorias na segurança dos ônibus após o acidente de 2003 com o Columbia, a agência não quer mais dar chance ao azar”.

Programa para E.T.
É estranho como apesar de todos os avanços tecnológicos, para leigos como eu, a impressão que se tem é que engantinhamos na conquista pelo espaço desde a ida do homem à Lua, em 69.
Ao mesmo tempo, são os satélites que giram em torno desse nosso planetinha que nos conectam ao mundo todo. Temos a TV por satélite, telefone por satélite, internet por satélite.
Ainda assim o nosso VLS explodiu (aquele que incendiou antes do lançamento em Alcântara (MA) matando 21 técnicos), o Columbia pegou fogo em 2003 levando sete homens e mais de um bilhão de dólares.
Desta vez, o Discovery foi construído, consertado, ‘reconsertado’, ao custo de mais alguns bilhões de dólares.
Será que de suas tevês os alienígenas zombam de nós?

No Brasil
Robinson pode não ser, mas tem alma de brasileiro. Qualquer um nascido na terra revelada ao mundo por Pedro Álvares de Cabral teria feito o mesmo. Os suíços podem ter o canivete. Mas nós temos a audácia. Além da gambiarra, é claro. ;-)

Enquanto isso, no fabuloso mundo de Brasília
Bom, Zé Dirceu diz que não é arrogante. Eu bem sei (já que o entrevistei pessoalmente durante a última campanha de Lula).
Diz que não sabe do esquema Portugal Telecom. Roberto Jefferson, por sua vez, faz cara de coitado. E Lula não diz nada.
Será que de suas tevês os demais terraquianos zombam de nós?

Ainda na Comissão de Ética, Zé Dirceu diz que viveu honestamente na clandestinidade.
Depois disso, ir para os Estados Unidos pela fronteira do México virou café pequeno. Se pro Zé é, pra Sol também deve ser honesto viver na clandestinidade.

Outra do Zé: seja lá o que fez e pelo o que será responsabilizado, o ex-ministro deve se apoiar na Justiça para livrar a cara.
Isso porque dificilmente será penalizado pelo “seja-lá-o-que-for” na Câmara. Se era ministro, não pode ter incorrido em falta de decoro parlamentar.

Ainda eles
Alguns deputados podem não ter cometido infrações que sejam alvo de investigações.
Mas bem que muitas vezez faltam com o “decoro do parlamentar”. Explico: quantas vezes você viu algum parlamentar se esquecendo ou confundindo durante os “interrogatórios”? É preciso decorar melhor o texto pra se destacar na peça (teatral).

terça-feira, agosto 02, 2005

Zé Dirceu --o camisa 9

Pipoca, refrigerante, uma mantinha pra esquentar esse frio.

É assim, como quem espera um jogo de final da Taça Libertadores, que aguardo o depoimento do deputado José Dirceu (PT) na comissão de ética, daqui a exatos seis minutos.

Que pena meus vizinhos não terem tanto entusiasmo pelo programa. E essa maldita dor de garganta que me assolou desde anteontem talvez me impeça de gritar: Goool!

quarta-feira, julho 27, 2005

Ainda mais chocolate

Mesmo com meu vínculo emocional com a primeira versão de “A Fantástica Fábrica de Chocolates” saí satisfeita do cinema.
Não esperava por uma decepção. Tim Burton não poderia deixar de ser sensacional, de um dia para o outro (basta lembrar, só a título de exemplo, de “O Estranho Mundo de Jack”, “Eduard Mãos de Tesoura” e “Peixe Grande”). E confiava na versatilidade de Johnny Depp (cada vez gosto mais dele). O ator encarnou Willy Wonka com maestria e não fez feio perto de Gene Wilder (não menos adorável).

O remake é mais bem acabado que o primeiro filme. A história tem começo (com as barras Wonka sendo embaladas em uma fábrica estranhamente automatizada), meio (flash-back do sr. Wonka “Jackson” sobre a infância e o encontro com os Oompa-Lumpas) e fim bem explicados –este um pouco diferente da versão ‘original’ (não dá pra contar aqui por motivos óbvios) e que entra no livro subseqüente de Roald Dahl, “Charlie e o Elevador de Vidro”.

A estética peculiar aos filmes de Tim Burton é mais uma vez surpreendente. Às vezes retrô mas sempre atual em razão da tecnologia bem empregada. A casa tombada e com telhado danificado de Charlie é um dos pontos fortes, assim como a “transição” da cinzenta cidade onde está a fábrica para o mundo colorido de Wonka (semelhante ao “O Mágico de Oz”).

Quando à trilha sonora, fui impedida de ouvir as músicas originais por imperativo do Cinemark de Jacareí (cidade onde vivo). A única sala destinada à obra só a exibe dublada. Quero mais!

Como parecer cool?

Com o intuito educativo, criei essas 10 regras para que você se encaixe facilmente ao mundinho “hype”. Quem sabe não vira um livro de auto-ajuda, tipo “Como ser 'cool' em 10 passos sem gastar nada”.

1. Expressões em latim impressionam. Nem que seja Malum vas non fragitur (Vaso ruim não quebra).

2. Visite museus pela internet. Entre em comunidades no Orkut sobre filmes iranianos.

3. Faça o mesmo com livros. Pesquise resenhas e saia por aí dizendo que leu essa ou aquela obra. De preferência de autores que ninguém conhece. Lembre-se: auto-ajuda não conta. Finja nunca ter lido Zíbia Gasparetto.

4. Tenha um visual falsamente moderno Isso é possível com uso de tintas azuis temporárias e piercings de pressão. Mas não abuse. Senão parecerá pop demais. (Vale ainda comprar um All Star cor branca).

5. Use expressões como “pequeno burguês” e outros clichês literários. Mas não abuse: “Há mais sobre o céu e a terra...” já está muito, muito batido. Mesmo para um chavão.

6. Se morar em São Paulo, vá (ou pelo menos passe em frente) ao Espaço Unibanco (ou Uniban‘cool’ para os íntimos).

7. Torça o nariz para qualquer coisa popular. Disfarce seu amor pela Jovem Guarda. Cool que é cool só ouve jazz, trance, coisas do gênero. Se gostar de MPB, é necessário provar sua fixação por Chico Buarque. Não basta só conhecer “A Banda”, mas ter lido (nem que seja a resenha) de algum livro do Chico.

8. Óculos grandes são imprenscindíveis. Ande como se estivesse flutuando, faça cara de estrangeiro quando, eventualmente, estiver no ponto de ônibus.

9. Ah, e se você andar de ônibus (porque não tem outro meio de transporte), justifique declarando que trabalha em uma pesquisa de campo sobre as relações interpessoais no transporte público (a viagem é para coleta de dados empírica).

10. Aprenda o mínimo de francês. Não vale recorrer ao sucesso do início dos anos 90(Jordy, aquele moleque que cantava uma musiquinha enjoativa) e nem aos termos já incorporados ao vocabulário brasileiro (brioches, sutien ou abajour).

domingo, julho 24, 2005

O Jogo da Amarelinha - Capítulo 7

Tradução de Fernando de Castro Ferro.

Toco a sua boca, com um dedo toco o contorno da sua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se pela primeira vez a sua boca se entreabrisse, e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar.

Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que a minha mão escolheu e desenha no seu rosto, e que por um acaso que não procuro compreender coincide exatamente com a sua boca, que sorri debaixo daquela que a minha mão desenha em você.

Você me olha, de perto me olha, cada vez mais de perto, e então brincamos de cíclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam uns dos outros, sobrepõem-se, e os cíclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem com um perfume antigo e um grande silêncio.

Então, as minhas mãos procuram afogar-se no seu cabelo, acariciar lentamente a profundidade do seu cabelo, enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragância obscura.

E se nos mordemos, a dor é doce; e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu sinto você tremular contra mim, como uma lua na água.

Júlio Cortázar

sábado, julho 23, 2005

Um chá pra curar essa azia

Tráfico no lamaçal
***Beira-Mar enfim parece estar no lugar certo. Acomodado em Brasília (sabe se lá até quando), depois de ser transferido pela Polícia Federal (por conta de um pedido de seu advogado), ele tem muito a aprender sobre crime organizado lá na capital do Brasil.

****O governador tucano de São Paulo, Geraldo Alckmin, bem que nega masdeve estar aliviado com a transferência do ex-bandido número um do país (digo 'ex' porque, guardadas as devidas proporções, acho que há outros até piores). 2006 está quase aí.
Imaginem se, por imperativos do “destino”, Beira-Mar conseguisse na “penitenciária de segurança máxima” de Presidente Bernardes (SP) o mesmo feito de Bangú (RJ), quando uma rebelião liderada pelo próprio contabilizou quatro mortos em 2003?


Rock´n´pagode
****Tudo bem. Acho ótimo o fato de o rock ser a moda do momento. Mas há coisas tão intragáveis na “nova música brasileira” quanto ouvir a letra da nova (?) música machista do Belo. Pseudo-filosofia sobre o fim do mundo, frases feitas, refrões mais que previsíveis e band boys travestidas de bandas de rock. Deus do céu.
Dá até saudades dos sucessos do antigo Só Pra Contrariar (sim, lembram-se daquela não menos horrorosa “To fazendo amor com outra pessoa. Mas meu coração vai ser pra sempre seu...”). Xô, desgraça!

Chocolate Factory
****Finalmente, assisti ao tão esperado remake da Fantástica Fábrica de Chocolates. A overdose do produto (que eu e o filho amado comemos durante todo o filme), no entanto, impedem-me agora de dissertar sobre minhas impressões sobre a refilmagem.
O xixi também prejudicou. Em vez do meu pequeno (que sempre me arrasta ao banheiro nas sessões –sobretudo nos momentos de maior tensão dos filmes infantis), fui eu que não pude conter o andamento natural e fisiológico do meu organismo após ingerir 500 ml de Coca-Cola antes de me sentar nas poltronas. Volto ao assunto depois que digerir tudo aqui, literalmente. ;-)

sexta-feira, julho 22, 2005

Notícias

Embora esteja acompanhando as notícias sobre os escândalos de Brasília e, pela primeira vez, empolgando-me com a TV Senado (quem diria?) decidi não tratar sobre esse assunto aqui. Já há piadas demais e articulistas em abundância para explicar o inexplicável.

Hoje, no entanto, senti-me compelida a fazer um breve comentário sobre o assunto. Ao ler a Folha de São Paulo, pude conferir que o preconceito a respeito das ex-mulheres (sempree acusadas de lavar a roupa suja em público após a separação) não se trata de senso comum. É fato consumado, minha gente!

Depois da ex de Valdemar Costa Neto, que acusou o ex-marido e presidente do PL de integrar o esquema do Mensalão, a mulher de Marcos Valério (aquela que tentou sacar R$ 1,89 milhão e não conseguiu) deve estar mandando e desmandando no marido (que, aliás, foi acusado pela ex-secretária de promover festinhas estilo popular em hotéis).

Se fosse eu, ah, sem dúvida dispensaria os empregados só para fazê-lo lavar as louças e suas cuecas todos os dias! Do contrário, soltaria um -"olha que eu chamo o Roberto"!!

PS. Parabéns à equipe Homem Chavão, pelos dois anos de vida do site!
PS2. Já repararam que todo dia alguém anuncia ter recebido dinheiro de Marcos Valério? Cadê o meu?

O melhor presente

Ao chegar no meu condomínio hoje, recebo uma caixa da Livraria Cultura deixada pelos Correios na portaria.
Penso: será que fui contemplada em alguma promoção nem estou sabendo?
Ao abrir, descubro que ganhei mais do imaginava.
O livro, saído de São Paulo, fora enviado pelo amigo lá de San Francisco --aquele que ousa usar a alcunha "From Hell" (um tanto quanto teen, não é?). Na verdade, Felipe, o mais apropriado seria "From Heaven"! Thank´s! ;-)

quinta-feira, julho 21, 2005

No espelho

Decidiu marcar o encontro tão esperado. Para não despertar qualquer suspeita, escolheu a fila de uma agência bancária, postada estratégicamente ao lado de uma delegacia e em frente a uma pet-shop. Era sem dúvida o lugar mais seguro --o que melhor preservaria a distância física necessária para o momento.

Carregaria como espécie de código "As Ilha da Corrente", de Ernest Hemingway, já com capa a desbotada pelos anos de estante. Talvez eles não se reconhecessem mais. Há muito estavam afastados e as marcas impostas pelo tempo e gravidade poderiam maculá-los em meio a multidão. Era sabido que o brilho nos olhos não poderiam ser vistos de longe.

Chegaria exatamente às 15h23. A precisão britânica era necessária para que a angústia não os sufocassem durante uma possível espera.
O tempo de permanência seria definido por quesitos menos óbvios --dependeria inclusive da saúde dos funcionários da agência e do volume de depósitos programados para o dia.

Há quanto tempo esperava pelo encontro? Nem se lembrava mais. Os imperativos da vida e a necessidade de continuar respirando impediram qualquer reflexão naqueles anos. Não era fácil ficar cara-a-cara aquele que era tão próximo quanto desconhecido.

Aonde tu terias andando, oh, alter-ego?

O Doce e o Amargo (novamente, o dicionário)

Há tantos adjetivos derivados da palavra doce quanto para as de amargo. Coisa de quem não tem mais o que fazer, dei-me ao trabalho de contá-los no meu dicionário –aquele de quem já lhes falei.
O resultado foi um empate técnico, fechado no placar 4x4. De um lado, lá estão elas: amargo, amargado, amargurado e amargoso. De outro, doce, dócil, docílimo e docilíssimo.
Não se trata de analisar aqui a etimologia de cada um dos derivados. Apenas lamentei o fato de conhecermos menos as palavras relativas à doçura (que não conta porque é substantivo). Afinal, quem é que saí por aí dizendo que fulano-de-tal é “docilíssimo”?
É uma pena não gastarmos mais tais palavras docilizando o mundo (sim, docelizar é verbo –e transitivo).
Como na língua e na vida, elas cabem dentro de um único espaço. O doce e o amargo. Cabe a nós escolhermos o que preferimos ‘degustar’.

quarta-feira, julho 20, 2005

Pequenos Prazeres de Inverno

O dia amanheceu frio. Úmido. Não gosto desse tempo fechado. Só serve para dar cor sépia às fotos. Sou movida à luz solar. Preciso dela como um prisma para minha realidade.
À tarde, debaixo de uma garoa que só serviria acaso a temperatura caísse mais uns dez graus, coloquei minha pashimina vermelha e meu novo brinco de estrelas cor verde-limão.
A vestimenta cuidadosamente escolhida acompanhou o trabalho quase braçal desempenhado hoje por mim hoje.
Servi de ajudante na mudança de minha mãe para o novo apartamento –sonho de toda a vida de minha genitora e que diminuirá a distância física entre nossas residências (separados apenas por 20 minutos de caminhada).
No caminho, um saquinho de amendoins cobertos de chocolate –de péssima qualidade, ressalto— ajudou a desviar meu pensamento que insistia em repetir: “que friaca””.
Na realidade, a textura dos amendoins é o que me garantiu momentos de êxtase hoje. Gosto mais de segurá-los e do movimento que faço quando os arremesso à boca do que necessariamente degustá-los.
Pequenos prazeres como esse divertem minha vida. À noite, na ânsia de dar continuidade à eles, rendi-me a um vinho barato pelo simples fato de segurar a taça e lamber –quando ningúem está perto— a borda de vidro molhada pelo líquido nem tão precioso assim.
Para acompanhar, duas colheradas de brigadeiro quente –comidas sem culpa, mesmo com o relógio já tão adiantado.
Agora, completo minha jornada iniciada às 9h37 com minha meias felpudas –motivo de deleite quando acaricio meus pés um contra o outro— debruçada sobre esse teclado macio. Pode haver algo melhor?

domingo, julho 17, 2005

Palpitações por pouca coisa

Emoção (do francês émotion): Psicol. Reação intensa e breve do organismo a um lance inesperado, a qual se acompanha de um estado afetivo de conotação penosa ou agradável. (Novo Dicionário Aurélio)

Foi uma semana emocionante. Não, não houve nada de tão estupefato para quem olha minha vida de fora. Mas daqui de dentro, a ótica foi bem, bem diferente.

Começou com um e-mail há muito aguardado. Um “post” simpático. A visita de duas amigas queridas. Duas decisões: a de tentar uma vaga como aluna especial no Mestrado. A segunda: construir uma ladeira nessa minha casa tão gelada.

Ainda no ranking das emoções, duas mudanças no cabelo: curtos e lisinhos (ainda vermelhos). Odiei o tratamento, em princípio. Comprei mais um chapéu. Depois, adorei o corte (que fiz hoje). Bom, esse é o tipo de emoção que só mulher entende!

O filho amado ficou doente mais uma vez. Logo, a emoção (se é que se pode catalogar como tal) de passar noites em claro, com termômetro em punho.

Rever minhas matérias na internet (pela necessidade de organizar um portfólio) também me fez reviver as emoções e sofrimento com cada uma delas. Senti muitas saudades que, em alguns momentos, ganharam forma e nublaram meus olhos (Não dá pra explicar. Só quem tem isso na alma pode entender o que é a emoção de passar 12 horas trabalhando e ir embora cansada, de saco cheio, mas feliz).

Emocionei-me ouvindo "Bad", "Stay" e "Walk On", do U2. Ao ver o depoimento do Marcos Valério (essa foi piadinha óbvia). Durante o filme 'aguinha' com açúcar "Como se fosse a primeira vez" (essa é verdade verdadeira) e ao trailler do "A Fantástica Fábrica de Chocolates" (espero ansiosamente pela estréia no dia 22).

Pra ser sincera, acho que minhas emoções ganharam conotação hiperbólica. Tanto faz. Sinto-me feliz com elas.

segunda-feira, julho 11, 2005

Inveja (Sobre amigos, vizinhança e até peixes coloridos)

Amigos
Qual o limiar entre a inveja e a admiração? Para mim, a resposta está no orgulho.
Não aquele difundido no senso-comum, mais próximo ao presunçoso. Mas o orgulho de se ter, estar perto ou conhecer o motivo de tal altivez (como acredito que deva acontecer àquele cujo irmão é um jogador de futebol famoso. Na primeira oportunidade, logo deve sair um “–Ah, sim, claro. Sou irmão dele”, frase comulmente acompanhada de um sorriso armado ao lado direito dos rostos).
Tive a idéia de escrever isso ao pensar em meus amigos (inclua-se nesta lista alguns familiares) e como me sinto ‘felizarda’ por tê-los.
Como a mãe que encontra a professora de matemática do filho -este abençoado pela arte do cálculo, não hesito em responder coisas como: “-É claro que conheço a Fulano(a). Ele é muuuuuuuuuuito meu amigo”, ainda que o tal Fulano seja um Zé-ninguém ou um João-qualquer.

Alguns admiro pela coragem de mudarem suas vidas. Outros, por mantê-la na mais absoluta ordem, de sempre.
Há ainda aqueles que são extremantes espertos e inteligentes. Outros, pela ingenuidade quase infantil.
Seja como for, lentos ou rápidos, executivos ou donas-de-casa, todos eles ajudam-me em minha “construção”.

Vizinhança
Outra coisa (além dos amigos) tem sido motivo de orgulho para mim. Trata-se do bairro onde moro, há dois anos. Não, não é um lugar super arborizado, com casas ou lojas bacanas e gente bonita/rica andando pelas calçadas (que, aliás, são bem precárias).
É um lugar simples (cujo nome pomposo evoca os Estados Unidos. Bom, nem tudo é perfeito), com cerca de seis mil moradores –a maioria nível ‘operário’ (odeio essa coisa de segregar as pessoas por grupos, mas se fosse catalogar, diria pessoas de ‘classe média’). Aqui há uma padaria (dirigida por dois –suponho— descendentes de chineses simpáticos), uma farmácia, uma locadora (a mais barata que já achei).
Grande aqui, só o hospital. E é claro, o motivo de meu orgulho –o lago da área de lazer, o maior e mais bonito da área urbana de minha cidade.
O lugar foi recuperado pela prefeitura no ano passado e hoje forma um lindo espelho verde para o céu azulado. Há anos, ele havia se tornado o maior problema para o bairro, em razão do esgoto que era depositado em suas águas.
Recuperado, o lago ficou repleto de peixes. Tantos que a pesca teve que ser proibida, pelo menos até março de 2006, como indica a placa.
Um casal de garças também elegeu o lago como lugar favorito. Assim como os pais com filhos –especialmente aos finais de semana—e os aposentados que alimentam diariamente os peixes –já cansados dos pães da padaria do “China”.


Pelo menos três vezes por semana passo por lá. Às vezes sob o pretexto de ir à locadora (aquela barateira, que aluga lançamento a R$ 2,50), visito o tal lago.
Em uma dessas andanças, após uma chuva torrencial, pude presenciar vários cardumes de alevinos coloridos. Os bichinhos, supus, haviam sido expulsos para o ‘deck’ que desemboca no esgoto. Logo, estavam fardados à morte por ‘asfixia’.
Sem rede ou coragem suficiente para descer até lá e salvá-los, fui embora pensando em voltar equipada para o resgate no dia seguinte. Os dias se passaram e não voltei, ficando com tamanho sentimento de culpa que tem me rendido alguns pesadelos com a alma dos bichinhos.

No confessionário
É horrível admitir, mas como espécie humana que sou, sucumbo facilmente à inveja (sim, aquela de sentido pejorativo) em algumas ocasiões. Como gente de pele do rosto perfeita, com sotaque sulista ou provido naturalmente de um cabelão liso (coisa de mulher).

Ops...

Bom, a história abaixo é realmente verdadeira, embora eu tenha trocado os nomes (motivo que me trouxe aqui). E, claro, incrementado um pouco a realidade (é parte do meu comportamento compulsivo).

As palavras foram realmente ditas, assim como o jejum, os 70 anos juntos, o encontro na bucólica Itanhandú (bom, já nem tão bucólica assim) e o crepúsculo que eles compartilham agora ;-)

Para que seja feita justiça, conto-lhes que o nome da mulher era Izalina, e não Alzira (ainda bem que a 'tia' Alzira não tem acesso à este blog. Ela está vivinha! E, apesar do erro, manterei incólume o texto em prol do momento).

Bom, já o nome do marido era muito menos óbvio do que poderia se imaginar: Gumercindo. E nem com toda criatividade do mundo eu poderia supor tanta erudição.

sexta-feira, julho 08, 2005

Pequena História de Amor (?)

A pequena história de amor durou 70 anos. E é verdadeira. Só pode ter sido uma história de amor. O que mais, além do amor, a faria durar assim?

Não seu o nome de um dos protagonistas. A outra chamava-se Alzira e era irmã da minha avó materna, Mariana. Aos 84 anos, 'tia' Alzira cuidava do marido -com dez anos de vida a maisque a esposa- e já debilitado por uma doença decorrente da própria idade.

Alzira cuidava do marido (a quem me referirei de forma carinhosa como Zé, por não saber seu nome. Ele era mineiro, de Itanhandú, onde os Zés eram maioria --confirmando o que o Censo já sabe).
Há anos, Zé já não se levantava da cama. Havia perdido a visão e mal comia. No passado, era ele -trabalhador rural- que provia a família e seus 12 filhos.

Até semana passada, o maior temor de 'tia' Alzira era deixar o marido sozinho. Mesmo com uma aparente força vital, não saía de casa para quase nada, temendo uma possível partida de Zé sem 'aviso prévio'.

Na semana passada, Alzira foi acometida por um ataque do coração fulminante. E partiu, sem ter tempo de dizer adeus a Zé ou mesmo, de passar a limpo tudo que possa, eventualmente, ter ficado entalado em sua garganta ao longo de sete décadas.

Debilitado, Zé morreu três dias depois. Antes disso, ainda no velório de sua mulher, juntou o que restara de suas forças e sussurou aquelas que seriam suas últimas palavras em volume alto suficiente para que restassem testemunhas.
Com as mãos sobre o corpo da companheira -que conhecia tão bem embora a luz não pudesse distinguir suas cores- revelou:

--Ah, mulher. Eu comia e falava por você... Só por você.

O jejum o levou para junto de Alzira. E, hoje --certamente mais jovens e companheiros, os dois sorriem enquanto contemplam as cores do crepúsculo que tingem o céu da antiga Itanhandú, sentados sob uma laranjeira ;-)

quarta-feira, julho 06, 2005

Bizarrices (sobre atração sexual)

Sempre me senti sexualmente atraída por homens diferentes. Bom, até acho graça nos padrões "Giannechinis" da vida, mas são os estranhos que me fizeram perder a cabeça.
Explico: não resistia àqueles que tivessem cicatriz no rosto. Elas sempre vinham acompanhada de um olhar perdido, meio solto. Ah, e bastava um par de óculos moldurando um sorriso largão para me ganhar. Magreza também é algo que sempre me seduziu. Soa esquisito? Pois é. Porque ainda não contei sobre minha atração pelos homens com cicatriz de reparação de lábio leporino? Super sexy!
Não que todos os homens com os quais me envolvi estivessem enquadrados nestes padrões. Mas sempre olhei para eles com maior carinho que os outros.
Talvez por acreditar que o sofrimento causado por estas imperfeições os levassem a esculpir a alma. E quem não sonha em encontrar um especrto lapidado vagando por aí?

segunda-feira, julho 04, 2005

Sobre inspiração, forma e conteúdo

Capítulo I
Foi no realismo fantástico que a talentosa amiga e escritora Marpessa de Castro descobriu sua verve literária. Coincidentemente, também sou fã do gênero desde que, sei-lá-quando-e-por quê, li pela primeira vez o romance “100 Anos de Solidão”.
Fico aqui a pensar (bem, tenho tido tempo para isso) se minha verve está esquecida em alguma estante empoeirada. Ou será que ela nunca esteve dentro de mim?
Sinto-me perdida quanto à métrica e forma. Hoje, escrevo por escrever, como um exercício mecânico e instintivo de expectoração.

Capítulo II
Como é difícil carregar milhares de palavras. Pode soar poético, mas essa afirmação foi tirada diretamente do meu mundo real. Explico: imaginem caminhar mais de dois quilômetros empunhada de um Aurelião (aquele que, como escrevi lá embaixo, garantiu-me espasmos de alegria e hoje –pelo menos por 40 minutos, foi galgado a fardo).

Capítulo III
Ainda no mundo real...

Agruras da semana:
1. Escrever uma matéria a partir de entrevista com dançarina-famosa-gostosona
2. Receber pelo “freela”
3. Pensar o que farei após setembro (quando passarei pela segunda perícia do INSS). Ah, essa é uma perturbação constante.
4. Curar a dor do braço (putz, soa redundante?).

Ela vai, ela vem

Ela aparece assim. Como quem não quer nada. Como aquelas paixões mal curadas. Ou ainda, pensamentos inadequados em horas impróprias. Pior: como aquelas moléstias inerentes ao mundo concreto (foi um jeito sutil para eu me referir a um desarranjo intestinal).
Tenho a impressão que ela nunca me deixará. Além de selar meu destino, ficará comigo para sempre?
Oh, maldita seja, dor no ombro!!

Sobre o Live 8

Esperança
Aos céticos, aviso: este texto é para quem acredita na concretização das utopias (sou uma pessoa de paradoxos, mesmo..)
Se é possível mudar o mundo? Sim, é a minha resposta hoje. Talvez eu só seja uma pessoa influenciável. Não se trata de acreditar em qualquer ferramenta de neurolinguística, mas quando ela vem acompanhada de música sinto-me totalmente vulnerável.
A realização do Live 8, no último sábado, encheu meu coração de esperança e tirou as cortinas que fechavam meus olhos para o mundo.
Talvez eu esqueça daqui um tempo os vídeos das crianças de rua na Índia ou dos desnutridos da África. Mas se eu mantiver meus olhos abertos ao menos para o que passa em nossas esquinas aqui do Brasil, quem sabe não viva apática diante da vida dos "menos favorecidos" (putz, os políticos sempre usam essa definição para os pobres, ao menos em campanha?
De qualquer maneira, meu nome está lá. Na lista direcionada aos oito homens mais poderosos do mundo. Como um rosto desconhecido na multidão que acompanhou o Live 8. Eles não poderão me ver, embora eu esteja lá. Minha voz ecoará em seus ouvidos. E a sua?

Hello, is anybory in there?
Conscientização política à parte, o Live 8 foi, sem dúvida, um espetáculo musical inesquecível. A começar pela perfomance do Green Day no palco de Berlim, ao show do REM (e a máscara azul de Michael Stipe), tudo foi muito, muito vibrante.
Mas assistir o Pink Floyd reunido novamente, após 24 anos, foi uma emoção singular. O duo de David Gilmor e Roger Walters ficará na minha memória para sempre. Sabe aqueles emoções que nos tiram o ar e se parecem com uma espécie de angústia adoçada? Bem, foi assim que me senti. A little Comfortable Numb... ;-)

sexta-feira, julho 01, 2005

Novamente, empresto as palavras de Quintana

Sempre há uma explicação para se copiar o texto. Se tivesse tamanho talento, talvez conseguisse desenhar aqui as mesmas palavras. Afinal, por mais que nos sintamos diferentes, todas as emoções são iguais. E a gente sempre tem alguém que mereça tal homenagem...

Uma alegria para sempre
(Para Elena Quintana)

As coisas que não conseguem ser
olvidadas continuam acontecendo.
Sentimo-las como da primeira vez,
sentimo-las fora do tempo,
nesse mundo do sempre onde as
datas não datam. Só no mundo do nunca
existem lápides... Que importa se--
depois de tudo-- tenha ela partido,
casado, mudado, sumido, esquecido.
enganado, ou quer que te haja
feito, em suma? Tiveste uma parte da
sua vida que foi só sua e, esya, ela
jamais a poderá passar de ti para ninguém.
Há bens inalienáveis, há certos momentos que,
ao contrário do que pensas,
fazem parte da vida presente
e não do teu passado. E abrem-se no teu
sorriso mesmo quando, deslembrado deles,
estiveres sorrindo a outras coisas.
Ah, nem queiras saber o quanto
deves à ingrata criatura...
A thing of beauty is a joy for ever
--disse, há cento e muitos anos, um poeta
inglês que não conseguiu morrer.

Os donos da bola

Primeiro tempo

Não devemos negligenciar a inteligência popular. Soa senso comum, mas de fato todo brasileiro dever ser apaixonado por futebol. Pude confirmar a partir de análise empírica durante a final da Copa das Confederações.
Lá na sala, os ‘dois homens’ da casa assistiam tal acontecimento enquanto a mim, o que interessava mesmo era eliminar da pia o que restara do almoço.
Uma passada pela sala mudou tudo. Bastou uma olhadela para Ronaldinho Gaúcho e a emoção que acaba afetando indiretamente a mãe dos juízes de futebol voltasse à tona. Como se nunca, jamais, tivesse saído daqui.
Em casa, qualquer programação musical sobrepõe os jogos do esporte sinônimo de brasiliandade –mesmo os dos meu querido time, São Paulo (quase sempre fico a par dos resultados do tricolor paulista no dia seguinte, pelo olhar rápido às bancas de jornais).
Mas anteontem, rendi-me àqueles 11 homens e sucumbi à taquicardia que agoniza milhares de brasileiros em dias como esse (por isso, acho perdoável a postura dos congressistas que, diante da mesma ou até maior empolgação, deixaram em segundo plano a votação pautada em plenário em detrimento do mesmo espetáculo).
Ao final do jogo, minha palpitação rendeu até um questionamento do amado filho –habituado a ver a mãe em sofreguidão apenas durante shows do Nando Reis.
--Pai, por quê a mamãe está gritando?
E a resposta: --Porque o Brasil está jogando filho. E vencendo os argentinos por quatro a um!, disse animado o querido marido torcedor.

Segundo tempo
Para que o pequeno não passasse vergonha diante dos aspirantes a jogador do condomínio –como a maioria dos meninos entre os dois e 17 anos é— tentamos explicar a ele o que era futebol.
-- “Onze homens em cada time, com o objetivo de colocar a bola dentro do gol adversário, aquela redinha que está no lado oposto do campo”, tentei com minha didática quase nunca apropriada para os menores de cinco anos.
Era mais fácil faze-lo cantarolar as músicas do Acústico MTV da já saudosa Cássia Eller.
Entender porque cargas d´água uma porção de homens corre atrás de uma bolinha, num campo imenso, pode não ser tão fácil.
O pai até que se esforçou, levando o pequenino ao fundo do condomínio para ensaiar uma pelada a dois.
Não teve jeito. Em menos de cinco minutos, estavam os dois de volta. A justificativa? A resposta do pequeno: --Ah, papai, vamos lá em casa ouvir um ‘sonzinho’.

quinta-feira, junho 30, 2005

Tattoo

Posso afirmar, por conhecimento da causa: ter uma tatuagem faz-nos sentirmos diferentes de outras pessoas. Ainda que sejam os desenhos sejam clichês de época **, cada vez mais desfilam por aí os “artificialmente coloridos”.
Uma infidável coleção de flores, anjos, demônios, duendes –e outras tantas entidade do além—andam por aí colorindo o peito, costas, braços dos “moderninhos”.

Do jeito que as coisas andam –e, principalmente, se depender do universo “teen”, daqui algum tempo não teremos corpos de pele virgem trafegando por aí. Quando a estigma “artificial flavour” figurar em todos nós, quem serão os diferentes?

**É, novamente, falo com propriedade –hoje, colorem o meu corpo um conjunto de três estrelinhas no ombro, um ideograma no pescoço, uma florzinha entre a barriga e virilha e um anjinho no tornozelo (é, achou que eu deixaria as entidades do além de fora? Seria tão infame quanto abdicar de um “dragão tatuado no braço” e da freqüência à barraca do Pepê, caso fosse um surfista carioca aposentado

quarta-feira, junho 29, 2005

Faço minhas as suas palavras, estimado Quintana

Como Milton Nascimento, em "Certas Canções", faço uso das palavras do Quintana pra descrever como eu me vejo...

A Imagem Perdida
(para Sérgio Faraco)

Como essas coisas que não valem nada
E parecem guardadas sem motivo
(Alguma folha seca... uma taça quebrada)
Eu só tenho um valor estimativo...
Nos olhos que me querem é que eu vivo
Esta existência efêmera e encantada...
Um dia hão de extinguir-se e, então, mais nada
Refletirá meu vulto vago e esquivo...
E cerraram-se os olhos das amadas,
O meu nome fugiu de seus lábios vermelhos,
Nunca mais, de um amigo, o caloroso abraço...
E, no entretanto, em meio desta longa viagem,
Muitas vezes parei... e, nos espelhos,
Procuro em vão, minha perdida imagem!

De Mário Quintana

Presença (Para Lara de Lemos)
É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
a folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa no ar.
É preciso a saudade para eu te sentir
como sinto --em mim-- a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar os olhos para ver-te!

Ausência

Hoje, ele perdeu (novamente) a chance de me enxergar. Ele sempre quer me achar e estou cansada de dizer aonde estou: aqui...

E ainda...

Capítulo III
Futuro
O muro real fez-me pensar nas barreiras que impusemos ao mundo. Assim como a enorme parede cor de terra, ao lado direito do quatro do meu filho, construímos muros que impedem aos outros a possibilidade de talvez, vislumbrar uma luz prateada.
Na cidade onde moro, é cada vez mais comum a construção de condomínios fechados. Não sei se esta é uma tendência, mas acho estranho para uma cidade de 200 mil habitantes e, de onde posso avistar, de pontos mais altos, a Serra da Mantiqueira.

Soube agora de um novo empreendimento imobiliário, que fará fundos à casa de minha irmã (diga-se, entusiasta do projeto), em uma área nobre da cidade. Trata-se de “boulevard” --similar ao de grandes centros— com direito a “vários tipos de serviço e comércios”. Quem sabe com uma boutique?
Quem tiver mais de R$ 70 mil, já pode comprar a passagem para o “eldorado”. Enquanto isso, a menos de dois quilômetros (certamente), um grupo de famílias vivem sem água encanada, em uma área verde invadida.
Na cidade vizinha, a política pública tratou de se livrar das favelas incômodas espalhadas pelo centro. Colocar pobres e ricos, cada um em seu lugar, rendeu o controle estadual da política de habitação ao comandante do "eldorado".

A palavra de ordem é segregar? Ficamos assim tão maculados pelos índices de criminalidade? Os muros de nossos pseudo-universos feudais nos separarão de quem?
(Não se iludam. Também sucumbi ao artefato de proteção "muro-portaria" em meu condomínio de baixo padrão).

Continua

Capítulo II
Passado (sob o verão prateado)
É também sobre o lado esquerdo da janela do quarto do meu filho que nasce a lua. Isso acontece particularmente nos dias de verão. Há dois anos, quando me mudei para cá, costumávamos dormir sem nenhuma barreira de aço ou vidro entre nós e sua luz prateada.
Para mim, uma visão romântica, quase transcendental, de nossa vizinha com suas crostas. Talvez para ele, com então dois anos, não passava de uma enorme bola luminosa (não, nessa idade eles ainda não sabem quem é São Jorge o que é um queijo suíço. Tampouco agora –aqui em casa os bolsos não permitem muito mais que muzzarela...).
Eis que então veio o muro. Na ânsia de transformar sua “unidade assobradada” (é, é assim que são chamados casas tipo sobrado em condomínios populares pela Caixa Econômica Federal) em um duplex com suíte, os vizinhos impuseram a barreira de tijolos entre eu e a luz prata.
Engraçado, mas isso me fez pensar em outra coisa, bem menos poética: a cruel realidade (continuo a ladainha acima)...

Sobre pontos cardeais e planejamento urbano

Capítulo I
Presente (no inverno amarelo)
Da janela do meu quarto, ao lado direito, posso ver o comecinho das montanhas que formam a Serra da Mantiqueira.
Não sei porque, mas no inverno o crepúsculo me parece ainda mais alaranjado daqui do alto. É uma visão fantástica essa escala de cores que terminam bem ao meio de uma montanha.
Ah, e quando venta, a sensação é indescritível. Muitas vezes abro os braços quando passo pelo meio da estrada de terra (é, elas ainda existem em áreas urbanas de cidades como a minha), o atalho que leva até a escola do meu filho...
(Casualmente, seu horário de saída é às 17h –bem a hora do espetáculo laranja. Aprendi com os colegas fotógrafos a ansiar por esse momento do dia e o seu filtro de luz natural).

segunda-feira, junho 27, 2005

Páginas Amigas


Bom, como não sabia como postá-las em outro lugar, deixo aqui o endereço de páginas de amigos (ou não) e outras sugestões.

www.marioquintana.blogspot.com.br
www.acidetal.weblogger.terra.com.br
www.casadosespelhos.blogspot.com
www.omeninoazul.zip.net

Sobre sorte

Sempre achei que não fora muito abençoada pela sorte –e cheguei a duvidar se é que ela existe. De repente, tropeço em uma caixa com três CDs que ganhara no passado (Clássicos do Jazz, editado pela Som Livre) e quase esquecida na estante.
A começar pela caixa, decorada com as imagens de Laurabeatriz, artista plástica do Rio de Janeiro, a coleção é maravilhosa. Acho melhor eu (voltar a) acreditar em venturas.
Tudo bem, gosto de jazz, mas não é para toda hora. Pra ser sincera, essa coisa de dizer que gosta de jazz às vezes soa meio falso. Parece argumento de gente “cult” que, como eu, tem cabelo vermelho, adora filme estrangeiro, Ed Motta e outros artefatos indies.

Bom, ainda sobre a tal caixa
Ouvir a tal caixa me transporta novamente para meu universo paralelo. E das 13h55 vou diretamente para às 21h17, precisamente, onde posta à mesa de um restaurante envolto em aura ameralada que se dissolve na penumbra peculiar aos sonhos.
Postada estrategicamente ao lado esquerdo do palco, aos fundos, a mesa permite ver apenas as mãos que acompanham a jam session embalada por Wes Montgomery (tocando How Insensitive) and Cool Breeze, com Dizzy Gillespie, além do sax de Stan Getz –este vindo diretamente dos céus da Filadélfia para a ocasião.

A minha frente, um milhão de amigos imaginários sorriem com elegância. E lá está você. Aliás, não é o primeiro texto que lhe escrevo –e isso acabo de me lembrar. É que passaste tanto tempo ausente, que apenas lembrava-me de você quando, não sei porque, perdia-me em qualquer olhar.

Recomendo: God Bless the Child, com Billie Holiday.

Blecaute (sobre esperança)

Dias desses, na verdade, já há muitos idos, um blecaute causado por seja-lá-o-que-for, pegou-me de surpresa. E a casa outrora iluminada, terminara na mais total escuridão.
Se ainda não fosse a escada (o banheiro é no piso superior) e a necessidade de proteger da penumbra o filho que não passara dos quatro anos, a escuridão não causaria tamanho pavor.
Por descuido ou esquecimento, não comprara nenhuma vela no dia anterior. Não haveria como saber que terminaria surpreendida pela escuridão!!

Mas as janelas da minha casa eram tão imensas, embora eu não as conhecesse tão bem (elas estavam sempre detrás das cortinas), que após abertas, deixaram que a luz do luar inundasse minha sala. A lua estava lá, embora a noite estivesse escura, como que colocada pela fenda imposta pelos cúmulus nimbos dançando no céu. É, ela estava lá.

Passado algum tempo, um reencontro ontem lembrou-me do tal blecaute e encheu-me de esperança. Como a lua posta no céu, algumas pessoas que passaram pela minha vida aparecem, de surpresa, em encontros casuais, e iluminam o que seria uma noite escura. E suas existências bastam— mesmo distantes, estão sempre aqui, dentro de mim. E eu nelas
;-).

domingo, junho 26, 2005

Em um mundo todo colorido por tartrazinas e outros pigmentos, meus cabelos vermelhos adquirem tonalidade violeta ao cair sobre as lentes de meus óculos roxos.

Ordinary Life

Passados quase cinco meses em casa, sinto que esse tempo já foi suficiente para me fazer olhar para dentro.
E o que encontrei? Páginas em branco e outras tão amareladas que se desfizeram com o tempo. O problema hoje já não é o passado ou o futuro. É estar sem nenhum presente...

O fato é que não consigo permanecer nesta total ausência de trabalho (em função do problema no braço). Isso me deixa angustiada. Como quase todas as minhas paixões são efêmeras, a dedicação à vida doméstica já não me completa... E o SBP para plantas já foi esquecido no armário.

Em meio a essa apatia, desenvolvo meu universo paralelo. Nele, o calor do sol que esquenta meus pés transforma meu colchão em areia fina, o barulho do chuveiro em sinfonias marítimas e o vapor da panela na neblina que recai sob a alvorada nos dias tão frios como esse nas montanhas...

quinta-feira, abril 14, 2005

Desperate Housewive

No início, Deus fez o Homem. Depois a Mulher. Depois a casa. A roupa pra lavar. As crianças pra levar na escola. Daí, o Homem fez o Detergente. O Amaciante. E o fabuloso SBP Casa e Jardim (o único que extermina pulgões sem matar sua orquídea)...

Depois de meses afastada do trabalho, e dos teclados, cá estou eu de volta. Neste período, digo, desde fevereiro, a cabeça fervilhou de idéias pra escrever. O braço, infelizmente, não ajudou muito e só agora posso voltar aqui pra pseudoliteratura.

Bom, mas o tempo livre para fisiterapia acabou traduzido em uma janela pra uma nova realidade --as agruras de se tornar --realmente-- uma dona-de-casa.
Para ser sincera, sempre mantive certo ar de arrogância em relação às donas-de-casa. Um desdém que até então nunca tinha percebido, apesar superioridade que sentia às entrevistas que me respondiam como profissão o ofício 'do lar'. (Confesso que ainda não superei tal despeito em relação aos ajudantes gerais).

De repente, coisas antes sem o mínimo sentido ganhar importância vital. Como alguém pode sobreviver sem limpador de alumínio (indispensável às cozinhas)? Ou tesoura de jardinagem? Ou, ainda pior, uma samabaia para cuidar?

E quem (no caso eu) poderia imaginar que cuidar de uma casa requer um check-list diário tão extenso quanto o que qualquer "profissional inserido no mercado de trabalho"?

Revelations
Uma revelação? Só agora sinto, realmente, que tomo conta do meu destino. Estranha essa relação que as coisas materiais têm na nossa vida, ainda que as sentimos tão distantes, tantas vezes...
Hoje, depois do sufoco inicial (de ficar em casa meio deprimida e sem saber o que fazer), sinto que esses meses marcaram uma fase de transição na minha vida. Welcome to the real live, desperate housewive!!

sábado, janeiro 01, 2005

Até que Enfim

Até que enfim...
Consegui quebrar a barreira entre eu e o teclado e voltar aqui.


Metas


É engraçado começar o ano sem definir metas. Bom, pois bem, sinto-me a vontade pra confessar que entro em 2005 sem nenhuma delas. Pelo menos, nenhuma nova.
Pretende dar continuidade às que já tinha/executada. Como ser mais saudável (o que inclui pelo menos cinco horas de academia/semana), menos estressada (arrumar uma nova ocupação), estudar e que sabe, mais passional. Preciso de emoção...

2004 terminou e eu, finalmente, tenho um dicionário!!
Recebi de presente de um amigo, Williams. Que belo presente receber um Aurelião, com 1.499 páginas que poderão me acompanhar nos dias cinzentos.