quinta-feira, novembro 23, 2006

Malditas palavras, parte 2



Taí: paciência é uma outra palavra que me persegue. Menos pela grafia, mais pelo conteúdo encerrado.
Sou impaciente e sempre fui. Até aí tudo bem. Quer dizer; tudo bem até os 18 anos, quando nos resta a impaciência do ‘pós’ graduação.

Aos 20 eu era impaciente quanto ao meu futuro profissional após os quatro anos na faculdade de Jornalismo. Resolvi o problema refugiando-me durante 32 dias –e noites, principalmente elas—, em Ubatuba, litoral norte de São Paulo. Voltei com um bronzeado lindo, quatro quilos a menos. Para contar, dias de caminhada à beira-mar, muitas braçadas nas águas do Tenório, vários luais na praia Vermelha (situações bizarras como a vez em que sacaneamos argentinos, obrigando-os a participar de um ritual ‘tipicamente brasileiro’ com chinelos havaianas –pura invenção, é claro), duas novas amigas hoje eternizadas e um amor de praia para, eventualmente, lembrar.

Aos 29, a impaciência tem sido menos poética ou libertária. Não dá mais para ‘fugir de casa’ com vistas a um bronzeado atraente. Nem pegar o carro e dirigir 500 quilômetros. É preciso controlá-la para evitar novas somatizações. Esse é meu desafio.

Eu só sei que quero minha vida de volta. E pensar que tudo começou em janeiro de 2005, quando o ombro pediu socorro. Com ele curado, corro em busca de uma saída. É preciso provar a sanidade das articulações à Justiça. Lidar com frustações (gerada, grande parte, pelos efeitos colaterais da ansiedade, a mesma que me afasta da paciência).

Preciso esperar o barco navegar. Ainda que distante do azul das águas do Tenório.

DNA: qual a relação entre James Blunt, Manoel Carlos e É o Tchan?



Ah, sempre os Malvados.

www.malvados.com.br

domingo, novembro 19, 2006

Exceto por vocês



Há erros imperdoáveis. Imagine começar uma frase como esta sem o H. Considero-me até dona de um bom português e sofro ao ouvir certas discordâncias gramaticais ou meramente gráficas. Tomo mundo erra, é fato. O problema é quando a língua atua como matéria-prima para o trabalho. Não dá para não sofrer ao ouvir um certo 'mortandela', 'estrupo' ou coisa parecida e tipicamente paulistana. Pior que isso, só quando a a gafe é cometida por alguém cuja função reside em justamente caçar erros alheios. Essa pessoa sou eu, dona de um grande trauma gerado pela palavra excessão --assim mesmo, com dois 'esses'.

Eu ainda era foca* quando o fato ocorreu. Trabalhava em um jornal pequeno na minha cidade e havia sido 'promovida' a função de editora. Foi quando deixei passar um baita EXCESSÃO no título de um abre de página*. E eu nunca mais --digo, nunca mais, consegui me lembrar da grafia correta da palavra. Juro ter sido por distração (até o momento eu não tinha dúvidas sobre o uso do cê cedilha em lugar dos dois esses).

Ficou um trauma a ponto de, anos mais tarde, escrever a grafia correta no meu monitor quando o erro já não era mais perdoável. EXCEÇÃO, ato de excetuar! EXCESSÃO? Epa! Socorro! Alguém se exedeu!

Mas os dois esses continuaram a me perseguir, da mesma maneira que a pronúncia de 'wednesday' nas aulas de inglês do falecido JEP (Junior English Program) do Yázigi, a long, long time ago. Eu fugia do 'wednesday' de tal maneira que preferia construir uma longa sentença só para evitar a pronúncia da palavra amaldiçoada (deve ser alguma relação mística com a Família Addams!). Era 'the day during the week between tuesday and thursday'. Or whatever!

Fantasmas gráficos e desvios semânticos, vou me excedendo sem fim. Exceto às quartas-feiras (com crase ou sem?).

;-)

sexta-feira, setembro 29, 2006

Quando é hora de recuar



Tem coisas pelas quais vale a pena lutar, correr atrás, perseguir indubitavelmente. Justiça, respeito, ética, melhores condições de vida –para si próprio e para os outros— e trabalho são algumas delas.

Em geral, somos incitados a perseguir nossos objetivos desde criança. Não desistir da escola, do curso de línguas, das aulas de ginástica, judô, natação, dos horários do antibiótico, do tratamento homeopático e por aí vai.
Eu sempre fui criada assim e sempre tive metas. Aos oito anos de idade, decidi que seria jornalista –lembro-me do dia e da sensação. Eu estava na área de casa sentada com minha cachorra, Teka. Foi absolutamente claro pra mim como seria a vida. Eu deveria estudar e nunca desistir. Treze anos depois, eu tinha o meu diploma.

Houve outras coisas pelas quais eu insisti quando deveria ter deixado para trás. E hoje aprendi que aprender a administrar frustações –e isso inclui assumir a condição de derrota, em alguns momentos— importa tanto quanto comemorar vitórias.

Não dá para sofrer quando alguém não quer te ver mais. Quando aquele(a) amigo(a) querido(a) não liga mais. Quando se manda um telegrama urgente com pedido de resposta que nunca chegará. Não vale a pena insistir em um trabalho impossível. Em um amor invariavelmente (porque às vezes é possível conquistá-lo, sim) unilateral.

Contrariando todos os livros de auto-ajuda, é preciso saber a hora de voltar ou de ir embora. E isso não é derrota, meus amigos. É sabedoria.

quarta-feira, setembro 20, 2006

Desse jeito perderei os leitores!



A vida está corrida. Obrigações mil inseridas em um histórico do 'tempo é leitura e produção' ou ainda 'tempo é cuidado maternal', adaptando o tradicional 'tempo é dinheiro'.

Anteontem, o anúncio: 18 livros pra ler até o dia 7 de novembro. Esforço necessário para quem quer (e precisa urgentemente) 'mudar' de profissão.

O relógio corre e eu preciso ir por ainda mais por um tempo. A cabeça está cheia de inspirações semeadas pelas leituras/vivências como a da última quarta-feira, quando a marginal do rio Pinheiros --escuro e entulhado-- encarnava a resistência dos espetáculos naturais muitas vezes raro nas metrópolis.

Em meio a tudo isso, a preocupação inevitável com as escolhas políticas e a necessidade de olhar o mundo com os olhos fixos naqueles que realmente não têm supridas as condições mínimas de existência. Decido em quem votar pra presidente, escolha lógica pra mim (apesar da decepção) e resta a dúvida quanto ao deputado federal (tenho três na lista). O restante já está decidido. Na política e no rumo da vida.

É esperar e torcer.


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Enquanto isso...

Vale a pena ver: V de Vingança. E ler os quadrinhos. Amigo Douglas tinha, emprestou e alguém nunca mais devolveu, pro meu ódio mortal.

Vale a pena ter: Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (DVD e trilha sonora)

Vale a pena navegar: http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2006/eleicoes/candidatos-deputado_federal-sp-a.shtml
(para paulistanos em dúvida do candidato a senador e deputado federal)

Vale a pena votar: no Suplicy!

Vale a pena ver/ouvir: www.mackzero5.com.br. Amiga Denise fez o site, que é lindo, e o marido dela fez as músicas, que soam graaaaaaaaaaaaaaaaaande!

Vale a pena ler: Cultura do novo capitalismo, de Richard Sennett (está fresquinho, publicado neste ano no Brasil).

Vale a pena escutar: quando dizem pra você levar o dinheiro na viagem e não contar só com o cartão do banco pra sacar e voltar. Especialmente se o seu cartão do convênio médico for da mesma cor do seu cartão de crédito.

terça-feira, setembro 05, 2006

Sempre a verdade



Escrever ficção é dissimular a realidade.
Não há como dissociar uma da outra. Uma história fictícia sempre diz a verdade de alguém. É o conjunto daquilo que somos, de todas as experiências vividas. Não importa se a realidade expressa no papel é imaginária ou não. Realismo fantástico ou modernismo. Ela é invariavelmente real. Escrever é tornar concreto o imaginado.

Colocar histórias à disposição na internet encerra essa metáfora. Viu como é óbvio?

segunda-feira, agosto 28, 2006

terça-feira, agosto 15, 2006

Los Hermanos

Minha história com Los Hermanos não começou com amor à primeira vista.
Ouvi a primeira vez e tentei 'entender', melodia e letra. Ouvi de novo. Mais uma vez. E outra. Nesse estágio já tinha minha conclusão. Los Hermanos é a melhor banda brasileira quando faltam tantas no meu "Top 5".

Eu insistia nisso para o meu querido amigo tio Leleka, que insistia em resumir as qualidades da banda na aparente presunção de seus componentes. Eu dizia: Lelê, é mais que isso. Eis que ele se rendeu. A ponto de produzir um lindo desenho sob o título "Todo Carnaval tem seu fim", na alusão explícita e desenvergonhada da banda (postada em omeninoazul.zip.net/index.html e copiada descaradamente aqui por mim).

Seja pela qualidade dos arranjos, das harmonias ou das letras, Los Hermanos é foda mesmo. Quem discorda (ou não conhece), dê uma olhadela aí embaixo e ouça --em banda larga e som no talo-- a rádio Los Hermanos no UOL.


Casa Pré-fabricada
Los Hermanos

Composição: Marcelo Camelo

Abre os teus armários.
Eu estou a te esperar
Para ver deitar o sol sobre os teus braços, castos.
Cobre a culpa vã
Até amanhã eu vou ficar
E fazer do teu sorriso um abrigo.

Canta que é no canto que eu vou chegar.
Canta o teu encanto que é pra me encantar.
Canta para mim, qualquer coisa assim sobre você.
Que explique a minha paz. Tristeza nunca mais.

Vale o meu pranto que esse canto em solidão.
Nessa espera o mundo gira em linhas tortas.
Abre essa janela
A primavera quer entrar
Pra fazer da nossa voz uma só nota.

Canto que é de canto que eu vou chegar.
Canto e toco um tanto que é pra te encantar.
Canto para mim qualquer coisa assim sobre você.
Que explique a minha paz. Tristeza nunca mais.

Retrato Pra Iaiá
Los Hermanos

Composição: Marcelo Camelo; Rodrigo Amarante

Iaiá, se eu peco é na vontade
de ter um amor de verdade.
Pois é que assim, em ti, eu me atirei
e fui te encontrar
pra ver que eu me enganei.

Depois de ter vivido o óbvio utópico
- te beijar - e de ter brincado sobre a sinceridade
e dizer quase tudo quanto fosse natural ...
Eu fui praí te ver, te dizer:

Deixa ser.
Como será quando a gente se encontrar ?
No pé, o céu de um parque a nos testemunhar.
Deixa ser como será!
Eu vou sem me preocupar.
E crer pra ver o quanto eu posso adivinhar.

De perto eu não quis ver
que toda a anunciação era vã.
Fui saber tão longe
- mesmo vc viu antes de mim -
que eu te olhando via uma outra mulher.
E agora o que sobrou:
Um filme no close pro fim.

Num retrato-falado eu fichado
exposto em diagnostico.
Especialistas analisam e sentenciam:
"Deixa ser como será.
Tudo posto em seu lugar".
Então tentar prever serviu pra eu me enganar.
Deixa ser.
Como será.
Eu já posto em "meu lugar"?
Num continente ao revés,
em preto e branco, em hotéis.
Numa moldura clara e simples sou aquilo que se vê.


Sentimental
Los Hermanos

Composição: Rodrigo Amarante

O quanto eu te falei que isso vai mudar
Motivo eu nunca dei
Você me avisar, me ensinar, falar do que foi pra você,
Não vai me livrar de viver

Quem é mais sentimental que eu?!!...
Eu disse e nem assim se pôde evitar.

De tanto eu te falar você subverteu o que era um sentimento e assim
Fez dele razão
Pra se perder no abismo que é pensar e sentir

Ela é mais sentimental que eu !!
Então fica bem
Se eu sofro um pouco mais.

"Se ela te fala assim, com tantos rodeios, é pra te seduzir e te ver buscando o sentido daquilo que você ouviria displicentemente. se ela te fosse direta, você a rejeitaria."

Eu só aceito a condição de ter você só pra mim.
Eu sei, não é assim, mas deixa

Eu só aceito a condição de ter você só pra mim.
Eu sei, não é assim, mas deixa eu fingir e rir..

Ultimo Romance
Los Hermanos

Composição: Rodrigo Amarante

Eu encontrei-a quando não quis
Mais procurar o meu amor
E quanto levou foi pra eu merecer
Antes de um mês eu já não sei
E até quem me vê, lendo jornal
Na fila do pão sabe que eu te encontrei

E ninguem dirá
Que é tarde demais
Que é tao diferente assim
O nosso amor
A gente é quem sabe pequena

Ah vai! me diz o que é o sufoco que eu te mostro alguém
A fim de te acompanhar
E se o caso for de ir a praia
Eu levo essa casa numa sacola

Eu encontrei-a e quis duvidar
Tanto clichê
Deve não ser
Voce me falou
Pra eu não me preocupar
Ter fé e ver coragem no amor

E só de te ver
Eu penso em trocar
A minha tv num jeito de te levar
A qualquer lugar
Que você queira
E ir onde o vento for
E pra nós dois
Sair de casa já é
Se aventurar

Ah vai! me diz o que é o sossego que eu te mostro alguém
Afim de te acompanhar
E se o tempo for te levar eu sigo essa hora
Pego carona
Pra te acompanhar

A Flor
Los Hermanos

Composição: Rodrigo Amarante/Marcelo Camelo

Ouvi dizer, do teu olhar ao ver a flor
Não sei por que achou ser de um outro rapaz,
Foi capaz de se entregar
Eu fiz de tudo pra ganhar você pra mim,
Mas mesmo assim

Minha flor serviu pra que você achasse alguém,
Um outro alguém que me tomou o seu amor
Eu fiz de tudo pra você perceber
Que era eu

Tua flor me deu alguém pra amar
E quanto a mim?
Você assim e eu, por final, sem meu lugar!
Eu tive tudo sem saber quem era eu...

E eu que nunca amei a ninguém
Pude então, enfim amar


Alem Do Que Se Vê
Los Hermanos

Composição: Marcelo Camelo

Moça, olha só o que eu te escrevi
É preciso força pra sonhar e perceber
que a estrada vai além do que se vê
Sei que a tua solidão me dói
e que é difícil ser feliz
mas do que somos todos nós
você supõe o céu
Sei que o vento que entortou a flor
passou também por nosso lar
e foi você quem desviou
com golpes de pincel

Eu sei, é o amor que ninguém mais vê
Deixa eu ver a moça
Toma o teu, voa mais
que o bloco da família vai atrás

Põe mais um na mesa de jantar
por que hoje eu vou pra aí te ver
e tira o som dessa TV
pra gente conversar
Diz pro bamba usar o violão
pede pro Tico me esperar
e avisa que eu só vou chegar
no último vagão

É bom te ver sorrir
Deixa vir à moça
que eu também vou atrás
e a banda diz: assim é q se faz!

Condicional
Los Hermanos

Composição: Rodrigo Amarante

Quis nunca te perder
Tanto que demais
Via em tudo céu
Fiz de tudo cais
Dei-te pra ancorar
Doces deletérios

E quis ter os pés no chão
Tanto eu abri mão
Que hoje eu entendi
Sonho não se dá
É botão de flor
O sabor de fel
É de cortar

Eu sei é um doce te amar
O amargo é querer-te pra mim
Do que eu preciso é lembrar e ver
Antes de te ter e de ser teu, muito bem

Quis nunca te ganhar
Tanto que forjei
Asas nos teus pés
Ondas pra levar
Deixo desvendar
Todos os mistérios

Sei, tanto te soltei
Que você me quis
Em todo o lugar
Li em cada olhar
Quanta intenção
Eu vivia preso

Eu sei é um doce te amar
O amargo é querer-te pra mim
Do que eu preciso é lembrar, me ver
Antes de te ter e de ser teu
O que eu queria, o que eu fazia, o que mais?
E alguma coisa a gente tem que amar
Mas o que, não sei mais

Os dias que eu me vejo só são dias
Que eu me encontro mais e mesmo assim
Eu sei também existe alguém pra me libertar

Conversa De Botas Batidas
Los Hermanos

Composição: Marcelo Camelo

- Veja você onde é que o barco foi desaguar
- A gente só queria o amor...
- Deus parece às vezes se esquecer
- Ai, não fala isso, por favor
Esse é só o começo do fim da nossa vida
Deixa chegar o sonho, prepara uma avenida
que a gente vai passar
- Veja você, quando é que tudo foi desabar
A gente corre pra se esconder...
- E se amar, se amar até o fim
- sem saber que o fim já vai chegar
Deixa o moço bater que eu cansei da nossa fuga
Já não vejo motivos pra um amor de tantas rugas
não ter o seu lugar

Abre a janela agora, deixa que o sol te veja
É só lembrar que o amor é tão maior
que estamos sós no céu
Abre as cortinas pra mim
que eu não me escondo de ninguém
O amor já desvendou nosso lugar
e agora esta de bem

Deixa o moço bater que eu cansei da nossa fuga
Já não vejo motivos pra um amor de tantas rugas
não ter o seu lugar

Diz quem é maior que o amor?
Me abraça forte agora, que é chegada a nossa hora
Vem, vamos além. Vão dizer
que a vida é passageira
Sem notar que a nossa estrela
vai cair

sábado, agosto 12, 2006

Porque é o seu aniversário




Segunda é dia 14 de agosto.

Um dia totalmente sem-graça para qualquer um que não tenha nascido nesta data, nalgum ano passado.

Eu nasci em 1977, às 11h40 de uma manhã ensolarada. Era Dia dos Pais e as visitas foram liberadas, inclusive para crianças. Minha irmã tinha cinco anos de idade e foi quem escolheu meu nome, Stela.

O Sol é o regente de meu signo. Minha Lua é em escorpião.

O mapa astral diz ainda que tenho 11 elementos fogo. E só um terra. Tenho problemas de fincar os pés no chão, de fato.

Tenho fixação por luz de velas. Sempre tive.

E confirmando o perfil leonino, adoro chamar a atenção, minha veia 'borboleta', segundo a prima Andressa.

Adoro o dia 14 de agosto, meu Ano Novo (que ingresso com 16 cm de flores e folhas novas postadas estrategicamente no início da coluna).

Este será especial graças aos beijos e abraços que ganhei ontem.

Clarissa, Fá, Joselani, Rafael, Chico, Leandro Leleka, Nana, Denise, Bianca, Fábio, Simone, Rodrigo, Maria e JP. Companhias ótimas para um dia de comemoração adiantada!

Seja bem-vindo, meus 29 anos.

quarta-feira, agosto 09, 2006

Descoberta


Descubro um novo mundo a todo instante. Dei-me conta disso quando ainda era pequena. Lembro-me do pensamento, mas não da data. “Não há um só dia que a gente não aprenda uma coisa”. Da infância à adolescência foi assim. Quando somos crianças pensamos que adultos são seres estáticos –ou sabem de tudo ou nunca aprenderam nada. Surpreendentemente, pego-me pensando na mesma coisa hoje, na idade adulta. Não há só um dia em que não aprendamos alguma coisa.

Do uso culinário da semente de mostarda, a uma nova perspectiva do ethos. E chegando às mesmas conclusões da criança que havia em mim, diferenciando apenas pela erudição na forma de expressá-la.

Tenho pensado muito e isso também representa descobertas –algumas sentadas à minha frente há muito, embora eu não as enxergasse antes. Sobre amor, desejo, paixão, amizade, sexo.

Em um insight provocado pelo momento em que vivo, chego a conclusões:

É preciso admitir nosso ‘egoísmo’ e perceber que buscamos, sim, a satisfação de nossos próprios desejos, 'primários ou terciários'.

Sexo é caminho, não é fim.

O outro é parte de tudo, mas não é felicidade encarnada. Essas coisas estão na gente. No jeito que se leva a vida. No conjunto de prazeres que transcedem o carnal (mas que inclui esse também!). Na conclusão de um trabalho, na reviravolta da vida, na compra de um apartamento* e até na decisão de mudar de ofício. Isso quem pode nos dar é nós mesmos. Permite uma leveza capaz de deixar as coisas miúdas da vida serem tratadas como coisas miúdas da vida. Sentir é bom. Leve.

Só dessa forma podemos compartilhar com o outro. E sentir, abraçar, beijar, tocar, acariciar. Rir, chorar, beber, lembrar. Daí sim, tudo vira uma verdadeira festa simbiótica!

;-D



* Que encarna mais que uma simples mudança territorial, não é, André?

quarta-feira, agosto 02, 2006

(Nem) sempre mais interessante



Estranha essa mania de achar a vida dos outros mais interessante que a minha.

Ainda mais estranho é ouvir coisas como "nossa, como você tem feito coisas bacanas!". Ou, "quantas realizações suas nestes últimos anos". Essa é ainda pior: "nossa, como você é maluca".

Esquisito. Eu tenho uma vida absolutamente normal. Bem, é certo que coleciono algumas histórias tragicômicas para contar. Da diarréia na Lua-de-Mel, à viagem maluca e quase sem rumo a 500 quilômetros de casa, quando fui parar em uma república tirada das páginas de Feliz Ano Velho...

Ou pior: quando quase me afoguei no rio da praia do Lázaro, às 5h, depois de ter sido abandonada pela minha (ex)amiga Adriana (muito bêbada, esqueceu-se de mim) no local. E, molhada, pedi socorro em uma casa da clone da Hebe Camargo.

Tirando esses feitos -e o lance de ter sobrevivido à eles- tenho uma vida absolutamente normal (tão chata como a outra qualquer)! E embora muitas pessoas sempre digam que minhas histórias sempre venham acompanhadas de interjeições, eu passo sábados em casa vendo temporadas de Friends (obrigada, And)!

terça-feira, julho 25, 2006

Décadence sans élégance



Quem tem saudades de Axel Rose?

No final dos anos 80 eu ingressava na adolescência.
Meus hormônios borbulhavam tanto pelo som dos Guns n´ Roses quanto pelo seu capitão, o ruivo e, até então,too sexy, Axel Rose.

Em 91, o Guns lançou 'Use your Illusion' e a megalomania associada ao maior egocentrismo do mundo do rock enterrou a banda com a debandada de seus integrantes quatro anos depois do disco que vendeu tanto quanto Beatles.

Axel sumiu. Voltou quase transfigurado no VMA em 2002. Gordo, desafinado e aparentemente ainda mais desajustado.



No mesmo ano, Slash, Duff McKagan e Matt Sorum decidiram se unir novamente e formar uma banda. Um canal de TV ajudou na procura pelo vocalista. O escolhido foi Scott Weiland, ex-junkie e ex-Stone Temple Pilots.

Compuseram o primeiro single da banda para o filme 'Hulk', 'Set Me Free'. Coincidentemente, a banda também era tocada pela liberdade, distante da possessão que Axel Rose exercia no Guns.



Em 2004 o Velvet Revolver lançou seu primeiro CD, 'Contraband'. Bom demais para minar qualquer saudade do Axel.

Mas eis que Axel volta à cena em 2006, no Rock in Rio em Lisboa. E não há dúvidas. Slash, Duff e Matt realmente se deram bem*.

* Embora os shows do 'novo' Guns estejam lotando eu ainda prefiro o Velvet. Seja o Revolver ou o Underground.

quarta-feira, julho 19, 2006

Pule para mudar a órbita da Terra

Tanta balela junta merece destaque.

"Está marcado para às 7h39m13s desta quinta-feira, dia 20 de julho, hora de Brasília, o pulo mundial que vai fazer a Terra mudar a sua órbita e ficar mais distante do sol.

Se o pulo simultâneo der certo, muda a questão do aquecimento global e o dia passará a ter 32 horas.

Para acontecer, o evento precisa ter no mínimo 600 milhões de pessoas pulando juntas no mesmo horário - apesar do ceticismo de alguns cientistas que não acreditam nos colegas do ISA de Munique (Alemanha) que publicaram o estudo que diz ser possível esta mudança cósmica.

O dr. Hans Peter Niesward explica tudo no site do World Jump Day (www.worldjumpday.org).

Até as 13h30 de quarta-feira o site já havia cadastrado 599.182.551 e-mails de "puladores".

Faltavam somente um pouco mais de 800 mil cadastros para chegar ao número necessário de puladores simultâneos. Há comunidade no Orkut sobre o assunto"
.

Enviada por Assunção Barbosa, 19/07/2006 - 13:43 e publicada no IG, hoje (http://minhanoticia.ig.com.br/materias/379501-380000/379672/379672_1.html).


**********

Curiosa que sou, fui no tal site ver a 'explicação científica' pro pulo mundial. A explicação para o cálculo foi a seguinte:

Um tal de Prof. Hans Peter Niesward, do departamento de Física Gravitacional (?) da ISA/München, na Alemanha, publicou um artigo que confirma (na tese do prof.) uma mudança da atual órbita da Terra pela combinação de forças de pulos de pessoas. Segundo o professor e freak nas horas vagas, essa mudança ocorreria com a força mínima de 600 milhões de pulos simultâneos no hemisfério oeste (?) [No meu ponto de vista foi importante excluir o leste do planeta porque não dá pra considerar a massa corpórea dos subnutridos da África, por exemplo].

Além de alterar a rotação da Terra e reduzir os impactos do aquecimento global, teríamos os dias com 32 horas!!! Para quem já trabalha 14 horas por dia é fácil imaginar a escravidão imposta pela mudança?

Às 21h07 do horário de Brasília já havia 600.255.379 puladores registrados... Vai ter gente louca assim lá em Jacacity!

Mais informações no http://www.worldjumpday.org/.

PS.: Cá entre nós, isso não parece coisa dos malucos do The Yes Man, aqueles sobre o qual lhes falei?


domingo, julho 16, 2006

'Carros' e sua piada interna socialista



Carros é mais um filme da Pixar. Com todos aquela mensagem moralista etc, etc e etc. Não que ache isso ruim. Eu sou mãe, pô! Quero meu filho vendo filmes do bem. Recheados de lições de moral e -como diria Cosmo (personagem do excelente 'Os Padrinhos Mágicos' ou 'Fairly Odd Parents')- cheias de blá, blá, blá, blá e blá.

Eu sempre me emociono com esses desenhos e Monstros S.A. ainda é o meu favorito. Mas em Carros, a qualidade das imagens impressiona a ponto de nos fazer esquecer que se trata de um desenho. Bem, a trilha é composta de música country e não poderia ser diferente embora o gênero musical não me agrade.



Saí do cinema hoje com uma satisfação talvez difícil de ser superada por 'Superman, o Retorno'. E contrariando o senso-comun, o ponto alto do filme eleito por mim (um diálogo entre o jovem Relâmpago McQueen e a kombi bicho-grilo Fillmore). Algo como:

McQueen: Por que nunca ouvi falar em gasolina orgânica? É muito boa!

Fillmore: Porque o governo comanda as indústrias de petróleo...

****

Eduardo Galeano e Michael Moore devem ter adorarado.

HAHAHAHAHA

***
PS. Aliás, em South Fillmore há uma extratora de petróleo. Descobri no Google, quando pesquisava imagens pra esse 'post'.

quinta-feira, julho 13, 2006

O diabo é o pai do Rock




Meu pai gostava de Raul Seixas mas preferia qualquer uma do Robertão ou do Fábio Júnior. Minha mãe, de Ray Conniff. Eu tinha cinco anos e gostava de Rita Lee. Lembro-me de ter pensado, por várias vezes, na possibilidade dela ser minha mãe.

Eu e minha prima dançávamos "Lança Perfume" nas festas de Natal da família na época em que o tema da música representava, na minha cabeça de criança, um possível arremesso de um frasco.

O ano era 83. Meus pais estavam em processo de separação (e pelo menos nos anos seguinte eu me livrei das fitas cassetes do Fábio Júnior, levadas na mala do meu pai).

Talvez tamanha confusão na minha casa levou alguém a deixar a tevê ligada em um festival que, provavelmente, não atrairia as atenções da minha família. Exceto a minha.

O evento era o 1º Rock in Rio. No palco, um bando de homens de cara pintada. Uma visão quase demoníaca para alguém que desconhecia o "Pai do Rock", segundo o porra-louca Raul. Nas mãos de Paul Stanley e companhia, uma guitarra. Era a primeira vez que eu via uma. Ou pelo menos, a primeira lembrança de uma.



Lembro-me de ter sentido um pouco de medo daquele ser de língua vermelha e olhos esbugalhados, um 'tal de Gene Simmons'. Foi quando ouvi uma voz, provavelmente da minha mãe, dizendo: "parece que eles cultuam Satã". E eu atônita pelo espetáculo e pelo som das guitarras, superei qualquer temor e debutei minha paixão pelo rock´n roll.

******

Hoje não importa qual é a melhor banda. O melhor disco. Ou o vocalista mais expressivo. Ou de quem é a paternidade do gênero. Seja de Deus ou do Diabo, o rock continua sendo minha cartase favorita.

Ainda que alguns dos meus ídolos estejam indo e vindo, subindo ou descendo, um Feliz Dia do Rock para todos!

domingo, julho 09, 2006

O que deu em Zidane?



Contrariando a maioria dos brasileiros, pelo menos aqueles eu conheço, torci pela França por uma série de motivos.

Um deles atende pelo nome de Zinedine Zidane.

Pela elegância, pelo bom futebol e -apedrejem-me se quiserem- por ter dado aquele chápeu no Ronaldo. Acabei me esquecendo da decepção e da raiva pelo tal jogador em 98.

No entanto, a cabeçada de Zidane aumentou minha decepção pelo futebol nessa Copa.

E as perguntas que ficam na minha cabeça são: o que deu na cabeça do Zidane? Que diabos Materazzi disse pra causar tamanho destempero? E uma ainda mais grave: se o árbitro não viu, o bandeira ignorou e a demora na expulsão foi estranha, quem determinou a saída (justa, é fato) do jogador mais elegante da Copa?

******
O que o Materrazi pode ter dito?




Minhas possibilidades:
1. Você pode até ganhar a Copa. Mas eu sempre terei mais cabelo. E sou mais gato porque sou tatuado.
2. Eu sei o que você fez no vestiário no verão passado.
3. O Ronaldo te cumprimentou. Mas eu vou quebrar suas pernas.
4. Eu já peguei a sua mulher.
5. Sou italiano e mesmo assim meu nariz é menor que o seu


E você, o que acha?

sábado, julho 08, 2006

A teoria do azar

Revista Veja 4 de junho de 1997 - Entrevista: Robert Matthews

O físico inglês explica por que torradas caem
com a manteiga para baixo e tantas outras
coisas dão errado na vida das pessoas


Thomas Traumann

No café da manhã, a torrada escorrega do prato e cai no chão com o lado da manteiga virado para baixo. Quando se tenta escolher às pressas as meias no guarda-roupa, o par raramente combina. Na hora de fechar a porta, a chave correta é uma das últimas do chaveiro. Azar ou simples coincidência? Nem uma coisa nem outra, segundo o físico inglês Robert A.J. Matthews, 37 anos. Ele é um especialista nesses pequenos aborrecimentos diários que se tornaram conhecidos como produtos da lei de Murphy, aquela segundo a qual, se algo tem chance de dar errado, essa coisa, pode ter certeza, vai dar errado mesmo. Matthews transformou-se num cientista popular ao provar que a queda da torrada com a manteiga virada para o chão ou os pares de meia que não combinam são resultado de princípios elementares da matemática e da física. Formado pela Universidade de Oxford, já teve artigos publicados nas principais revistas científicas. Uma delas, Scientific American, estampou-o na capa em abril passado. Casado, pai de uma menina e dois meninos, Matthews mora com a família em Cumnor, pequena cidade do interior da Inglaterra, de onde deu a seguinte entrevista a VEJA:

Veja -- Qual a origem da lei de Murphy?

Matthews -- O autor dessa expressão, o capitão da Força Aérea americana Edward Murphy, foi a primeira vítima conhecida de sua própria lei. Em 1949, ele participava de testes sobre os efeitos da desaceleração rápida em piloto de aeronaves. Para medir isso, construiu um equipamento que registrava os batimentos cardíacos e a respiração dos pilotos. Certo dia, Murphy foi chamado para consertar uma pane no equipamento e descobriu que havia um erro de instalação em todos os eletrodos. Foi aí que ele formulou a teoria segundo a qual as pessoas sempre optam pelo jeito errado de construir determinado equipamento se houver duas maneiras diferentes de fazê-lo. Na prática, era um bom princípio de engenharia de segurança, mas acabou se popularizando com uma lei capaz de explicar os aborrecimentos do dia-a-dia. Como o próprio Murphy previra, havia duas formas de entender o seu princípio e as pessoas escolheram a errada.

Veja -- O senhor concorda que, quando alguma coisa tem chance de dar errado, dá mesmo?
Matthews -- Muitos dos aborrecimentos do cotidiano são bem mais freqüentes do que gostaríamos. Em geral, essas chateações não decorrem de uma grande conspiração contra o bem-estar da humanidade, mas de princípios científicos simples. O problema é que, muitas vezes, os próprios cientistas não enxergam isso e preferem acreditar que esses azares são produto da nossa memória seletiva, que nos faz lembrar mais facilmente dos episódios que dão errado do que dos que dão certo.

Veja -- Por que razão o senhor se interessou pela lei de Murphy?
Matthews -- Comecei a estudar o assunto há uns três anos, depois de ler o relato de um experimento de física numa revista científica. O artigo mostrava que, ao cair de uma mesa, um livro pousava muito mais vezes com a capa virada para o chão do que para cima. Achei o resultado intrigante porque, do ponto de vista da lei das probabilidades, as chances de a capa cair virada para o chão deveriam ser de apenas 50%, uma vez que o livro só tem duas faces. Quando repeti o teste em casa, percebi que o resultado da queda de um livro a partir da borda de uma mesa não tem nada a ver com possibilidades matemáticas, mas com a ação da gravidade e um pouco de fricção. Dessa forma, desvendei também um dos princípios mais célebres da lei de Murphy, o da torrada que sempre cai com a face amanteigada voltada para o chão.

Veja -- Como o senhor chegou a essa conclusão?

Matthews -- Meus testes mostraram que uma torrada, um livro ou qualquer objeto de formato semelhante têm uma tendência natural de cair de cabeça para baixo porque o torque gravitacional não é suficiente para que eles girem completamente sobre si mesmos antes de chegar ao chão. Isso quer dizer que, ao despencar de uma mesa, a torrada nunca terá tempo de dar uma volta completa de maneira a atingir o chão com a manteiga para cima. A distância entre a borda da mesa e o solo só permite que ela dê meia-volta. Isso não tem nada a ver com azar, com o fato de um lado da torrada estar coberto de manteiga ou com a ação de algum gnomo invisível. É pura ciência básica. Se a distância entre o topo da mesa e o chão fosse maior, o resultado seria diferente e é provável que o lado da manteiga estaria salvo.

Veja -- Nesse caso, a lei de Murphy só funciona em virtude da altura das mesas?
Matthews -- Exatamente. Mas isso leva a novas perguntas: por que as mesas não têm altura maior? Porque isso não seria conveniente nem confortável à anatomia humana. E por que os seres humanos não são maiores de modo a permitir que as mesas sejam mais altas? Porque qualquer ser bípede e de forma cilíndrica como os seres humanos não pode ter mais de 3 metros de altura. Pelas leis da física, acima desse porte ele correria risco de vida. Um homem ou uma mulher com 3 ou 4 metros de altura quebraria facilmente a cabeça numa queda. Para que uma torrada caísse com a face amanteigada para cima, seria necessário que a mesa tivesse acima de 2 metros de altura. Isso nunca será possível porque a adaptação dos seres humanos às leis da física impede que tenham estatura muito maior que a atual.

Veja -- O senhor quer dizer que as pessoas estão condenadas a sempre ver as torradas cair com a manteiga para baixo?
Matthews -- Uma solução seria passar a manteiga na face de baixo da torrada, mas isso iria complicar muito a vida das pessoas. Pode parecer estranho, mas se uma torrada estiver caindo da mesa o melhor a fazer é dar-lhe um tapa na horizontal. Isso vai aumentar a sua velocidade e impedi-la de virar. Não salva a torrada, mas evita ter de limpar a manteiga no chão.


Veja -- Em 1993, a rede de televisão BBC reuniu 300 pessoas para jogar torradas para cima e observar como caíam no chão. Só em metade das tentativas as torradas caíram com a manteiga para baixo. O que saiu errado?
Matthews -- Eles não fizeram o teste direito. A situação proposta pela BBC era ridícula. Ninguém fica jogando torradas para o alto durante o café da manhã. Os meus experimentos levaram em conta o que ocorre no cotidiano, quando a torrada escapa pela borda da mesa e vai direto para o chão sem a interferência de nenhuma outra força que não a da gravidade e a da fricção.

>Veja -- Quando uma pessoa vai ao banco ou ao supermercado, geralmente sai com a sensação de que a fila escolhida era a mais lenta. Existe alguma explicação científica para isso?

Matthews -- Pela lei das probabilidades, é sempre mais provável que você pegue uma fila mais lenta. Num supermercado com cinco caixas, as possibilidades de pegar a fila que naquele momento específico vai andar mais rápido que as demais é de somente 20%. Nesse caso, você tem 80% de chances contra você. É uma probabilidade bastante elevada. Significa que, em cinco chances, você tem quatro de entrar numa das filas mais lentas. Não se trata de azar, mas de simples conta matemática. Se alguém observar o ritmo das cinco filas durante o dia inteiro, perceberá que, em média, todas andam na mesma velocidade. A sensação é diferente quando se entra numa delas em determinado momento do dia.

Veja -- E por que motivo quando se tenta abrir a porta de casa com um molho de chaves na mão a correta é sempre a última?


Matthews -- As chances de que a chave correta seja a primeira ou a última são exatamente iguais. As possibilidades de acerto, porém, diminuem de forma proporcional à quantidade de chaves no molho. Quem chega em casa depois de um dia de trabalho geralmente está cansado, quer abrir logo a porta e sempre tem a esperança de acertar na primeira tentativa. Num chaveiro com duas chaves, as chances de acerto são de 50%. Num molho maior, com dez chaves, a possibilidade diminui para apenas 10%. Ou seja, nesse caso há nove chances de erro contra apenas uma de acerto. As chances aumentam bastante depois de feitas as cinco primeiras tentativas, quando resta menos da metade das chaves a ser experimentadas na fechadura. O problema é que, ao chegar a esse ponto, as pessoas já estão convencidas de que há uma conspiração do chaveiro, do universo e da matemática contra elas.

Veja -- O senhor não acredita em coincidência, sorte ou azar?
Matthews -- Não, o que há são probabilidades matemáticas de que alguma coisa aconteça ou não. Veja o caso dos aniversários. Muitas pessoas se espantam quando descobrem que outras nasceram no mesmo dia que elas, considerando que um ano tem 365 dias. Matematicamente, no entanto, isso é muito provável. Se você juntar um grupo de 23 pessoas escolhidas ao acaso, as chances de que duas façam aniversário no mesmo dia é de 50%. Para provar isso, estudei as datas de nascimento de 22 jogadores mais o árbitro de dez jogos de futebol na Inglaterra. Na teoria, eu deveria encontrar cinco aniversários coincidentes em cada partida. Acabei achando seis, o que está dentro da margem de erro. Portanto, se você anda à procura de coincidências, certamente vai achá-las porque, nesse caso, a matemática joga a seu favor.

Veja -- Outra regra da lei de Murphy diz que, numa gaveta de guarda-roupa, a chance de uma meia com par desaparecer é maior do que a de outra, solitária. Por quê?
Matthews -- Imagine que você tenha uma gaveta com dez pares de meias. Por alguma razão, uma única dessas meias se perde. A questão é saber qual será a próxima meia a desaparecer. Usando um ramo da teoria das probabilidades chamado combinações, é fácil entender que se uma segunda meia se perder é mais provável que será uma entre os nove pares completos do que aquela que está sozinha. Quando a terceira meia desaparecer, continua sendo extremamente mais provável que a próxima seja a de um par já formado. Se esse desaparecimento de meias continuar, na metade da história você vai ficar com somente dois pares completos e com outras seis meias avulsas.

Veja -- O senhor quer dizer que é muito improvável que uma pessoa consiga manter uma gaveta com pares de meias completos?
Matthews -- Sim, e isso tem sustentação científica. Numa gaveta com dez pares de meias, é quatro vezes mais provável que você algum dia acabe sem um único par completo do que com todos eles completos. Não há como fugir dessa fatalidade, a menos que você compre apenas dois tipos de meias, metade preta e metade azul, por exemplo.

Veja -- Por que quando alguém sai à rua com guarda-chuva geralmente não chove?
Matthews -- Porque a chuva é um fenômeno mais raro do que se imagina. Mesmo aqui na Inglaterra, onde chove muito e o serviço meteorológico é considerado eficiente, matematicamente a chance de chover em determinado horário é sempre menor que a de haver sol ou apenas céu nublado. No meu estudo, trabalhei com a possibilidade de chuva na hora do almoço. As pesquisas mostram que nesse horário chove apenas uma vez em cada dez dias chuvosos. Então, mesmo que o serviço meteorológico preveja chuva para amanhã, a possibilidade de que chova no exato momento em que você sair à rua é pequena.

Veja -- Além de criar curiosidades de almanaque, que utilidade prática pode ter o estudo da lei de Murphy?
Matthews -- É uma forma de tornar mais populares e didáticos os conceitos da física e da matemática. Quando você toma como exemplos situações rotineiras, como a queda da torrada e os pares de meias que não combinam, fica mais fácil explicar coisas que, do contrário, soariam abstratas demais. O estudo da lei das probabilidades tem aplicações práticas muito sérias e úteis. Serve, por exemplo, para tentar prever a proximidade de um terremoto. Grandes terremotos são fenômenos muito raros. A única certeza que se tem hoje é que, em algum momento, haverá um terremoto de grandes proporções em San Francisco, nos Estados Unidos, e em Tóquio, no Japão. Isso pode acontecer no mês que vem ou em cinqüenta anos. O estudo das probabilidades pode salvar milhares de vidas nessas cidades. Infelizmente, por enquanto seria tão caro e improvável montar um serviço de previsões eficiente que a melhor solução é investir o dinheiro em tecnologia de construção de edifícios que sobrevivam à catástrofe.

Veja -- No ano passado, o senhor recebeu o Prêmio Ig Nobel (junção satírica da palavra ignóbil com Nobel), atribuído de brincadeira pelos estudantes do Instituto de Tecnologia de Massachusetts a pesquisas consideradas inúteis. O senhor também se considera uma vítima da lei de Murphy?
Matthews -- Eu acho que saí ganhando com a brincadeira. O Prêmio Ig Nobel foi anunciado poucos dias antes e ganhou tanto destaque na imprensa inglesa que acabou ofuscando o verdadeiro Prêmio Nobel. Talvez porque seja mais fácil entender as torradas que caem da mesa do café da manhã do que a teoria de superfluidos do gás hélio, a pesquisa premiada com o Nobel de física do ano passado.

Veja -- Na sua vida pessoal, as coisas costumam dar mais certo do que errado?
Matthews -- Algumas dão certo e outras tantas dão errado, como na vida de qualquer pessoa. Ninguém pode levar a lei de Murphy ao pé da letra e achar que ela é culpada por tudo de ruim que acontece. Se o seu carro quebrar quando você estiver atrasado para um encontro, é muito provável que a culpa seja sua porque deixou de levá-lo ao mecânico, e não do capitão Murphy. Afinal, na maioria das vezes o carro não quebra o tempo todo. Meus estudos sobre a lei de Murphy fazem sucesso porque mostram às pessoas que a ciência pode ser algo divertido e próximo do nosso dia-a-dia.

Tinha essa entrevista no computador há algum tempo e resolvi compartilhar com você, que sente-se tão injustiçado pela vida cotidiana quanto eu e o Harvey Peaker.
Sunday Bush Sunday

Enquanto Bono deseja ser o presidente do mundo, quem acha que é deseja ser o Bono? Trata-se de paródia ou uma estranha coincidência? It´s up to you, fellows.

sexta-feira, julho 07, 2006

À Deriva




Imaginei sons
Dores de blues chovemNem quis acordar
Lembrar que não sonho mais
Nenhum dia
Vou mergulhar
Nessas noites sem ar

Correspondi sempre
Se arrependeu cedo
Se me afastar, então já fui
Te confessei tardeCruzei o caminho

De um rio que não corre
mais no seu leito
Vou mergulhar
Nessas noites mortais


Tudo anda lento
Imerso em nós
Diga, se me encontrar
Que nada é bom assim
"Vem pra mim"

Composição: Ed Motta e Zélia Duncan

E FOI HOJE QUE PERCEBI.
DEUS, EU GOSTO DE POP ART.
MAS SOU ART DECÓ!


Em breve, o desenho roubado do site da Marisa Monte vai parar no meu braço.

quarta-feira, junho 28, 2006

O dia em que ganhei uma bicicleta

Parte 1 - O passado

O dia em que ganhei uma bicicleta soa como o título de uma redação infantil.
Durante minha infância, contudo, nunca pude escrever um texto como esse.

Fui irmã caçula de família suburbana e quase sempre dura. Ou seja, combinação perfeita para uma criança sem bicicleta nova.

Bem, eu até tive uma Ceci cor-de-rosa herdada da minha irmã (saliento aqui um detalhe importante: quando minha irmã ganhou a bicicleta ela já era usada. Foi quando em um processo de 'upgrade' passou da cor branca para a rosa). Tempos depois minha irmã passou da idade de andar de bicicleta e me deixou a Cecizinha de presente. Já meio arranhada, é fato. Para mim, foi como retirar a primeira carteira de habilitação.

Os anos se passaram e eu nem me lembro o destino da Ceci rosa que me levara à escola durante anos. E eu nunca mais andei de bicicleta.


Parte 2 - O presente


Festa junina na escolinha do meu filho. Lá vou eu animada com a possibilidade de me entupir das guloseimas desta época. Confesso até ter tentado um 'porre' de quentão e vinho quente, em vão.
A escola é filantrópica (embora particular), ligada à Igreja Católica, e vez ou outra promove eventos para construir mais um banheiro, mais uma sala, mais alguma coisa seja ela qual for.
Logo, a festa junina oferece uma ocasião imperdível para encher os cofrinhos, desta vez, com vistas à ampliação da escola. Acabamos compelidos a comprar cartelas pro bingo beneficente.
Reclamo aqui em casa. Bingo? Afe. Mas pago e fico com as cartelas.



O dia é 27 de junho. Sob o pretexto de não perder o dinheiro investido nas cartelas, vou marcando os números sorteados. De início acho um saco mas depois acabo me empolgando. Ao fim já estava gritando coisas como "Manda a Boa", digna de uma senhora de 76 anos. E eis que no terceiro lance de sorte deste ano, eu ganho uma bicicleta 'zero quilômetro'. E de 18 marchas.

Volto à ser criança.

;-)

quarta-feira, junho 21, 2006

"O, O, Barbosa, essa coisa é perigosa!"

Estamos em junho e o Carnaval não sái da minha cabeça...

E nem é o que vocês estão pensando!

Trata-se do tema do texto (ensaio) que finalmente comecei.

Espero ter o Carnaval por mais de dois anos latente aqui na minha vida.

terça-feira, junho 20, 2006

A merda do início



Eu havia estabelecido não falar nada fora do
politicamente correto nesse blog. Exemplo: foda-se
trocado por dane-se etc. Até porque não sou do
tipo que fala palavrão. Muito menos pra parecer
descolada ou revoltada sem motivos maiores. Já
passei dos 16 há 12 anos. Não preciso fingir infelicidade
pra ser aceita. Até porque (parte dois) ser aceita
já não interessa tanto.

Bem, essa pirâmide clássica e nada invertida ou
esse lead digno de nota 3 --caso se tratasse de um
texto pra graduação (período encerrado há oito anos)
foi uma introdução para dizer uma sentença simples.
"COMO É DIFÍCIL COMEÇAR UM TEXTO".

Explico: um texto de verdade e não essas coisas que
escrevo aqui sem ritmo, métrica ou melodia.
Pode soar estranho para alguém que me conhece ler
uma afirmação dessas escrita por mim. Sou capaz de
escrever um troço como esse em menos de cinco minutos.
Mas a situação muda completamente quando são estabelecidas
certas regras ou em situações regadas ao estresse das sextas-feiras
à noite (quem já fez 'pescoção' em jornal diário sabe do
que estou falando).

O resultado? A criatividade vai pro ralo. O desespero se
instala.

Estou há dias ensaiando para escrever um ensaio. O trocadilho
foi péssimo mesmo. Tão ruim quanto a minha ausência de introdução.
O caso é tão grave que não consigo nem começar o óbvio.

Nessas horas, meu único consolo é lembrar da resposta da
bruxa boa do leste à Dorothy, em "O Mágico de Oz".
Quando questiona "Por onde devo começar?", a menina tem a resposta
da bruxa: "Bem, é sempre bom começar pelo começo".

Pena não ter uma estrada de pedras amarelas pra me ajudar.
É uma merda mesmo. Foda-se o politicamente correto agora.

quinta-feira, junho 15, 2006

comic soccer

Se serve de consolo, a atuação do Brasil poderia ter sido pior. Três minutos de puros pernas-de-pau!

segunda-feira, junho 12, 2006

No País do Futebol


Futebol é um assunto que definitivamente não me interessa.

Sou torcedora do São Paulo Futebol Clube mas raramente assisto a algum jogo. Inclusive partidas envolvendo o tricolor paulista. Digo-me torcedora porque fico feliz quando o São Paulo vence. Fiquei emocionada ao entrar pela primeira vez no Morumba. Não gosto do Corinthians. E não superei a perda do campeonato sabe-se-lá-qual para o Palmeiras em 92.

Apesar das evidências contraditórias apontadas acima, em geral, não vejo mesmo futebol. Nem me pergunte o nome de algum jogador do São Paulo. Sei lá.

Mas o fato de ser brasileira parece nos embuir de uma paixão misteriosa pelo tal esporte. Dessas que a gente só descobre quando é beijada de sopetão. De repente percebe: 'uau, onde isso estava o tempo todo?'.

Pois é. Há três dias tenho batido o meu recorde de horas em frente à TV. Culpa da programação da ESPN. Vejo de tudo. Jogos, comentaristas, documentários. Mais jogos. Minha casa está decorada por várias bandeiras. Algumas confeccionadas pelo meu filhote, em papel comum e transformadas em móbile. Outras de tecido, plástico, adquiridas na loja de R$ 1,99. Fiz um estoque de pinhão e milho para pipoca. E as 10 latas de cerveja guardadas há dois meses finalmente vão para a geladeira.


Hoje eu só penso neles.




Hoje somos todos mais brasileiros.



Demagogia? Que se dane! Esse é nosso 4 de Julho!


Agora é nossa cartase coletiva.

sexta-feira, junho 02, 2006

Sim, baby. Isso é o tal do mau humor. Acontece às vezes.

Só a dor pode provocar a criatividade literária. Crio situações para me forçar a mantê-la.



A arte é uma utopia. O simulacro de uma colcha de patchwork. O espectro de um mosaico. Se tiver som, ele é um conjunto de samplers mal arranjado.



Acabei o dia de meias de lã. Efeito do frio pairando por aqui. Ninguém fica feliz usando meias de lã.



Essas frases estão um saco. Não é educado. Eu sei. Mas que se dane.



Eu começo e nunca termino nada. Meu filho nasceu antes da 40º semana. Por pura ansiedade da mãe.



Pobrezinho.



Quero irritar alguém. Por isso vou ouvir Oswaldo Montenegro no último volume.



Obs. Texto assim não tem imagem.

Sonhos



Sou uma pessoa de poucos sonhos.

Alguns grandiosos, dignos de Almir Klink e Família Schurmann.

Ver a aurora boreal.

Ter o fio de Ariadne. Quem sabe acharia assim a saída pra esse labirinto e desbancaria o Minotauro?

Passar abril em Paris.

Ter um pessegueiro na janela do meu quarto. Florindo o ano todo, de preferência (ignorando qualquer lei da natureza).

Uma cama extra-maxi-large-king-size. Coberta por lençóis de foto de revista especilizada em decoração.

Ter o serviço do Café do Ponto 24 horas à disposição.

Continuar sonhando.











(os sonhos mais bocós eu não tenho coragem de contar)

domingo, maio 28, 2006

O Triunfo da Ignorância

As relações privadas entre os homens formam-se, parece, segundo o modelo do bottleneck industrial. Até na mais reduzida comunidade, o nível obedece ao do mais subalterno dos seus membros. Assim, quem na conversação fala de coisas fora do alcance de um só que seja comete uma falta de tato. O diálogo limita-se, por motivos de humanidade, ao mais chão, ao mais monótono e banal, quando na presença de um só 'inumano'. Desde que o mundo emudeceu o homem, tem razão o incapaz de argumentar. Não necessita mais do que ser pertinaz no seu interesse e na sua condição para prevalecer. Basta que o outro, num vão esforço para estabelecer contato, adopte um tom argumentativo ou panfletário para se transformar na parte mais débil.


Visto que o bottleneck não conhece nenhuma instância que vá além do factual, quando o pensamento e o discurso remetem forçosamente para semelhante instância, a inteligência torna-se ingenuidade, e isso até os imbecis entendem. A conjura pelo positivo atua como uma força gravitória, que tudo atrai para baixo. Mostra-se superior ao movimento que se lhe opõe, quando com ele já não entra em debate. O diferenciado que não quer passar inadvertido persiste numa atitude estrita de consideração para com todos os desconsiderados.
Estes já não precisam de sentir nenhuma intranquilidade da consciência. A debilidade espiritual, confirmada como princípio universal, surge como força de vida. O expediente formalisto-administrativo, a separação em compartimentos de tudo quanto pelo seu sentido é inseparável, a insistência fanática na opinião pessoal na ausência de qualquer fundamento, a prática, em suma, de reificar todo o traço da frustrada formação do eu, de se subtrair ao processo da experiência e de afirmar o 'sou assim' como algo definitivo, é suficiente para conquistar posições inexpugnáveis. Pode estar-se seguro do acordo dos outros, igualmente deformados, como da vantagem própria. Na cínica reivindicação do defeito pessoal pulsa a suspeita de que o espírito objetivo, no estádio atual, liquida o subjectivo. Estão down to earth, como os antepassados zoológicos, antes de se alçarem sobre as patas traseiras.

Theodore Adorno, in 'Minima Moralia'

sexta-feira, maio 26, 2006

It´s Friday, I´m in Love




Levanto. Bocejo. Lembro ter sonhado com o show dos Los Hermanos. Um que nunca começava e então, conversávamos com o Amarante. Rio. Rá, Rá, Rá. Ligo o computador. Escrevo seislinhas bobas. Faço uma sobremesa. Ouço The Cure. Tomografia do filhote. Volto pra casa. Saio. Jantar com as amadas amigas Lú e Ester. Mato saudades. Tomo vinho. Rio. It´s Friday. I´m in Love.




Imagens: The Cure, Official Site


Vida

Só a poesia possui as coisas vivas. O resto é necropsia.

Mário Quintana

quinta-feira, maio 25, 2006

O desbravador e o arco-íris



Desligou o computador. Deitou-se em sua cama mal cheirosa e barulhenta. Havia sido de um hospital fechado há quase meio século. O aço grosso e de formas arredondadas nem branco era mais. Amarelado, como minhas pupilas em dias como este.

As paredes vertiam a umidade que dava o tom ora esverdeado ora acinzentado às paredes. Até os fungos mudavam naquele ambiente conforme os batimentos do seu coração. Explico: estranhamente, após noites em que aquelas quatro paredes abrigaram dois corpos ardentes, dele e da mulher amada, as paredes amanheciam verdes. Seria para tonalizar a esperança de dias melhores?

Nos dias seguintes, as malditas paredes ficavam cinzentas novamente. Como se quisessem lembrá-lo da falta de cores nos dias de metrópole. Da vida sem sentido que levava desde a partida da mulher amada.

Não suportava mais tamanha dor. Levantou-se e colocou a roupa. Aparentemente a de sempre. Calça e blusas pretas, como sua alma. Casaco jeans.
Acendeu o cigarro. Abriu o vinho guardado sobre o criado mudo, iluminado pela lâmpada amarela que descida por um fio grosso (tantas vezes batera a cabeça ali e espalhara a poeira para o restante dos móveis), responsável pela sombra pendular na parede.

Saiu disposto a mudar sua vida sob a garoa fina do amanhecer naquela metrópole. Ao caminhar pela rua, viu um arco-íris além do horizonte de prédios. Pensou. “É um sinal. As cores desembarcarão no meu destino”.

E de repente, viu-se verde. Leve.

Imagem: Henry Ford Hospital o La cama volando 1932 oleo en metal (30.5 x 38 cm), Frida Khalo

terça-feira, maio 16, 2006

Achamos nossos Bin Ladens



Assunto de 10 em cada 10 rodas de conversa em São Paulo e de 9 em cada 10 blogs, a violência no Estado de São Paulo afetou a todos nós.

Não dava pra deixar de falar sobre isso aqui. Moro em Jacareí, a 80 quilômetros de São Paulo. A distância não diminuiu o pânico. Pela tarde -e isso é fato, não boato-pessoas corriam desesperadas pelo centro da cidade ao mesmo tempo em que o comércio e as agências bancárias fechavam suas portas.

Dos 174 carros da frota da única empresa de transporte de ônibus, quatro foram queimados seguindo o mesmo rito da Capital. A ordem era para os passageiros descerem e, em seguida, coquetéis motolov davam conta do incêndio.

Mesmo no meu bairro, um lugar tranquilo a quatro quilômetros do centro, os comerciantes baixaram as portas antes das 15h. Histeria ou não, ninguém pagou pra ver. E assim, alunos de escolas públicas e particulares -pelo menos 30 mil deles-, ficaram sem aula. Tive que buscar meu filho às pressas depois de receber o telefonema da escola. "A ordem é pra dispensar todo mundo", disse a secretária do estabelecimento.

Em São Paulo, amigos ficaram presos no trânsito. Outros foram dispensados da aula depois de enfrentarem mais de 300 quilômetros de estrada até a Cidade Universitária. E o cafezinho da galera pós-aula foi suspenso, arbitrariamente.

A origem dos ataques está mais enraizada que a exigência das 60 tevês de tela plana aos líderes do Primeiro Comando da Capital, o tal PCC. Coincidentemente ainda, o anúncio dos convocados para a Copa passou como assunto secundário ou terciário quando deveria ser manchete. Assim como as 960 demissões anunciadas pela General Motors de São José dos Campos aqui na minha região.

Hipocrisia é temer o movimento somente agora. Dizer que o caos está sob controle. Como qualquer instituição, os criminosos são solidários com seus companheiros. No Rio de Janeiro, os 'irmãos' do CV (Comando Vermelho) suspenderam a varrição dos presídios como forma de 'contribuição' aos 'irmãos' da facção criminosa paulista.

Discutir as conexões do PCC com o CV agora é bobagem. O crime organizado está aí, com estratégias de marketing pra Abílio Diniz nenhum botar defeito. Basta ver esse link , de uma série de reportagens que fiz sobre o crime organizado em 2002, pelo ValeParaibano:

http://jornal.valeparaibano.com.br/2002/07/31/jac/abre.html

À época, o delegado seccional assistente também não deu muita bola ao caso. Não fosse pelos esforços do diretor do Procon de Jacareí, José Rubens de Souza, e pelo empenho jornalístico nas investigações, cerca de 300 pessoas continuariam, possivelmente, importunadas pelos bandidos.

Foi preciso o jornal meter a boca e o Procon o dedo no assunto que estava sendo investigado paralelamente pela Polícia Federal do Rio de Janeiro. Um dos meus orgulhos profissionais, sem demagocia ou 'autoelevação'.

Na década de 90, quando o PCC surgiu no CRP de Taubaté as autoridades negligenciaram a organização -que distribuiu, à época, seu organograma. Bobagem, devem ter pensado.

Coincidência ou não, o corpo de 'soldados' do PCC são chamados de 'Bin Laden'. E guardadas as devidas proporções, tivemos nosso 11 de setembro no dia 15 de maio de 2006.

Imagem; Charge de Angeli, publicada ontem no site UOL

Naufrágio



Se minha vida fosse uma embarcação,
ela estaria assim, certamente.

É difícil não ganhar.

Desde janeiro de 2005 o meu barco
passa por um lento naufrágio.

Ora o vento sopra pro lado oposto.

E a embarcação volta a flutuar.

Hoje perdi uma esperança.

Em meio ao clima de caos, recebo
por telefone, uma notícia que só
fará manter a incerteza na minha
profissional.

Eu preciso voltar. Mas pra onde?

?

Imagem original em:
http://www.histarmar.com.ar/Antartida/Decepcion/Antiguas/Naufragio.jpg

___________

Ou talvez só me falte foco?



Imagem original em:
http://www.flyingfishsoft.com/reznor/art/foco.JPG

sábado, maio 13, 2006

Pós-modernismo



O que é a morte do sujeito?




Quem é você? Quem somos nós?




Qual a sua identidade, seu ID?



Se você ainda não sabe, pode
fazer uma lá no www.zebracards.com.


E dar uma passada no www.memefest.org.br/brasil
depois de visitar o 'subversivo' www.rtmark.com.

Se ainda assim não se achar, instale o sitemeeter
na sua página.

Pelo menos saberá da onde surgem 'os outros'.


________

PS.: Esse é meu centéssimo 'post'.
E o primeiro com uma imagem
genuinamente criada ontem por
mim, fruto de uma idéia surgida na
Marginal Pinheiros, em SP.


Obrigada, Fá pela ajuda com
o Photoshop!
E ao André Mesquita, por me
abrir as portas do ativismo
(mesmo que eu fique às margens
dele)!

quinta-feira, maio 11, 2006

consolo



Os meus pensamentos brotam.
Mas nunca florescem.

________

E hoje uma febre me abateu.
Como um tapa no rosto.
Transbordou em um desarranjo hormonal.

___________

E as respostas de e-mail que nunca chegam?
E as mensagens que não queremos ler?
E as descobertas em torno da sexualidade alheia,
abrindo as portas da admiração?

___________________

Finalizando esse post totalmente sem sentido.

INTELLIGENCE IS SO, SO, SEXY.

this is for you.

quarta-feira, maio 03, 2006

As aventuras da pantufa verde



Capítulo 1
Esta é uma história de aventura como muitas outras com direito a piratas, bruxas, castelos, ilha deserta e até um menino ou menina como você. Também é uma história meio sem começo ou fim. Dessas que a vovó inventa pra gente dormir, mas acaba nos deixando acordados por mais tempo! É uma história sobre um par de pantufas que pode estar por aí. Em qualquer lugar. Até nos seus pés!

Feitas em feltro verde, as pantufas já nasceram remendadas por pedaços de tecido vermelho e amarelo. Não se sabe porquê, mas elas podiam se adaptar a qualquer tamanho de pés. Talvez tenham sido feitas pelo pai de um bebê que crescia sem parar, assim como fermento que faz dobrar de tamanho o bolo da mamãe. Ou, quem sabe, por um ogro costureiro?

O fato é que a aventura das pantufas começou há muito, muito tempo... Numa época em que fadas e duendes viviam soltos por aí e não precisavam se disfarçar de estátuas nos jardins.

A primeira aventura que se tem notícia ocorreu ainda quando os piratas navegavam pelos mares –com direito a tapa-olho e perna de pau. Um dia, um navio desses corsários atracou em uma ilha perdida no oceano. A ilhazinha era pequena e o espaço de terra mal dava pra abrigar dois coqueiros. Entre eles havia um baú dourado que brilhava como sol, mesmo na noite escura do oceano.

Curiosos, os piratas resolveram atracar para buscar o tal baú. Eles mandaram o que pensava ser o menos corajoso. O homem que era dono da maior barba já vista foi quem recebeu a tarefa de ir até a ilhota remando em um barquinho de madeira escurecida pela maresia e descascado como árvore antiga.

Ao chegar na ilha, o pirata –que na verdade era só o cozinheiro do navio— viu que a embarcação dos corsários estava afundando. Sem ter pra onde ir ele ficou lá na ilhota com o baú. Dentro da caixa havia uma carta amarelada de tão velha e borrada pelas gotas que caíam dos coqueiros e iam direto para dentro do tal baú. Dentro dele estava o par de pantufas verdes.

Sem sapatos, as pantufas serviram de consolo para os pés do pirata cozinheiro e naufrago. Ele não tinha muito o que fazer então passava os dias, meses e anos conversando com as pantufas mesmo sem saber direito o que eram. Antes de encontrá-las, ele nunca havia visto coisa parecida.

Muito tempo depois, o cozinheiro ainda mais barbudo e maluco avistou um navio. Ao se aproximar, a tripulação concordou em tirá-lo de lá desde que, em troca, o homem desse seu baú e tudo que havia dentro dele.

E as pantufas mudaram de mãos.

No navio, o capitão ficou decepcionado ao descobrir que as pantufas eram o único ‘tesouro’ daquele baú dourado e emprestável. Por fim, acabaram se esquecendo delas em algum lugar da gigantesca embarcação de pesca, lotada de peixes por todos os cantos –até mesmo debaixo dos beliches onde dormiam os marinheiros.

Um dia, um dos peixes que se mantinha ainda vivo mesmo horas depois de ser pescado, sabe se lá por qual motivo, acabou engolindo aquele par de pantufas verdes. Que acabaram parando em um mercado na Índia, escondidas dentro do peixão que acabou não resistindo à viagem –para alívio dos marinheiros que já estavam até com medo do bichinho.

(continua)

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Minha primeira incursão pela 'literatura' infantil desde os meus 8 anos, quando escrevi o livro "A Cachorra Teka".
Pretendo dar continuidade, mas postei esse texto aqui em homenagem ao meu filho, Henrique, que está internado hoje com pneumonia e é, além de meu melhor amigo, minha fonte de inspiração e revisor dos meus textos infantis.


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A imagem aí de cima é da maravilhosa ilustradora Bárbara W. Steinberg. Obviamente, não foi feita para o meu blog. Faz parte do portfólio da artista, que pode ser acessado pelo site http://www.babiws.com.br. Achei tão boa que resolvi fazer um merchandising. O contato dela (que nem faz noção da minha propaganda aqui) é pelo telefone 11 8124-7217.

A imagem de cima faz parte do livro "Cadê meu avô?", da Editora Biruta 2004
http://www.babiws.com.br/images/ilustracao14_r4_c14.jpg

domingo, abril 30, 2006



Dos chatos
(também por Mário Quintana)

"O maior chato é o chato perguntativo. Prefiro o chato discursivo ou narrativo, que se pode ouvir pensando noutra coisa... Me lembro que fiz um soneto inteiro — bem certinho, bem clássico e tudo — durante o assalto ao Quarto do Sétimo, isto é, quando um veterano de 30 me contava mais uma vez a sua participação nas glórias e perigos daquela investida.

As velhotas que nos contam seus achaques também são de grande inspiração poética.

Mas que fazer contra a amabilidade agressiva do chato solícito? Aquele que insiste em pagar nossa passagem, nosso cafezinho, ou quer levar-nos à força para um drinque, ou faz questão fechada de nos emprestar um livro que não temos a mínima vontade de abrir...

Ah! ia-me esquecendo dos proselitistas de todas as religiões. Os proselitistas amadores, que são os piores. Quanto aos sacerdotes que conheço, registre-se em seu louvor que eles sempre me falam de outras coisas. Ou me julgam um caso perdido ou um caso garantido... Bem, qualquer que seja o caso, deixam-me em paz.

O que pode acontecer de mais chato no mundo é o chato que se chateia a si mesmo, o autochato.

Para essa extrema contingência, descobri em tempo que a última solução não é o suicídio. É escrever, desabafar para cima do leitor, o qual, se me leu até aqui, a culpa é toda dele.

Há gente para tudo..."

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Incitando a auto-reflexão.
Como cantaria Oswaldo Montenegro, dono
dos discos mais chatos da história
da MPB, "Eu sou um chato, meu Deus
não me aguento. Só me tacando no mar"


Foto capturada em http://www.yellowcakewalk.net/images/Sept3_2005/brota_com_bush_pentelho.jpg

Acordando os mortos



A Carta
Por Mário Quintana

"Hoje encontrei dentro de um livro uma velha carta amarelecida,
Rasguei-a sem procurar ao menos saber de quem seria...
Eu tenho um medo
Horrível
A essas marés montantes do passado,
Com suas quilhas afundadas, com
Meus sucessivos cadáveres amarrados aos mastros e gáveas...
Ai de mim,
Ai de ti, ó velho mar profundo,
Eu venho sempre à tona de todos os naufrágios!
"


A Carta
Por Stela Guimarães

Aos 91 anos, ela colecionava cartas e pedaços de papel que eram a sua própria existência. Diferentemente da história usual, quando se colecionam cartas escritas pro outrem, ela guardava cuidadosamente as cartas escritas por ela própria e nunca entregues.

Eram cartas de amor, sempre direcionadas ao mesmo endereço, embora Ele nem vivesse mais lá ou neste mundo, à cartas de reclamação recentemente escritas à organismos de defesa ao consumdidor.

Sua vida estava lá, toda contada a pessoas que ela esperava encontra no Paraíso. Há muito tempo ficara sabendo que as cartas para o bem amado eram escritas em vão. Ele havia morrido em um trágico acidente envolvendo a escada de uma igreja e sua cadeira de rodas.

Mesmo sabendo da morte, ela continuava escrevendo incessantemente. Sentia-se assim em contato com aquele com quem vivera os melhores seis dias de sua vida, em um verão muito, muito distante dos dias idos.

E assim ela ia seguindo, escrevendo enquanto o ar entrasse em seus pulmões. E assim ele estaria lá, sempre.


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PS.: Justificativa brega e decadente: Porque toda Rose tem um Jack perdido em algum oceano por aí.
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Pergunta que quer calar:

Vale a pena acordar nossos mortos?
Ou continuar a nossa vida desviando
atenção a cada ocorrência de tal
pensamento?

That´s all, folks!

terça-feira, abril 25, 2006

Ordinary Life is Pretty Complex Stuff*



Nem Super Man, Batman, Robin ou Lanterna Verde. O herói ou melhor, o anti-herói, como sugere o título em português, dessa história atende pelo nome de Harvey Pekar, cuja vida inspirou o filme American Splendor, ou o Anti-Herói Americano, no Brasil, lançado em 2003 pela HBO Films.

Elevado ao posto de celebridade graças ao relato de sua vida supostamente sem graça no gibi de mesmo título do filme, o arquivista aposentado de um hospital de Cleveland foi ‘descoberto’ em meados da década de 70 pelo amigo Robert Crumb, famoso desenhista e criador do personagem “Fritz, The Cat” responsável pelas primeiras ilustrações do arquivista que apesar de criativo não dispunha de talento artístico “traçar uma única linha reta”, segundo ele próprio.

Desde o seu lançamento, o gibi American Splendor recheado do azedume de Pekar diante da vida foi aclamado pela crítica americana e suas edições chegavam a esgotar nas prateleiras das lojas.

O sucesso residia justamente em demonstrar o fracasso de sua vida sem maior pretensão além de imprimir a marca peculiar de seu humor azedo e desencanto em relação ao sistema político e à própria existência por meio de um retrato ‘em preto e branco’ do seu cotidiano de ‘pessoa comum’.




Dono de um romantização às avessas, a história de Harvey é a do próprio com a do personagem ilustrado nos seus gibis. É parte da indústria cultural e sabe ter sido explorada por ela –principalmente pelas mãos de David Letterman, com quem dividiu as atenções, na pele de entrevistado (pago pela emissora NBC) do famoso talk show Night Life.

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Depois de escrever achei essa crítica muito mais aprofundada
Dessa forma, transformado em ícone do anti-herói, nunca deixou o emprego de funcionário público mesmo quando, depois de nove edições de seus gibis, começou enfim lucrar com o trabalho literário.

A produção –e é claro, as idéias azedas do criador de American Splendor—, estão presentes no filme que mescla o tom documental e ficcional/dramático, com direito a quadrinhos animados e a participação ativa de Pekar, responsável pela narração de si mesmo, vivido na ficção pelo competente ator Paul Giamatti (de Sideways, entre outras).

A exemplo de seu protagonista, o filme acabou à margem do circuito comercial dos cinemas, embora esteja disponível nas locadoras. Já os livros e gibis ainda não estão disponíveis no Brasil (se alguém achar, avise-me, por favor). Nos Estados Unidos, a antologia de American Splendor pode ser encontrada por U$ 18,75 no site oficial do autor, http://www.harveypekar.com.

“Before we get started with any of this you might as well know I had vasectomy”

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PRA QUEM GOSTOU, RECOMENDO A CRÍTICA DO CINEMA EM CENA,
relacionada abaixo.

Anti-Herói Americano - American Splendor, 2003

Dirigido por Shari Springer Berman e Robert Pulcini. Com: Paul Giamatti, Hope Davis, James Urbaniak, Earl Billings, Harvey Pekar, Judah Friedlander, Toby Radloff, Donal Logue, Molly Shannon e Daniel Tay.

'Por que todo mundo tem que ser tão idiota?', pergunta o jovem Harvey Pekar logo no início de Anti-Herói Americano, estabelecendo, de imediato, a mal-humorada visão de mundo que o acompanhará por toda a vida e que irá inspirá-lo a roteirizar Esplendor Americano, uma série de revistas em quadrinhos que se tornou sucesso entre o público underground e que deu origem a este filme.

Escrito pelo casal Shari Springer Berman e Robert Pulcini (que também divide a direção), Anti-Herói Americano é um fascinante estudo de personagens que não se preocupa em narrar uma história com trama bem definida e que tenha começo, meio e fim. Não, nada disso: aqui, a única reviravolta que acontece é a própria passagem do tempo e sua ação sobre os protagonistas: um bando de indivíduos cínicos e desesperançados cujo desprezo pelas demais pessoas só perde, em intensidade, pelo desprezo que sentem por si mesmos. Não é à toa que, ao olhar para o próprio reflexo em um espelho, Pekar constata: 'Esta (sua aparência) é uma decepção com a qual eu sempre posso contar'.

Incapaz de traçar sequer uma linha reta, Harvey Pekar (o verdadeiro) entregava seus roteiros para que diversos desenhistas os ilustrassem - e, como conseqüência, cada edição de Esplendor Americano trazia uma diferente versão do protagonista (o próprio autor), que poderia variar entre 'um jovem Brando e um macaco peludo'. Pois uma das grandes virtudes desta releitura para o Cinema deve-se justamente à fidelidade do roteiro a esta constante mutação do (anti) herói: apesar de ser interpretado por Paul Giamatti, é Pekar quem narra o filme, chegando a comentar a diferença: 'Aí estou eu... ou melhor, o cara que está me interpretando e que não se parece nada comigo'. Aliás, o longa vai além, e chega até mesmo a exibir cenas de 'bastidores' que trazem os atores ao lado dos 'personagens' que representam.

Mas não é só isso: além de contracenar com o verdadeiro Pekar, Paul Giamatti também divide algumas cenas com a versão em quadrinhos do mesmo - e, em certo momento, assiste a um espetáculo teatral no qual o sujeito é vivido por outro ator, Donal Logue. Com isso, Anti-Herói Americano se transforma em um filme auto-referencial e com várias camadas de realidade e ficção, que se entrecruzam de maneira inteligente e dinâmica (há uma cena na qual a atriz Hope Davis, que vive a esposa do protagonista, assiste a uma entrevista concedida por este a David Letterman - e como uma imagem de arquivo é utilizada pelos diretores, cria-se a inusitada circunstância em que a versão fictícia da esposa ultrapassa o limite entre a fantasia e a realidade e consegue enxergar o verdadeiro Harvey Pekar).

No entanto, em vez de comprometer a experiência do espectador ao 'retirá-lo' do filme, quebrando a ilusão do Cinema, o filme acaba se beneficiando com o recurso, que confere ainda mais dimensão aos personagens e transforma o longa em uma combinação fluida de documentário e ficção (ao contrário do recente 1,99 - Um Supermercado que Vende Palavras, que escapa de ambos os gêneros). Além disso, a estupenda performance de Giamatti intensifica ainda mais este efeito, já que suas expressões corporal (sempre encurvado e desconfortável) e facial (o cenho constantemente franzido e o olhar que jamais encara o interlocutor) convertem o Pekar da ficção em uma visão extremamente fiel do original. E a boa notícia é que o mesmo pode ser dito sobre as atuações dos demais integrantes do elenco - em especial Hope Davis e Judah Friedlander, que encarna o auto-proclamado nerd Toby Radloff.

Não será surpresa alguma, a indicação de Anti-Herói Americano a vários prêmios de relevo - especialmente nas categorias Filme, Direção, Roteiro Adaptado, Ator, Edição e Direção de Arte. Aliás, o único 'defeito'grave que encontrei na produção diz respeito à tradução de seu título para o português: 'anti-herói americano' pode até ser uma definição interessante do papel de Harvey Pekar, mas é romântica demais. Particularmente, creio que a melhor escolha teria sido a tradução literal, Esplendor Americano, cuja ironia certamente não passará despercebida por quem já tiver assistido ao filme.

Seja como for, Pekar deve ter ficado satisfeito com o resultado final. Ele pode até não saber se ainda é uma pessoa real ou se já se tornou um personagem (preocupação que manifesta em certo instante), mas isso não importa: ambos são fascinantes.


19 de Outubro de 2003

quinta-feira, abril 06, 2006

Qual é o nosso tamanho?




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Conceito artístico descreve um tipo de estrela morta
chamada pulsar e o disco de poeira estelar que a envolve


Um conceito artístico não datado mostra um tipo de estrela já morta chamada pulsar circundada por um disco de poeira estelar. A estrela foi descoberta pelo telescópio espacial da NASA Spitzer.
A pulsar, chamada 4U 0142+61, foi um dia uma grande estrela até que, há cerca de 100.000 anos, despedaçou-se numa explosão supernova e espalhou escombros e poeira no espaço. Alguns dos escombros foram capturados no que os astrônomos chamam de "disco de retirada", que agora circunda o que sobrou do núcleo estelar, ou pulsar.
O disco assemelha-se a discos protoplanetários de estrelas jovens, onde se crê que planetas nasçam.


REUTERS/NASA/JPL-Caltech/Handout
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Astronomia é um assunto fascinante. Quando criança, um dos meus sonhos era ter um telescópio gigantesco pra observar as estrelas e os planetas. Sofri quando vi a passagem do cometa Harley apenas a olho nu, pela total falta de incentivo (e grana, principalmente) dos meus pais.

Aos 16, li pela primeira vez “Uma Breve História do Tempo”, do físico Stephen Hawking.
Passado os anos e hoje provedora do meu sustento ainda não comprei o tal telescópio. As estrelas continuam lá e as respostas ainda não vieram. Até mesmo Hawking reviu suas teorias em um livro que ainda não li.

Todo mundo sonha em ir ao espaço mesmo que ele nos dê a dimensão da nossa pequeneza.

E você. De que tamanho é?


Obs. Obrigada André (e Elton) pela cobrança do meu retorno por aqui ;-)

quarta-feira, março 15, 2006

sexta-feira, março 10, 2006

Estupidez



Meu alter-ego anda tão estúpido
que ultimamente precisa ser
alimentado com feno.

Outrora fica tão sensível e chora
ao ver o que restara da sua última refeição.

imagem captada de http://geocities.yahoo.com.br/toscanaturismo/feno.jpg

Para Fabiano

segunda-feira, março 06, 2006

domingo, março 05, 2006

(Talvez) antes do fim, o belo


Denise Alba -a autora da bela foto aí de cima- foi amiga no colégio, lá em meados dos anos 80. (Juntas construímos um vulcão de papel machê e purpurina vermelha pra feira de Ciências).
Mantivemos um breve contato porque, de alguma maneira, nossas vidas
sempre se esbarraram por aí em uma porção de pequenas coincidências.
Nossos maridos têm o mesmo ofício e brincamos sobre o nome dos dois.
Perguntamos uma a outra, "Como vai o Fá?", "Bem, e o Fá? Como vai".
Sempre gostei da Denise e foi uma grata surpresa descobrir que além
de muito bacana ela é muito talentosa. Talentosíssima, eu diria.
Ela ficou envergonhada quando eu disse. Mas sabe que é uma artista
com obras de arte impecáveis. E deixou eu colocar algumas imagens
captadas e tratadas por ela pra vocês desfrutarem aqui.
Com uma máquina na mão e destreza no Photoshop, ela imprime belas cores ao cotidiano.
Seu mundo é feito de magenta, yellow e ciano. Talento e inspiração.
Parabéns, Denise.

;-)

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Para ver mais, clique no título desse 'post' e vá para o Fabuloso Mundo de Denise Alba. A trilogia das calças e livros caídos no chão é uma das minhas favoritas.

sábado, março 04, 2006

Por onde eu saio?



No Ano do Cão, minha semana fez juz ao calendário chinês.

Sobre minha cabeça paira a sensação de total incerteza.

Depois do susto de descobrir a suspensão definitiva do meu "benefício" do INSS (aliada à notícia sobre uma bursite filha-da-puta que se instalou aqui no meu ombro depois da cirurgia) acabei-me num corre-corre pra descolar uns documentos capazes de comprovar a natureza da minha "incapacidade laborativa" na Justiça.

Em seguida, o susto dos honorários advocatícios capaz de provocar "the 'timing point'" (algo como o ponto de transbordo do catchup). Susto este tão grande que me fez despencar em prantos como criança contrariada (e nem de óculos escuros eu estava, confirmando a Lei de Murphy).

Até acusada injustamente de maledicência virtual fui. Eu já estou cansada de provar tudo. Que estou doente, embora não quisesse. Que não sou mau educada, embora às vezes devesse ser. Que não choro pra causar comoção mas porque sou de uma natureza extremamente sensível.

Cansada da falta de inspiração para escrever um texto decente e merecedor de leitores.

Durante um acesso de sei-lá-o-quê, quase deletei meu blog e comprei um diário de verdade, daqueles como os da época do colégio. Ainda penso nessa possibilidade. Nesse meio de incerteza nem sei se quero manter esse blog e continuar digitando com uma mão apenas, expondo malezas da minha alminha que não interessam à ninguém.

Passado o Carnaval entrei nas cinzas e nem renasci ainda.

E vocês?

PS.: Se alguém souber onde é a saída, por favor, avisem-me.

A Hard Day



O dia começou meio sem anúncio. A real hard day.
Não há ponto final ou começo quando não se dorme.
De repente eu estava de volta à realidade.
As perguntas não paravam de surgir, em uma espécie
de auto-formulação.
Não há nenhum lirismo nelas. Nenhum resquício metafísico.
Tratam-se de preocupações concretas.
"Quando vou melhorar? Quando e será que liberarão meu pagamento? O que devo fazer? Como vou pagar? Quem o buscará na escola? Dará tempo de ir ao banco? Tirei todas as cópias? Devo seguir meu instinto ou confio naquela que possui a OAB? O que o Paulinho fez para ser acusado? Qual o número do maldito telefone? Tenho dinheiro para um lanche? O que faço no almoço? Compro ou não o peixe? Vale a pena pedir isso à Justiça? (seguidas por um etc ad eternum)"
Estou cansada disso. Da necessidade da prova constante.
Queria dormir e sonhar como um Dostoievski ou um Kundera.
E acordar com os braços de Hércules.

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A Better Day
Contrariando os maus momentos do dia 3 de março, a imagem é do belo A Hard Day´s Nigth, estrelado pelos "quatro garotos de Liverpool" (para não perder a chance de mais um clichê neste blog).
Vale a pena conferir as imagens do filme rodado na década de 60, responsável pela inspiração do título deste 'post'.

So, so sorry
E a correria fez com que me esqueçesse pela primeria vez de assoprar velinhas junto dos queridos tio Waldir e do amado amigo Leandro, nascidos ambos (com um lapso temporal de pelo menos 25 anos), ao dia 2 de março sob a insígnia de Peixes.

quinta-feira, março 02, 2006

A vida começa depois do Carnaval



Passada a euforia inicial
regada a momentos de êxtase
no Morumbi,
E a maré de sorte que nos
levou gratuitamente até lá e
culminou com a aprovação surpresa
na ECA,
Às marchinhas enlouquecedoras de São
Luiz do Paraitinga responsáveis por
resgatar minha paixão pelo Carnaval,



É chegada a hora da realidade.
E as cinzas de quarta-feira se abateram
sobre mim.

Chega a hora de voltar às filas do INSS.
De implorar pelo reconhecimento da
"incampacidade laborativa" que, na verdade,
eu não gostaria de dispor.
Às intermináveis sessões de fisioterapia
e a incerteza financeira decorrente de
todo esse processo.



Sinto-me recapturada e trancafiada pela
segunda vez no Castelo de If. Novamente,
por uma falsa acusação.

Para refletir
Será preciso sempre provar a inocência?
Às vezes a culpa nos cái bem. Mesmo que não seja nossa.