segunda-feira, janeiro 29, 2007

Você desmancharia em moléculas?


Costumo defender os filmes que gosto como um religioso ortodoxo à frente do púlpito. Esforço-me para não parecer entusiasmada demais, mas sempre acabo citando-os com tom excitado quando tenho a chance. Mas minha postura fanática acaba com um suspiro (um hãm...) quando o interlocutor discorda da qualidade da película. Tudo bem (embora eu suba as sobrancelhas finalizando um gesto bem arrogante, admito). Todos têm um mau gosto qualquer e isso é o charme das conversas. Eu gosto de Maroon Five embora lembre-me de NSync quando vejo a perfomance dos garotos. Compartilhar gostos e desgostos é uma das graças da vida.

A introdução foi só para justificar tamanha exaltação a olhos vistos naqueles que eventualmente lerem este texto. Falo sobre Antes do Pôr-do-Sol, lançado em 2004, com Julie Delpy e Ethan Hawke, um dos filmes mais fantásticos que já vi. Tudo bem, você pode pensar que é entusiasmo demais para um filme cuja história é contada em ‘tempo real’, centrada em dois personagens e a cidade de Paris como pano de fundo. A magia do filme consiste justamente no diálogo dos personagens. Enquanto o diálogo transcorria, eu pensava: “puta que pariu! É isso mesmo!”, estabelecendo minha sincronia e empatia com o casal e sua história.

O filme foi lançado em 2004, nove anos após o lançamento do também poético Antes do Amanhecer, quando os personagens de Julie (como Celine) e Hawke (Jesse) vivem uma noite de encontro e romance em um trem. Antes do Pôr-do-Sol trata do reencontro dos personagens e encerra a dúvida deixada ao final de seu antecessor: teriam os amantes se encontrado seis meses depois daquela noite, conforme prometido ao final de Antes do Amanhecer? Teriam eles se casado, envelhecido, desistido? Amadurecido, hibernado, sofrido, partido?
A resposta, no entanto, não é o ponto alto do filme. Ela é respondida ao longo dos primeiros 10 minutos e nem por isso encerra a emoção da história. Pelo contrário: sua aflição –a mesma que sentimos quando temos uma confissão a fazer, há muito guardada— continua ao longo da conversa pelas ruas de Paris. Seu roteiro foi escrito a seis mãos –pelos dois protagonistas do filme e o diretor Richard Linklater, o mesmo de Waking Life (tema para outro texto) e Escola do Rock (engraçadiiiiinho, divertidiiiiiiiiiinho e só).

Se as questões filosóficas são tratadas em Antes do Amanhecer, elas são o ponto alto das conversas entre Jesse e Celine, temperadas pela angústia e a tensão daqueles que se amam e correm o risco de serem dissolvidos em moléculas no prenúncio de um toque.

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Para quem não gosta de spoillers (textos que contam finais ou detalhes importantes de séries, filmes entre outros, embora esse não seja o caso porque deixei o final de fora), é melhor abandonar a leitura dos diálogos abaixo de lado antes de ir até a locadora.


Sabe, você percebe que a maioria
das pessoas que você encontra
está tentando conseguir
alguma coisa melhor,

sabe, eles estão tentando
fazer um pouco mais de dinheiro,
tentando conseguir um pouco mais de respeito,
ter mais pessoas que as admirem, sabe,
é simplesmente exaustivo!

Sabe, é exaustivo ser você
mesma uma dessas pessoas.

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Eu acho que uma lembrança
nunca é terminada.

Desde que você esteja vivo...
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Quando eu era uma menininha, minha mãe me contou
que eu estava sempre atrasada para a escola.
Um dia ela me seguiu
para ver o porque...
eu estava olhando as
castanhas caindo das árvores,
rolando na calçada, ou...
formigas, cruzando a estrada...
o modo como uma folha modela a
sombra no tronco de uma árvore...
Pequenas coisas.

Acho que é o mesmo com as pessoas.

Eu os vejo em pequenos detalhes,
tão específicos para os outros,
que me movem, e que eu sinto falta, e...
vou sempre sentir falta.

Você nunca pode repôr ninguém,
porque todos são feitos de tais
detalhes de específica beleza.

Como eu me lembro o modo...
que sua barba tem um pouco de vermelho.
E como o sol estava fazendo
ela brilhar aquela...
aquela manhã, logo antes de você sair.

Eu me lembro disso, e ...
Eu senti falta disso!

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Você acha que nós ainda somos?
Eu acho que quando nós somos
jovens...você apenas acredita...
que existirão tantas pessoas
com as quais você se conectará.
Só mais tarde na vida você percebe
que isso somente acontece poucas vezes.
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Mas estou, eu me sinto como
se alguém me tocasse, sabe,
eu me dissolveria em moléculas.

domingo, janeiro 21, 2007

At least


Finalmente um texto neste blog já abandonado.
Na realidade, o fato de não ver sentido nisso não era papo. Era fato.
Hoje, abastecida por mais de uma dúzia da boa e velha combinação do malte plus lúpulo plus whatever sinto-me à vontade para escrever aqui.
Não que não tenha tido idéias. A cabeça anda tão fervilhante quanto outrora. Faltava-me, talvez, inspiração ou força de vontade. Tenho deixado a preguiça me vencer e até por ela mesma tenho tido coragem para dizer isso. É mais fácil assumi-la que criar justificativas para tamanho desapego.
Mas vá lá: com tanta coisa boa para fazer, por que você me visita aqui?
Que venha ao vivo, com cores, cheiros, texturas e sabores.

E que venha o restante da porra de 2007 (perdoem-me os mais eclesiásticos). Porque no final, todo ano é igual ao outro. Por mais pessimista ou paciente que seja essa idéia.

Espero, como milhões de brasileiros, o Carnaval. No meu caso, e aí a dezena é dos milhares, em São Luiz do Paraitinga (SP).