quarta-feira, março 25, 2009

Gene Simmons é chato




Se acha o bam-bam-bam do roquenrol e o maior comedor de todos os tempos.
Faz reality show só porque é pago para tanto.
E desmistificou a lenda sobre a inspiração do Secos e Molhados.
Comecei a gostar de rock pelo Kiss, é fato.
Mas sou mais o U2 --estou preparada por uma cruxificação por dizer isso(se bem que o Bono é chato também!).


Abaixo, reproduzo entrevista com o lider do Kiss ao Jobatê Medeiros, no Estadão de hoje (25 de março de 2009).


Com a língua de fora, mas infatigáveis
Gene Simmons, do Kiss, fala ao Estado sobre o retorno ao Brasil, 10 anos depois
Jotabê MedeirosTamanho do texto? A A A A
Gene Simmons, baixista e vocalista do Kiss, é um herói do rock com a língua solta. Nos dois sentidos. Fala bastante e mostra ainda mais a língua. Aos 59 anos, o mais famoso linguarudo da música falou ao Estado na tarde de segunda-feira sobre a nova turnê da banda no Brasil.

Dez anos depois de sua última passagem pelo País (quando tocou para 40 mil pessoas em Interlagos), o grupo retorna com a turnê Kiss Alive/35 ao País. Toca pra 30 mil pessoas no dia 7 de abril, às 21h30, na Arena Anhembi, em São Paulo (no dia 8 é a vez da Praça da Apoteose, no Rio). Os ingressos custam R$ 170 (pista) e R$ 350 (Pista VIP), à venda no site Ticketmaster.com.

O Kiss vem sem Ace Frehley e Peter Criss, metade da formação original. Como você pode garantir que esse ainda é o Kiss?

Quando éramos jovens, nós achávamos que uma banda nunca poderia se separar senão ela perderia sua alma. Depois, a gente vê que isso não é verdade. Ringo Starr não era da formação original dos Beatles. Vários membros dos Stones saíram da banda, e os Stones não acabaram com a saída de Brian Jones. O Van Halen não acabou sem David Lee Roth. Quase todas as grandes bandas têm formações diferentes de quando começaram. Uma banda é como um time de futebol, não é só um jogador. Quando o time perde, todos perdem. Nós agora temos a responsabilidade de dar à banda a pegada de sempre, de manter o espírito rock?n?roll.

Desde os anos 1970, vocês se mantêm no topo, com legiões de fãs no mundo todo. Qual é o segredo dessa longevidade?

A única coisa que nunca muda, para mim, é que nós buscamos atender às expectativas dos fãs. Não se trata apenas de cantar umas músicas, mas de cantá-las como se fosse a primeira e a última vez. Nós sabemos do sacrifício de alguém comprar um tíquete, esperar com ansiedade o seu show preferido, espremer-se entre a multidão. Porque um dia nós também fomos fãs. Então, o que damos a eles é o nosso melhor, é o que chamamos de extravagância ao vivo.

Há uma espécie de lenda urbana aqui no Brasil que conta o seguinte: nos anos 1970, vocês estiveram no México e viram o show de um grupo brasileiro chamado Secos & Molhados. Dali, copiaram a ideia de se apresentar com maquiagem pesada, mascarados.

Conheço essa lenda. Já ouvimos falar dessa história. Não é verdade. Muitas pessoas acreditam nisso, mas também há muitas pessoas que acreditam em discos voadores, não?

Aliás, há muitas novas bandas que cantam mascaradas hoje em dia, como o Slipknot. Você gosta disso?

É legal, não tenho o menor problema com isso. Eu acho que os novos músicos devem fazer o que acham que têm de fazer. Não importa o que eu acho disso. Mas o princípio deve ser aquele.

A atual formação do Kiss está trabalhando em novo CD. Quando sai?

Sim, vamos lançar um álbum com 12 ou 15 canções inéditas. Já gravamos vocais e guitarras para quatro delas. Devemos concluir o álbum em julho e lançá-lo em setembro. Eu posso definir o som da seguinte forma: é um disco "rock?n?rollover", com uma sonoridade mid-seventies, veloz, pesado. Não haverá nenhum rap, nenhuma música country. É difícil definir música, mas se você mantiver sua mente ligada nessa definição, vai saber muito bem do que se trata. É o som clássico do Kiss.

Você sabe: desde os anos 1990, tudo vem mudando na indústria musical. Hoje, as trocas de arquivos musicais pela internet fazem com que o comércio de música esteja completamente diferente de quando vocês vendiam milhões. Como vê isso?

Algo tem de mudar. Ter algo de graça, para mim, é roubo. Nós não fazemos música por caridade. Escrever uma canção, gravá-la, produzi-la, lançá-la, tudo isso custa. Penso que algo já está mudando, hoje se pode vender música direto em cadeias como Best Buy e Wal-Mart. Minha opinião é que, se a música é de graça, você vai acabar matando todos os novos bebês da música e todos os clássicos. Nunca mais você ouvirá um novo Appetite for Destruction.

Você participa de dois reality shows na televisão, Escola do Rock e uma série já famosa aqui no Brasil, Uma Família Joia (Family Jewels, exibida no canal A&E). Qual é a conexão que você vê entre música e esse tipo de programa?

É tudo a mesma coisa. Quando você grava, você assina com uma companhia de discos, vai ao estúdio, produz, assina contratos de divulgação. Quando escreve um livro, assina com uma editora, vai a eventos de promoção, busca seus direitos autorais. A TV me contratou, e me paga para isso. É uma atividade de criação, como todas as outras.

No show Uma Família Joia você está acompanhado de seus filhos, Nick e Sophie, e de sua mulher, a ex-coelhinha Shannon Tweed. Além da série de TV, o que mais eles compartilham com você artisticamente?

Bom, Nick e Sophie estudam piano e guitarra. Eu disse a eles que, se aprenderem a ler música, poderão fazer música com confiança. Nick também é cartunista. Ele escreve e desenha o gibi Incarnate, que será lançado na Comic Con de San Diego. Sophie é agitada, pratica basquete, tracking. Nós somos sortudos e abençoados.

Ouvi dizer que você também joga golfe, como o Alice Cooper.

Não jogo nada. Não tenho hobbies. Ou melhor: tenho o melhor hobby do mundo, que é ser Gene Simmons do Kiss. É um hobby para o qual não há regras. E eu nunca tenho de perguntar a alguém como devo me comportar ou o que fazer. Mesmo o papa tem de perguntar pra alguém. Eu não tenho mestre nem patrão.


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Aqui pro Gene, ó:



Stela e Fernando, Curitiba-PR, no último dia 14 de março.

Thank you for having us.



Vai ser difícil superar a emoção vivida na noite do último domingo na Chácara do Jóquei Club, em São Paulo. No palco, a banda inglesa Radiohead apresentava-se pela primeira vez no Brasil e expandia-se em uma grandeza maior do que o som, a iluminação e a cenografia perfeita.

Todos elementos compuseram uma simbiose perfeita, finalizada pela platéia, um coro formado por um uníssono potente. Trinta mil vozes embaladas pela maestria daqueles que conduziram um espetáculo, latente na minha lembrança como se não houvesse terminado.

Foram 2h21 vividas no universo paralelo capitaneado por Thom Yorke, indescritível por palavras. O show do Radiohead levou-me a uma dimensão mágica, aquele tipo de lugar onde somente a música mais sublime pode transpor. Não estávamos 'além do arco-íris', como na clássica composição de Harold Arlen, com letra de E.Y. Harburg (a do filme O Mágico de Oz). Estávamos dentro dele: In Rainbows!
E o que eu previa se tratar somente de um bom show regado de melancolia, acabou como momentos intermitentes de felicidade. Naqueles 141 minutos, I lost myself. I lost myself.

Obrigada, Radiohead, por nos acolher.

...






Uma nota: até o show, Radiohead era apenas mais uma banda que eu gostava muito.

segunda-feira, março 09, 2009

O sonho de Mussolini: conhecer a Estação de Tratamento de Água




Nada de conquista da Etiópia, Grécia ou Albânia ou o controle da imprensa. Um dos sonhos de Mussolini é conhecer o processo de tratamento de água na cidade onde vive.

Sorridente e expressivo: é como se apresenta o tal Mussolini (sim, nome da certidão de nascimento), um simpático morador da região central de Jacareí-SP.

Nascido certamente antes da derrocada do ditador italiano em 1945 (eu o conheci hoje, na fila de idosos no setor de Atendimento ao Público da autarquia em que trabalho, daí o indício mais evidente da idade), o homônimo do ditador encara com naturalidade o estranhamento diante de seu nome, que anotei a pedido dele próprio (tentei não ser indelicada, mas acabei soltando a pergunta 'Mussolini, como o italiano?'). Sem cerimônia, ele respondeu: "É, meu pai gostava do ditador e era alinhado ao Facismo", disse-me, sorrindo.

Todo prosa, Mussolini vai me contando sobre uma característica de seu pai: dar nomes um tanto diferentes aos filhos. "Tem um que se chama Argentino. O outro é Alonso, um é Pierre e a minha irmã tem um nome mais comum, Henriquieta. Mas de ditador mesmo, só o meu", diz.

Sem esboçar nenhuma característica próxima a do ditador que inspirou o pai a nomeá-lo, Mussolini não tem sonhos muito grandes. Um deles é conhecer a Estação de Tratamento de Água de Jacareí.
"Sempre quis ir lá, desde os tempos do Toninho Nunes (prefeito de Jacareí nos anos 70) e saber como a água é tratada. Tenho muita curiosidade. Posso ir um dia?", pergunta-me.

Tanta simpatia deixou-me tentada a encaixar o Mussolini na visita exclusiva de mulheres que programamos ao local amanhã, em comemoração ao Dia da Mulher. Enquanto conversamos, descubro que não sou a única a me afeiçoar ao senhor, frequentador conhecido do Setor de Atendimento. Todo prosa, um dos atendentes me diz: "Ê, Stelinha, vi que já tá de conversa com o senhor Mussolini!".

Anoto o telefone e prometo colocá-lo na próxima visita à Estação.Pelas bandas de cá, nosso Mussolini também consegue persuadir os seus conterrâneos. Felizmente, por seu bom humor e simplicidade. Bem distante do egocentrismo do Mussolini 'original'.

Imagem: Mussolini e Hitler

sexta-feira, março 06, 2009

Da janela da minha sala (sem Photoshop).

Dia 5 de março, às 18h39. Olho da janela da minha sala e vejo um fenômeno: o céu, de tão alaranjado, pintou com suas cores os imóveis da cidade. Não foi um pôr-do-sol comum: parecia que os tons do céu desciam ao chão. Lindo espetáculo nessa vida, que vale a pena pelas pequenas belezas.

Imagem capturada de dentro do prédio do SAAE, na praça Anchienta (da Matriz), centro, Jacareí-SP.





quinta-feira, março 05, 2009

Liberdade sitiada na livraria. Ou, sobre como escolher um presente existencialista




“O homem é condenado a ser livre”. Pude verificar in loco essa máxima de Jean-Paul Sartre a partir de uma atividade simples: escolher um presente de aniversário. A liberdade pressupõe uma responsabilidade pelos atos e ficou difícil escolher --e ser livre para tal-- sem o medo de uma gafe.

Primeiro pensei no tipo de presente mais apropriado ao aniversariante. Cigarrilhas trés chic, vinhos chilenos ou mesmo um livro sobre a arte da enologia (esse custava R$ 79) e outro com todas canções do Chico (o Buarque, não o Anísio) passaram pelas minhas mãos. Porém, mesmo aparentemente livre para tal escolha, estou sob as amarras do sistema capitalista. Logo, se escolhesse um presente mais erudito e digno, correria o risco de não honrar com o pagamento do meu condomínio no mês.

Procurei então um presentinho, e não um preseeeeente. Uma lembrancinha, como dizem por aí. O importante é agradar o interlocutor, que pelo perfil, tem um quê de existencialista e por esse mesmo motivo, podia dizer-me abertamente um “ah, não gostei”, sem magoar aquela que o presenteou.

Depois de uns 40 minutos olhando na prateleira de uma livraria de pequeno porte (e com uma vasta coleção de artigos religiosos) de minha cidade, chega a vendedora com o tradicional: posso ajudar?
Respondo com o básico, porém educado, “não, obrigada”. Para mim, não sou eu quem escolhe os livros, são eles que vêm pra minhas mãos. E por esse motivo, odeio ter minha liberdade (sartriana ou não) tolida pelos vendedores de livraria.
Digo que é para um aniversariante que completa 35 anos amanhã. E lá vem ela me indicar a prateleira de... auto-ajuda. Por Deus ou Deeprak Chopra! Eu não compraria auto-ajuda nem pra minha mãe, que gosta do gênero.
Okay, sei se tratar de preconceito, mas prefiro dar um livro do Paulo Coelho a presentear alguém com “Os sete hábitos das pessoas muito eficazes”.

Com a mulher na minha cola, sigo lentamente procurando algo. Foi nessa hora que a antologia do Chico Buarque me saltou aos olhos na prateleira. Logo abaixo, no caos das estantes mal arrumadas, “Entre quatro paredes”, de Jean-Paul Sartre, parece me fitar.

Abro o exemplar e a primeira frase que leio, na orelha do livro, é: “O inferno são os outros”. Lançado em 1945, "Entre quatro paredes" é uma peça de um ato único, com três personagens que passariam a eternidade trancafiados no inferno. O lugar está distante da imagem prevista pelo senso comum: trata-se de uma sala permanentemente iluminada e sem janelas. O inferno, para ele, é a necessidade de tolerar um ao outro. Uma das personagens é Estelle (coincidentemente, Stela, em francês, e achei 'temático' meu nome constar na obra, ainda que indiretamente e dando voz à fútil Estelle).

Por um segundo, penso em desistir e comprar "1984" de George Orwell. Mas aí me lembro de Sartre e do 'lance' da gente ser a totalidade do que ainda não tem, "do que poderia ter". Desisto de levar Orwell e volto à peça.

Bingo! Escolho, pago e tiro a vendedora do meu encalço. Não terei que aturar mais o controle da minha varredura nas prateleiras. Liberdade!



Stela
5/3/2009, às 18h49

(Nesse momento faz uma luz tão incrivelmente vermelha no céu da minha terra que todas as casas parecem pintadas de rosa. Bonito mesmo).