domingo, janeiro 24, 2010

Geisy, a decepção



Geisy Arruda cedeu ao preconceito que tanto disse combater. Com um vestido pink de gosto duvidoso, Geisy fora hostilizada pelos colegas da universidade em um dos fatos marcantes dos media de 2009.

Nas rodas de conversa, não tive dúvidas ao sair na defesa da falsa loira. Defendi o direito à liberdade de expressão manifesta no estilo de se vestir de cada um. Cheguei a tecer teorias relacionadas ao tratamento das mulheres platinadas ao proferir frases do tipo: "se fosse morena, seria tratada na mesma maneira?". Cheguei a ter uma conversa com meu filho sobre piadas de loiras. E pedi a ele para refletir sobre o ocorrido com a universitária. E lembrei-lhe sobre a necessidade de respeito com o próximo.

Na minha época de faculdade havia um transexual no meu prédio que, quase invariavelmente, vestia-se de maneira indiscreta. Em quatro anos, nunca a vi sendo hostilizada pelos alunos. Havia no máximo olhares preconceituosos, mas imperava o respeito.

Geisy também merecia ser respeitada e sequer era de um grupo à margem. Mesmo mais cheinha, ela parecia encarnar o estereótipo da loira-gostosa disseminado pelos programas populares de tevê. Sobravam alguns quilinhos, mas o vestido rosa apontava para uma auto-confiança muito louvável.

Mas Geisy Arruda cedeu à sociedade que a hostilizou. Diz que vai lutar "até o fim" pelos direitos pela humilhação sofrida na universidade. Só que ao esculpir seu corpo com o bisturi para enquadrar-se aos modelos estéticos da contemporaniedade entregou-se àquilo que, aparentemente, desejava combater: a intolerância.

Aos jornalistas, disse ter se inspirado em Carla Perez -dançarina do finado 'É o Tchan' que de gostosa popular também passou a gostosa recalchutada.
Não sou contra cirurgia plástica. Já cheguei a pensar em ceder a esse apelo para corrigir meu nariz. Mas os 435 ml de silicone em cada seio e a lipoescultura que levaram cinco litros de gordura da loira serviram como uma espécie de 'aculturação' que a capacitou a posar nua.
Não discuto os resultados plásticos da intervenção cirúrgica. Ficou bom. Ainda assim, a estudante me decepcionou.

Geisy subvertia os padrões de conduta ao assumir seu corpo um pouco fora dos modelos disceminados pelos reality shows. Geisy era a realidade e, até mesmo, atitude. Agora é imagem intercalada por um 'plim, plim' da tela dessa sociedade da fama instantânea.

quinta-feira, janeiro 07, 2010

Artistas de Jacareí (SP) se unem para ajudar vítimas e valorizar patrimônio cultural de São Luiz do Paraitinga


Coletivo de voluntários reproduzirá Carnaval luizense em show no dia 17 de janeiro, em Jacareí; evento terá grafite, oficina de máscaras, bonecões e gravação de vídeo de apoio


Stela Guimarães


Para milhares de pessoas, a cidade de São Luiz do Paraitinga (SP) é sinônimo de festa, religiosidade e cultura popular. É fácil encontrar alguém apaixonado pelo belo patrimônio arquitetônico da cidade, cenário de diversas manifestações como a Festa do Divino e o Carnaval de Marchinhas. Hoje, São Luiz do Paraitinga não está em festa.

A enchente ocorrida na virada do ano transformou o palco de festa em cena de guerra. Nove dos 11 mil moradores da cidade tiveram de deixar suas casas. Segundo o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo), 300 edificações foram afetadas pela enchente e metade das 80 construções que pertenciam ao patrimônio histórico precisará de obras de restauração. A igreja matriz e a capela das Mercês foram completamente destruídas.

Mas a tragédia não pode esmorecer nossa esperança e nossa solidariedade. Por isso, é com espírito de festa que pretendemos retribuir a alegria ofertada pelos luizenses. E como forma de homenagear e ajudar esse povo acolhedor, um grupo de voluntários formados por artistas de Jacareí (SP) –músicos, atores, artistas plásticos, escritores, publicitários, jornalistas, estilistas e pesquisadores da cultura popular— uniram-se para promover um evento beneficente com objetivo de celebrar as marchinhas de compositores de São Luiz do Paraitinga, interpretadas por 16 músicos jacareienses.

O show será realizado no dia 17 de janeiro (domingo), das 17h às 20h, no Parque dos Eucaliptos, na avenida Nove de Julho, centro de Jacareí (SP). O ingresso será um produto de limpeza (como desinfetantes, água sanitária, hipoclorito de sódio, vassouras, panos de chão) que serão doados às vítimas da enchente.

No local também haverá um posto de coleta para recolher outros donativos como material de higiene pessoal, alimentos não perecíveis, colchões e roupas de cama.
Ação coletiva – Todos envolvidos nessa realização são voluntários da campanha “Nem todo Carnaval tem seu fim. Juntos por São Luiz do Paraitinga”, lançada pelo blog www.ajudeslp.blogspot.com, criado por um professor universitário de Jacareí.

No repertório do show estão cerca de 20 músicas compostas pelos artistas luizenses e que embalam o tradicional Carnaval de Marchinhas.

Para alegrar esse baile haverá bonecões semelhantes aos do Carnaval de São Luiz, oficina de máscaras ministrada por artistas plásticos e o trabalho coletivo de grafiteiros, que prepararão um painel com motivos que remetem à cultura do município afetado pela enchente.

Durante o evento também serão captadas imagens do show e depoimentos de apoio dos participantes. Esse material será transformado em um vídeo, que será como declarações de amor à cultura luizense e de apoio às vítimas.

A ideia dos voluntários é exibir essas imagens posteriormente para os moradores de São Luiz, como uma forma de mostrar que o slogan “Nem todo Carnaval tem seu fim. Juntos por São Luiz do Paraitinga”, não está só no papel.

Venha curtir um pouco da cultura ofertada pelo Carnaval de São Luiz do Paraitinga. Colabore com quem sempre acolheu seus visitantes com música, fé e sorrisos.


stelaguimaraes@usp.br
www.ajudeslp.blogspot.com
(12) 8841-0304
Pesquisadora do Carnaval de São Luiz do Paraitinga na ECA/USP e membro da comissão de voluntários da campanha “Nem todo Carnaval tem seu fim. Juntos por São Luiz do Paraitinga”