segunda-feira, maio 27, 2013

Maroon Five e a pegação de Adam



Adam, o vocalista da banda pop que gosta de se mexer como Jagger e seguidor da preferência do mesmo Mick por top models. Pegando geral desde mil novecentos e guaraná com rolha.

Dias desses vi ao acaso (juro!) um clipe do Maroon 5 que me levantou a seguinte questão: há uma fórmula básica para os clipes da banda no qual sempre estaria presente a fórmula Adam-vocalista-sexy-symbol-sem-camisa-pegador-ferido?

Movida pelo espírito da ciência (imprestável), gastei boa parte dessa minha noite verificando alguns clipes da banda. De um lado do monitor, coloquei meu bloco de notas no qual escrevi palavras-chaves sobre minhas impressões. Do outro, rolava os vídeos do Maroon 5 (leia-se, Adam) do outro.

O resultado desta perda de tempo está abaixo. Se quiser perder alguns minutos de sua vida com algo desnecessário, vá adiante. AVISO ÀS FÃS: ESTE É UM TRABALHO [PSEUDO]CIENTÍFICO. Se acharem ruim, problema de vocês. Aviso aos demais: Não tenho a intenção de ser sexista ou nada parecido neste post. Não tenho culpa se o cara é como o lobisomem da saga Crepúsculo e curte andar sem camisa.

This love


Como tudo começou.
Clipe veio, com menos recursos.
Pegação de Adam e modelo logo no começo, mordida no beiço.
A banda ainda aparecia. TE quero, não quero, te quero, não quero.
Adam mais magro, cueca de fora. Interação com banda e sakuras no concreto.
Adam beija, olha pra camera, mordeção só de calcinha.
Visual teen, munhequeira amarela descontextualizada. "O o oo ooooou ooou"
Efeito ultrapassado lisérgico, mais pegação, blusa vermelha.
E aí apareceu areia no concreto. Tenis Adidas sem merchã.
Modelo magra olha, acarecia perna, Adam cai na areia, mas era uma loira e outra morena? Não entendi.


She Will be Loved


Adam na piscina, lembra da namorada. Ou das namoradas.
Ainda não era Angel, modelo mais baixo orçamento.
Adam tá com uma e quer a mais velha que sensualiza de roupa estampada com o tio de roupão.
Adam acha a mulher do Roberto Justos Cover e beija a Narcisa Tamborendeguy jovem. "Wanna make you beautiful."
Ela é mãe da namorada de Adam, acho, mas ela só queria ser amada.
Banda faz show no barzinho, ele tem a nova, mas quer a mais veia também. Dança com a jovem, mas sabe que panela velha é que faz comida boa.
Pintura estranha ao fundo e ele olha pra madura jovem balzaca que lembra do beijo com o namorado da filha. Ele não quer mais passar o dia todo pensando na mãe da namorada, porque ela também apanha do marido. Narcysa sai atacada e vai pra fonte. A jovem percebe que a mãe abraça o namorado. Uma olha pra outra, eram a mesma pessoa. Adam ainda não usa regata.

One More Night


O resultado da pegação, Adam Pai de família, com dona de casa estilo Angel da Victoria Secret.
Adam Balboa dá uma bitoca na mulher.
Mulher abandona Adam machucado.


Payphone


Assalto, tiroteio, dinheiro na mala. Ah, os caras da banda.
Mulher estilo Angel VS bancária,
Adam cara de nerd pega a pistola e foge com a gostosa, que a essa altura já tá com a roupa abrindo e os cabelos soltos.
Rola um clima na fuga. Adam fodão foge no carro tipo do Speed Racer.
Rapper faz intervenção básica.
Perseguição clichê com explosões, levanta e sacode e poeira.
Adam fica machucado e tira e fica de regata. Spoiler, só que não.

Never Gonna Leave this bed


Adam e namorada Angel da VS tão na cama, no barco, na rua, na chuva, na fazenda. Ela tá de bode, ele tá de bode. Não, eles tão felizes,
Banda aparece por fração de segundos. Adam volta a pegar a namorada no caixote de vidro ambulante.
As invejosa "chora". Ele sem camisa, ela de regata.
Adam hipster, usa wayfarer.
Os dois na cama no BBB. Não, não era o BBB, era na rua mesmo. Ele de cueca samba-canção, colocou uma blusa. Ops, uma regata.
Tipo Yoko e Lennon do pop. Só que bonitos.

Wake up call


Ele tá de bode, ela mentiu pra ele.
Bonitona, mas de roupa não dá pra saber se Angel.
Não, ela tira a roupa.
A banda.
Adam na cama. Pegação. Mais gostosas.
Palavra love, Close caption.
Outro cara pegou a mulher.
Adam fodão, assassino de bandido traidor.
Pole dance, faz parkour. Carrão, mulher. Gostosas amarradas e com desejo.
Pedofilia (medo, somos contra até de brincadeira)? Vegas babe? Striper, mais pole dance. Prisão da banda.
Ele se sente mal. Fez errado, joga corpo.
Explode carro, clichê, mais gostosas. Suruba sugestionada,
Parkour, avião, "Puliça", roda roda, Adam ainda de camisa. tira a camisa, em chamas.

If I Never See Your Face Again com a Rihanna


Como tem Rihanna, acho que não vai rolar Angel da VS.
O vídeo tá carregando.
Adam de roupa, na beira da cama. Mãos da banda. Flash da banda. Foca na Rihanna, foca no Adam.
Rihanna observa. E canta. Todo mundo vestido ainda.
Rihanna arranha o gato. O Adam, claro. A banda até que tá aparecendo.
Rihanna canta, tá sem graça narrar este. A banda aparece, a camisa num sai.
Ah, Rihanna na cama, seduz. Mas Adam só quer Angel que tava no outro clipe.
Adam fodão, não traça Rihanna."Babe babe babe please believe me.."
Fica nesse vai e vai e vem, que ninguém se dá bem.
Adam pega na nunca de Rihanna. E termina vestido, para detonar minha teoria da regata. Damn it.

Misery


Adam cai na rua, Angel de calça coladinha arranca ele do asfalto. Ele pega na bundinha.
Ficam se pegando na perifa. Mordida no lábio. Briga, alisa a bariga negativa. Apanhando de forma cenográfica, atropelado. Se machuca, mas não se fere.
Angel com luva quer cortar o... Adam. Brinca com faca nos dedos, beija, chama a Maria da Penha que o homem tá apanhando, afoga no vaso, mas não revida na mulher que pesa uns 40 quilos.
Atropelado de novo. Essa muié é o capeta, foge Adam pela escada de incêndio, mas o mochila de criança tenta a Angel que fica do mal.
Adam só apanha, mas não tira a camisa.
Pior pancadaria cenográfica de todos os tempos. Ah, o cara da banda. Atropelado também. Adam sangra, como de costume. Acertam outro cara da banda. Coquetel molotov nos caras da banda. Adam corre e fica de camisa.

Love somebory


Adam pelado, mas tecnologia esconde. Vai passando meleca no corpo. Tinta deixa ver os peitinhos dele os caras da banda estão vestidos porque pelado só um, né. Mulher-meleca começa a surgir pra fazer companhia. braços, mãozinha. boca. Passa a mão na bunda, beija a meleca e sugere peitinho (tirem as crianças da sala). Os caras tocam (os instrumentos enquanto Adam pega mulher-meleca-da-VS)
Mulher pega peitos de meleca, muita tinta tola e Adam na pegação. Mulher de biquíni roda e dança. Adam cansou, apaga guria e caras da banda. Tchau Angel. Boca do Adam some. Fim.

Moves like Jagger


Fiquei com preguiça justo nesta aqui.
Adam sem camisa. Deu pra mim, baixo astral.

Minha conclusão é que a fórmula realmente se repete com frequência. Maroon 5 deveria ser Maroon 1, não?

Esse Adam, né? E eu que achava que trocar de top era só mudar a parte de cima pra ir fazer exercício...

quinta-feira, maio 23, 2013

O estupro nosso de cada dia


Na noite dessa quarta-feira (22) uma mulher de 34 anos foi estuprada depois ter seu carro parado por uma pane na Marginal Tietê, próxima à Avenida do Estado. Era 18h30. O criminoso fingiu ser mecânico e ofereceu ajuda à vítima, uma das 16 milhões de pessoas que vivem na maior cidade do País, São Paulo.

A moça, psicóloga, dirigia um Fiat Idea, o mesmo modelo de carro com o qual eu passava pelo mesmo lugar duas vezes por semana. Por três anos, percorri com esta regularidade os 24,5 km da Marginal Tietê. Na maioria das viagens eu estava sozinha. Às vezes, eu passava por ali tarde da noite, mas foi à luz do dia que eu fui ameaçada neste mesmo caminho.

Eu estava em direção da Cidade Universitária, dirigindo com vidros fechados, de óculos escuros de armação azul e lentes grandes, blusa fechada, saia comprida. Todos os veículos das faixas seguiam velocidade regular. Uns 50 km/h, uma boa fluidez, se você considerar que se tratava de São Paulo num dia qualquer de semana.

O tráfego reduziu um pouco e pude ver o motorista da frente acenando pra mim. Achei que era problema no carro. Verifiquei o painel, portas. Nada. A fila foi freando até manter uns 20 km/h. Pude ver melhor o moço do veículo na frente, um carro esportivo, novo, preto. Um Golf ou um Tipo, talvez. Nunca entendi de carro. Fiz um movimento com os braços, com as palmas das mãos para cima. Perguntei séria: “O que?”. O cara colocou a mão esquerda pra fora do vidro. E começou a fazer sinais com os dedos. Um V? Um três? Hum, um dois? Cinco?

Intrigada, olhei no retrovisor dele e vi que ele balançava a mão com polegar e mindinho abertos, os outros três dedos fechados. Deduzi que era um sinal de telefone. O cara parecia dizer: liga pra mim!
Consegui uma brecha, mudei de faixa, acelerei. Ele veio atrás. Da segunda para a terceira faixa, da terceira para a quarta, ficamos nessa dança. O carro me perseguia e foi aí que fiquei com medo. Ele conseguiu emparelhar do meu lado e gritava pra mim. Eu respondi de cara feia: “sou casada!”, mas mantive os vidros fechados.  Eu já era divorciada, mas não pensei em nada diferente. Ele fez um sinal com as mãos e meu conhecimento empírico de leitura labial leu o que ele me disse: “Tenho pau grande. Você gosta?”. Não tenho dúvidas de que esta foi a frase dele.

Acelerei, mudei de faixa de novo. Consegui pegar a pista que eu precisava, a da direita, e subi o pontilhão de acesso à Marginal Pinheiros. Ele sumiu e senti um alívio ao sentir o cheiro fétido do Rio Pinheiros e da empresa de remédios logo após o fim da ponte. Tive medo se continuar sendo perseguida, de ser pega, de ser arremessada na água dos rios. Tudo pareceu muito rápido.

Tive sorte porque meu Fiat Idea não parou como a da psicóloga. Cheguei na USP, falei com uma amiga sobre o incidente, chocada. Meu primeiro questionamento foi: o que eu fiz para provocar isso? Sim, fui seguida na Marginal por um tarado e me senti culpada por alguns momentos. O senso comum apregoa que a culpa é da Eva, que comeu a maçã, certo? Teria eu dado algum indício de sexo livre na Marginal Tietê? Não. Eu não dei, respondi ao meu próprio preconceito.

Okay, você pode achar que isso não é violência, porque não fui tocada pelo estuprador em potencial. Pode parecer que “virou moda” falar de estupro. Eu mesma compartilhei dois textos nesta semana no Facebook sobre as agruras de ser do gênero feminino. Mas o que você não saibe, talvez, é que o que deve sair de moda é mesmo essa violência invisível e falar sobre essas minhas experiências, ainda que negativas, fazem com que eu me sinta mais forte. Que eu reforce para mim que, se pudesse voltar no tempo, teria denunciado todos os agressores que encontrei ao longo da minha vida.

Aos seis anos de idade, um coleguinha meu da escola “primo da prima do meu primo” e seu vizinho tentaram me estuprar na garagem da casa dele, onde eu sempre ia para brincar. O meu amigo tinha sete anos. Seu vizinho, uns 10, 11. Eles me levaram à garagem e disseram: “a gente quer comer você”. Eu pensei que era algo relacionado ao canibalismo. Fiquei assustada e eles me explicaram: “não, tire a sua calcinha, é assim, assado...”. Eu fugi e fiquei embaixo da cama da irmãzinha do meu colega até meu pai me buscar.
Fiquei mais de 10 anos sem falar com este menino, que estudou na minha sala por uns três anos ainda. Nós nos encontrávamos em festas de família, vez ou outra. Já adultos, ele me perguntou: "por que você não gosta de mim, Stela?". Ele não se recordava. Expliquei. Ele ficou envergonhado, jurou não se lembrar. Eu o perdoei. Éramos crianças, certo? Voltamos a ser amigos. Minha raiva passou, mas naquele dia, há tantos anos, um pouco da minha inocência já fora perdida. Talvez eu tivesse que fugir outras vezes. Como, de fato, ocorreu.

A primeira vez que vi um homo erectus foi numa tentativa de estupro. Eu tinha 14 anos, trabalhava numa pequena loja de camisetas. Este cara, que passava de bicicleta todos os dias na frente do estabelecimento e me falava baixarias, um dia entrou no lugar e pediu para experimentar uma roupa. Eu peguei a camiseta e indiquei o banheiro (não havia vestiário). Ele entrou e saiu sem calça, sem cueca. Com um pênis armado pro meu lado. Eu nunca tinha visto um homem sem calças, muito menos naquele estado. Eu corri e peguei o ferro de baixar a porta da loja. Peguei a barra, gritei qualquer coisa e saí, chorando. Pedi ajuda à vizinha, larguei a loja sozinha. E chorei por horas. 

O criminoso – ironicamente cara e vestes de Tiririca, pelo que me lembre -, nunca foi denunciado por mim. Minha mãe reduziu a importância do incidente. Mandou-me trabalhar de volta. O cara não voltou e soube depois, pela minha prima, que ele era carcereiro na Cadeia Pública. Como ela descobriu? Comentando com um e outro sobre o tarado. Antes de mim, era pra ela, que me antecedeu no mesmo trabalho, a quem ele dirigia suas baixarias. Ela também tinha 14 anos de idade.

Em uma dessas incursões de violência, por volta dos 19 anos, eu não consegui fugir. Fui pega não por um desconhecido, mas por alguém com quem eu me esbarrava vez ou outra. Novamente, eu chorei. E “esqueci”.

Nunca havia elencado estas experiências e trazê-las à tona, no papel, é um alívio e uma tristeza. Porque há outras coisas, como ouvir de um chefe que “não contratará mais mulher, porque mulher fica muito doente”. Ou aquela vez que eu menino de rua apertou meus seios no meio da rua, quando eles ainda estavam mal formados. Ou quando um você tem que insistir para um homem usar preservativo, embora alguns deles argumentem que “é como chupar bala com papel” – como se para nós mulheres tanto fizesse a sensação "bala encapada" ou "sem embrulho", e como se fosse um fado nosso esta reivindicação. Ou naquele dia que você quis terminar um relacionamento, por falta de amor ou outro motivo, e levou puxões de cabelo, mordida na mão, entre outras agressões físicas e verbais como "vagabunda, desgraçada".

É triste que este desejo de me expor tenha ocorrido justamente agora, quando esta moça foi estuprada na Marginal Tietê. Mas se ela não se calou, por que devemos nos calar, mesmo a posteriori? E se o silêncio é a conivência, gritemos para que essas histórias sejam denunciadas, punidas, compartilhadas. Eu prometo nunca mais me calar. O estupro nosso de cada dia não merece mais fazer parte de nosso cotidiano.

Stela Guimarães