segunda-feira, setembro 02, 2013

O fim da esperança

A iminência de um ataque norte-americano à Síria, provocado pelo suposto uso de armas químicas pelo governo Assad, coloca em xeque não apenas as intenções dos Estados Unidos nessa ofensiva, mas também derruba de vez a ilusão de um governo democrata baseado na “esperança” – um dos slogans da primeira campanha de Barack Obama, eleito em 2008.

Se confirmada, a intervenção militar será a segunda da história* deflagrada por um Prêmio Nobel da Paz, concedido a Obama em 2009.  Na época, ele comandava as iniciativas contra o Afeganistão e o Iraque, com a diferença de que elas haviam sido herdadas de seu antecessor, George W. Bush.



A questão central sobre a possível guerra gira em torno sobre o interesse real da empreitada. Obama consultou o congresso, de quem espera o aval (ou não, sabe-se lá) para a invasão. Os Estados Unidos ainda pagam a conta de suas guerras anteriores, que resultaram em cortes de investimento na área social. Enquanto isso, empresas como a do ex-vice-presidente Dick Cheney lucraram milhões de dólares com a Guerra do Iraque, conforme revelou o Financial Times, em artigo traduzido ao Brasil pela Revista Fórum.

Nem o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) deu o aval ao ataque, o que tornaria a ação ilegal, segundo analistas como o próprio ex-presidente do país, Jimmy Carter. Em 1999, Estados Unidos já haviam contrariado o órgão com a Guerra do Kosovo. A justificativa, sempre ligada às causas humanitárias, não impede a morte de civis.



E se muitos brasileiros se sentem distantes da possível guerra à Síria, nós que vivemos aqui na fronteira, especialmente, não podemos nos calar. Desde o início da imigração árabe no Brasil, Foz do Iguaçu tem recebido sírios, libaneses e outros povos da região que fizeram daqui sua casa e elegeram o Brasil como lar. Resta torcer para que a paz fale mais alto ao Nobel Obama.

* "Obama não seria o primeiro prêmio Nobel a liderar uma intervenção armada contra um país. Esse título cabe a Nelson Mandela, que ganhou o prêmio em 1998 e mandou invadir o Lesoto em 1999.", lembrou meu amigo e jornalista Jean-Philip Albert Struck.