sexta-feira, dezembro 23, 2005

Stela olha estrelas



VIA-LÁCTEA
XIII

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-las, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto

A via láctea, como um pálio aberto,

Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!

que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas."

BILAC, Olavo. Poesias. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 23ª edição. 1964, p.53.

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XII

Sonhei que me esperavas. E, sonhando,

Saí, ansioso por te ver: corria...

E tudo, ao ver-me tão depressa andando,

soube logo o lugar para onde eu ia.

E tudo me falou, tudo! Escutando

Meus passos, através da ramaria,

Dos despertados pássaros o bando:

"Vai mais depressa! Parabéns!" dizia.

Disse o luar: "Espera! que eu te sigo:

Quero também beijar as faces dela!"

E disse o aroma: "Vai que eu vou contigo!"

E cheguei. E, ao chegar, disse uma estrela:

"Como és feliz! como és feliz, amigo,

Que de tão perto vais ouvi-la e vê-la!"

BILAC, Olavo. Poesias. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 23ª edição. 1964, p.52

Imagem: Starry Night, de Vicent Van Gogh, Museu de Nova Iorque

Um comentário:

Stela disse...

Um dos meus também.
Particularmente, essa é minha favorita. Pois acho que sou da mesma linhagem daqueles que ouvem as estrelas.
;-)