Pintadas a mão por Stela, pessoa estranha porém bem-humorada e insistente na tentativa de imprimir cores em seu mundinho cotidiano mas raramente monocromático.
segunda-feira, janeiro 05, 2009
Polaroid
Quando menina, insistia em piscar os olhos com força cada vez que via uma cena merecedora de ser registrada na memória. Era como se o ato físico do piscar conseguisse produzir na retina uma fotografia do momento e, assim, não descartar da memória a felicidade do instante.
Meu sonho, à época, era uma Polaroid –nome da marca, mas que servia pra denominar aquelas máquinas cujas imagens saíam instantaneamente, com a clássica borda branca (um luxo para poucos nos anos 80).
Tinha medo de perder aquelas pequenas peças de felicidade. Achava que as boas coisas da infância ficariam esquecidas um dia –motivo pelo qual eu atribuía a cara sisuda e preocupada dos adultos. “Não se lembram de como foram felizes quando pequenos. Prometo a mim mesma que não vou me esquecer”.
Não queria deixar apagar dias como o que passei com minha família no Horto Florestal, em Campos do Jordão, quando brinquei com os girinos à beira do lago. Queria me lembrar das guerras de mamonas e das amoras que roubava no quintal numa viela barrenta, perto da minha casa. Gostava dos azulejos azuis da cozinha e de dormir de barriga pra cima no quintal, com meu gato ('Fofão', preto, peludo e cego de um olho) debruçado sobre mim e acompanhando o vai e vem da minha caixa toráxica. Eu não era necessariamente feliz naquele período, mas havia uma plasticidade naquela cena da qual me lembro com perfeição. Havia beleza mesmo nos dias tristes, assim como há uma singeleza incomparável nos dias cinzentos de garoa.
Talvez tenha sido naquela época, quando eu tinha menos de oito anos de idade, que comecei a pensar que os dias de chuva, e não os de sol, deveriam ditar a fotografia de todos os encontros interessante do cinema. Uma vez assistira fragmentos de 'Casablanca' e fiquei com aquela emoção produzida pela imagem da chuva no filme. Apertando minhas pálpebras, fotografei na memória aquele instante, talvez o dia em que o amor romântico, mesmo em preto e branco, começara a fazer sentido pra mim.
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4 comentários:
Lá vai nosso chip!
Polaroid era um sonho! E compartilho o medo de deixar os melhores momentos (e outros tantos nem tão especiais assim) perdidos por aí!
hahahahaha
tô dizendo, andré. viemos do mesmo planeta. só que minha nave chegou poucos anos antes. vim ver se o terreno era seguro pra vc. é claro, que eu te enganei! rs
hahahahaha
tô dizendo, andré. viemos do mesmo planeta. só que minha nave chegou poucos anos antes. vim ver se o terreno era seguro pra vc. é claro, que eu te enganei! rs
huauahua
cada uma destas fotos são os pedaços que compõem nossa vida, fazer uso apenas das fotos que saíram boas, é a certeza de ser feliz, às custas da nostalgia que nos levará a fazer o bem a todo e qualquer pessoa.
bjos moça ....
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