terça-feira, maio 16, 2006

Achamos nossos Bin Ladens



Assunto de 10 em cada 10 rodas de conversa em São Paulo e de 9 em cada 10 blogs, a violência no Estado de São Paulo afetou a todos nós.

Não dava pra deixar de falar sobre isso aqui. Moro em Jacareí, a 80 quilômetros de São Paulo. A distância não diminuiu o pânico. Pela tarde -e isso é fato, não boato-pessoas corriam desesperadas pelo centro da cidade ao mesmo tempo em que o comércio e as agências bancárias fechavam suas portas.

Dos 174 carros da frota da única empresa de transporte de ônibus, quatro foram queimados seguindo o mesmo rito da Capital. A ordem era para os passageiros descerem e, em seguida, coquetéis motolov davam conta do incêndio.

Mesmo no meu bairro, um lugar tranquilo a quatro quilômetros do centro, os comerciantes baixaram as portas antes das 15h. Histeria ou não, ninguém pagou pra ver. E assim, alunos de escolas públicas e particulares -pelo menos 30 mil deles-, ficaram sem aula. Tive que buscar meu filho às pressas depois de receber o telefonema da escola. "A ordem é pra dispensar todo mundo", disse a secretária do estabelecimento.

Em São Paulo, amigos ficaram presos no trânsito. Outros foram dispensados da aula depois de enfrentarem mais de 300 quilômetros de estrada até a Cidade Universitária. E o cafezinho da galera pós-aula foi suspenso, arbitrariamente.

A origem dos ataques está mais enraizada que a exigência das 60 tevês de tela plana aos líderes do Primeiro Comando da Capital, o tal PCC. Coincidentemente ainda, o anúncio dos convocados para a Copa passou como assunto secundário ou terciário quando deveria ser manchete. Assim como as 960 demissões anunciadas pela General Motors de São José dos Campos aqui na minha região.

Hipocrisia é temer o movimento somente agora. Dizer que o caos está sob controle. Como qualquer instituição, os criminosos são solidários com seus companheiros. No Rio de Janeiro, os 'irmãos' do CV (Comando Vermelho) suspenderam a varrição dos presídios como forma de 'contribuição' aos 'irmãos' da facção criminosa paulista.

Discutir as conexões do PCC com o CV agora é bobagem. O crime organizado está aí, com estratégias de marketing pra Abílio Diniz nenhum botar defeito. Basta ver esse link , de uma série de reportagens que fiz sobre o crime organizado em 2002, pelo ValeParaibano:

http://jornal.valeparaibano.com.br/2002/07/31/jac/abre.html

À época, o delegado seccional assistente também não deu muita bola ao caso. Não fosse pelos esforços do diretor do Procon de Jacareí, José Rubens de Souza, e pelo empenho jornalístico nas investigações, cerca de 300 pessoas continuariam, possivelmente, importunadas pelos bandidos.

Foi preciso o jornal meter a boca e o Procon o dedo no assunto que estava sendo investigado paralelamente pela Polícia Federal do Rio de Janeiro. Um dos meus orgulhos profissionais, sem demagocia ou 'autoelevação'.

Na década de 90, quando o PCC surgiu no CRP de Taubaté as autoridades negligenciaram a organização -que distribuiu, à época, seu organograma. Bobagem, devem ter pensado.

Coincidência ou não, o corpo de 'soldados' do PCC são chamados de 'Bin Laden'. E guardadas as devidas proporções, tivemos nosso 11 de setembro no dia 15 de maio de 2006.

Imagem; Charge de Angeli, publicada ontem no site UOL

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