quinta-feira, maio 25, 2006

O desbravador e o arco-íris



Desligou o computador. Deitou-se em sua cama mal cheirosa e barulhenta. Havia sido de um hospital fechado há quase meio século. O aço grosso e de formas arredondadas nem branco era mais. Amarelado, como minhas pupilas em dias como este.

As paredes vertiam a umidade que dava o tom ora esverdeado ora acinzentado às paredes. Até os fungos mudavam naquele ambiente conforme os batimentos do seu coração. Explico: estranhamente, após noites em que aquelas quatro paredes abrigaram dois corpos ardentes, dele e da mulher amada, as paredes amanheciam verdes. Seria para tonalizar a esperança de dias melhores?

Nos dias seguintes, as malditas paredes ficavam cinzentas novamente. Como se quisessem lembrá-lo da falta de cores nos dias de metrópole. Da vida sem sentido que levava desde a partida da mulher amada.

Não suportava mais tamanha dor. Levantou-se e colocou a roupa. Aparentemente a de sempre. Calça e blusas pretas, como sua alma. Casaco jeans.
Acendeu o cigarro. Abriu o vinho guardado sobre o criado mudo, iluminado pela lâmpada amarela que descida por um fio grosso (tantas vezes batera a cabeça ali e espalhara a poeira para o restante dos móveis), responsável pela sombra pendular na parede.

Saiu disposto a mudar sua vida sob a garoa fina do amanhecer naquela metrópole. Ao caminhar pela rua, viu um arco-íris além do horizonte de prédios. Pensou. “É um sinal. As cores desembarcarão no meu destino”.

E de repente, viu-se verde. Leve.

Imagem: Henry Ford Hospital o La cama volando 1932 oleo en metal (30.5 x 38 cm), Frida Khalo

Nenhum comentário: