Queria escrever algo novo, descontextualizado dele,
estratégia boa para não parecer assim muito envolvida. Com medo de assustá-lo,
decidiu ser melhor tratar sobre qualquer outro assunto alheio às coisas do
coração.
A campanha mal sucedida de seu time no Campeonato Brasileiro, a goleada do Barça sobre o
Santos e até a anemia de Neymar poderiam dar cabo de um texto. Havia ainda
aquela entrevista do Zygmunt Baumann no Café Filosófico, sua única incursão pela
TV neste fim de semana. Só Baumann e seus conceitos sobre a fragilidade dos
laços humanos tomariam os dois mil toques de sua coluna semanal. Poderia falar
sobre a modernidade e o amor líquidos, termos cunhados pelo sociólogo, e isso
daria um ar intelectualizado aos seus escritos. Pronto: de tal maneira,
mostraria que segue seu caminho da mesma forma com que tocara a vida até agora.
Havia ainda a opção menos cult e antihipster de falar sobre exercícios físicos e a
importância do Whey Protein para quem já tem massa cefálica ativa o suficiente,
mas carece de músculos à altura de sua disposição para o pensamento.
O texto poderia também ser político-partidário, porque ela poderia
citar a investigação do propinoduto tucano nas obras do Metrô de São Paulo e as
investigações internacionais sobre o caso. Daí poderia dizer que a suspeita é
da ordem de "R$ 400 e poucos milhões" de bufunfa desviada, coisa que deixaria
qualquer Maluf com vontade de fazer um túnel a mais na linha do trem da
capital paulistana.
Seria bom para eles que ela escrevesse sobre esses fatos
cotidianos, “porque é o tipo de coisa interessante para se conversar no café da
manhã”, concluiu. Ela comprovaria, em tese, que “tem mais a fazer da vida” do que pensar
nele - uma mentira descarada- porque todas as coisas acima perdem a importância quando ele a abraça, instante
no qual um calor envolve seu coração e continua em brasa mesmo quando ela está
a tocar o dia a dia.
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