Em tempos
de rolezinho marcados pela exaltação aos bens de consumo da elite, compositores
de canções que vão na contramão da música da ostentação - popularizada nos
últimos anos pela indústria do entretenimento - levaram para casa um total de
quatro Grammys, o maior prêmio da música norte-americana.
Além das
estatuetas recém-adquiridas, o duo de rap Macklemore & Ryan Lewis e a
neozelandesa Lorde têm em comum canções que exaltam a simplicidade e a
antiostentação.
ThriftShop (em português, "Brechó"), deu a Macklemore & Ryan Lewis o
prêmio de melhor perfomance de rap. O álbum "The Heist" - no
qual está Thrift Shop - foi consagrado como o melhor do gênero.
Na letra,
Thrift Shop faz pouco caso dos usuários de marcas famosas e do gasto despendido
com roupas. "Cinquenta dólares por uma camiseta? / Chamo isso de ser
enganado e abusado, droga/ Chamo isso de ser enganado por um negócio/ Essa
camiseta é muito cara e ter uma igual a de outras seis outras pessoas nessa
boate não dá / Olhe só, venha dar uma olhada através do meu telescópio. Está
tentando pegar garotas por causa de uma marca?/ Cara, então você não pegará",
canta a dupla.
Fenômeno
semelhante é criticado pelo single "Royals" (Realeza, em português)da cantora neozelandesa Lorde. A música deu à jovem de 17 anos duas estatuetas:
a de melhor canção do ano e a melhor apresentação pop solo.
Lorde: da realeza ou da simplicidade?
Na
canção, a jovem de 17 anos desconstrói o mundo de luxo popularizado nos últimos
anos no entretenimento pop, como um desabafo de quem está cansada de ter como
busca os bens de consumo.
"Mas
todo mundo só fala de champanhe, carrões/ Diamantes em seus relógios/ Jatinhos,
ilhas, tigres em coleiras de ouro/ Nós não ligamos /Não estamos envolvidos no
seu caso amoroso", diz a letra da canção premiada, que segue com uma
afirmação: "E nunca seremos realezas/ Isso não corre no nosso sangue. Esse
tipo de luxo não é pra gente/ Nós desejamos outro tipo de agitação".
A
popularidade de ambas canções apontaria um novo caminho para a música, pela
busca do mundo mais simples, ou talvez a esta bandeira anticonsumista seja
apenas mais uma apropriação da indústria do reconhecimento por esse mercado?
Música antiostentatção, ouro no peito. A nova cara do mainstream.
Lembremos que esta indústria é a mesma que premia álbuns como “Watch the Throne”, de JayZ e Kanye West - saturada por referências à riqueza em letras que exaltam marcas como a francesa Hermés (no “Rap de luxo") e Gucci. Recordemos ainda que a cantora Lorde - nascida Ella Maria Lani Yelich-O'Connor - assumiu o nome artístico supostamente por admirar a realeza que ela critica em Royals. E que as correntes grossas de ouro também estejam no peito de Macklemore.
Estratégia
de marketing ou saturação da sociedade de consumo, as músicas premiadas pelo
Grammy apontam que, talvez, os rolezinhos e os reis da balada não sejam mais
populares no mainstream em um futuro próximo. Como cantou John Lennon em
Imagine, “você pode dizer que eu sou um sonhador. Mas eu não sou o único”. Ao
menos neste ano, o júri do Grammy parece concordar.
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