Pintadas a mão por Stela, pessoa estranha porém bem-humorada e insistente na tentativa de imprimir cores em seu mundinho cotidiano mas raramente monocromático.
segunda-feira, abril 20, 2009
Um novo amor
Cada hora padeço de um novo amor, sem esquecer o antecessor. Assim, vou colecionando amores que, em geral, só me causam alegria. Meu novo romance teve seu prelúdio graças a um outro, mas confirmou-se na tarde de hoje: por Deus, eu AMO BELCHIOR.
Foi por causa de gravação de ‘Palo Seco’, pelos Los Hermanos (um outro amor antigo) que conheci a obra de Belchior. A música consta no disco ‘Alucinação’. Lançado em 1976, ‘Alucinação’ é incrível. De fazer chorar.
Quando pequena, meus pais ouviam o bigodudo à exaustão (engraçado como tenho poucas memórias da minha convivência com meu pai, mas elas estão geralmente associadas à música). Para meus ouvidos infantis, aquele voz anasalada soava com tanto estranhamento que cresci sem dar atenção ao compositor.
O máximo que eu sabia de sua obra são as clássicas “Apenas um rapaz latino americano”, “Medo de avião” e “Como nossos pais”, esta última na voz de Elis Regina.
Mas o disco é realmente incrível. E as letras de tão íntimas que se tornam muito reconfortantes porque nos mostra como, apesar da singularidade de cada um, os sentimentos humanos são iguais.
Sabe aquela obviedade e implicidade que embala e conforta? Belchior é isso.
“Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol, quando você entrou em mim como um sol no quintal [adoro essa parte]. Daí um analista amigo meu disse que eu não vou ser feliz direito porque o amor é uma coisa mais profunda do que um encontro casual”, diz um trecho de ‘Divina Comédia Humana’, do disco ‘Um concerto a palo seco’.
Em algumas composições, Belchior lembra-me muito Raul. Pela resistência aos padrões formais de comportamento, pelo toque meio brejeiro das letras e talvez apenas pela sonoridade da época.
‘Alucinação’, a música tema do disco, é linda. Deveria constar no repertório de todas festinhas equipadas com violões e jovenzinhos dispostos a boas composições.
‘Um concerto a palo seco’ têm violões tão bem trabalhados que suspeito da participação de Raphael Rabello (ou pelo menos, de sua influência). O violão flamenco no início de ‘Galos, noites e quintais’ é de levar lágrimas aos olhos: “eu era alegre como um rio. Um bicho, um bando de pardais. Como um galo quando havia galo, noites e quintais. (...) Não sou feliz mas não sou mudo. Hoje canto muito mais”, canta.
Na próxima festa, sarau ou luau em que eu estiver, solicitarei como fã fervorosa desse novo amor: “toca Belchior!”.
Porque “eu quero é que esse canto torto, feito faca, corte a carne de vocês”.
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3 comentários:
Belchior é o poeta que não tem e nunca teve medo de se mostrar, é alma rara e voz pulsante.
Também sou fã do som desse rapaz, isso já faz mais de 20 anos!
arco-íris, anjo rebelde, eu quero corpo, tenho pressa de viver
Muito bom vc disse tudo, que sensibilidade.
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