Capítulo II
Passado (sob o verão prateado)
É também sobre o lado esquerdo da janela do quarto do meu filho que nasce a lua. Isso acontece particularmente nos dias de verão. Há dois anos, quando me mudei para cá, costumávamos dormir sem nenhuma barreira de aço ou vidro entre nós e sua luz prateada.
Para mim, uma visão romântica, quase transcendental, de nossa vizinha com suas crostas. Talvez para ele, com então dois anos, não passava de uma enorme bola luminosa (não, nessa idade eles ainda não sabem quem é São Jorge o que é um queijo suíço. Tampouco agora –aqui em casa os bolsos não permitem muito mais que muzzarela...).
Eis que então veio o muro. Na ânsia de transformar sua “unidade assobradada” (é, é assim que são chamados casas tipo sobrado em condomínios populares pela Caixa Econômica Federal) em um duplex com suíte, os vizinhos impuseram a barreira de tijolos entre eu e a luz prata.
Engraçado, mas isso me fez pensar em outra coisa, bem menos poética: a cruel realidade (continuo a ladainha acima)...
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