Capítulo III
Futuro
O muro real fez-me pensar nas barreiras que impusemos ao mundo. Assim como a enorme parede cor de terra, ao lado direito do quatro do meu filho, construímos muros que impedem aos outros a possibilidade de talvez, vislumbrar uma luz prateada.
Na cidade onde moro, é cada vez mais comum a construção de condomínios fechados. Não sei se esta é uma tendência, mas acho estranho para uma cidade de 200 mil habitantes e, de onde posso avistar, de pontos mais altos, a Serra da Mantiqueira.
Soube agora de um novo empreendimento imobiliário, que fará fundos à casa de minha irmã (diga-se, entusiasta do projeto), em uma área nobre da cidade. Trata-se de “boulevard” --similar ao de grandes centros— com direito a “vários tipos de serviço e comércios”. Quem sabe com uma boutique?
Quem tiver mais de R$ 70 mil, já pode comprar a passagem para o “eldorado”. Enquanto isso, a menos de dois quilômetros (certamente), um grupo de famílias vivem sem água encanada, em uma área verde invadida.
Na cidade vizinha, a política pública tratou de se livrar das favelas incômodas espalhadas pelo centro. Colocar pobres e ricos, cada um em seu lugar, rendeu o controle estadual da política de habitação ao comandante do "eldorado".
A palavra de ordem é segregar? Ficamos assim tão maculados pelos índices de criminalidade? Os muros de nossos pseudo-universos feudais nos separarão de quem?
(Não se iludam. Também sucumbi ao artefato de proteção "muro-portaria" em meu condomínio de baixo padrão).
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