Decidiu marcar o encontro tão esperado. Para não despertar qualquer suspeita, escolheu a fila de uma agência bancária, postada estratégicamente ao lado de uma delegacia e em frente a uma pet-shop. Era sem dúvida o lugar mais seguro --o que melhor preservaria a distância física necessária para o momento.
Carregaria como espécie de código "As Ilha da Corrente", de Ernest Hemingway, já com capa a desbotada pelos anos de estante. Talvez eles não se reconhecessem mais. Há muito estavam afastados e as marcas impostas pelo tempo e gravidade poderiam maculá-los em meio a multidão. Era sabido que o brilho nos olhos não poderiam ser vistos de longe.
Chegaria exatamente às 15h23. A precisão britânica era necessária para que a angústia não os sufocassem durante uma possível espera.
O tempo de permanência seria definido por quesitos menos óbvios --dependeria inclusive da saúde dos funcionários da agência e do volume de depósitos programados para o dia.
Há quanto tempo esperava pelo encontro? Nem se lembrava mais. Os imperativos da vida e a necessidade de continuar respirando impediram qualquer reflexão naqueles anos. Não era fácil ficar cara-a-cara aquele que era tão próximo quanto desconhecido.
Aonde tu terias andando, oh, alter-ego?
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