quinta-feira, junho 30, 2005

Tattoo

Posso afirmar, por conhecimento da causa: ter uma tatuagem faz-nos sentirmos diferentes de outras pessoas. Ainda que sejam os desenhos sejam clichês de época **, cada vez mais desfilam por aí os “artificialmente coloridos”.
Uma infidável coleção de flores, anjos, demônios, duendes –e outras tantas entidade do além—andam por aí colorindo o peito, costas, braços dos “moderninhos”.

Do jeito que as coisas andam –e, principalmente, se depender do universo “teen”, daqui algum tempo não teremos corpos de pele virgem trafegando por aí. Quando a estigma “artificial flavour” figurar em todos nós, quem serão os diferentes?

**É, novamente, falo com propriedade –hoje, colorem o meu corpo um conjunto de três estrelinhas no ombro, um ideograma no pescoço, uma florzinha entre a barriga e virilha e um anjinho no tornozelo (é, achou que eu deixaria as entidades do além de fora? Seria tão infame quanto abdicar de um “dragão tatuado no braço” e da freqüência à barraca do Pepê, caso fosse um surfista carioca aposentado

quarta-feira, junho 29, 2005

Faço minhas as suas palavras, estimado Quintana

Como Milton Nascimento, em "Certas Canções", faço uso das palavras do Quintana pra descrever como eu me vejo...

A Imagem Perdida
(para Sérgio Faraco)

Como essas coisas que não valem nada
E parecem guardadas sem motivo
(Alguma folha seca... uma taça quebrada)
Eu só tenho um valor estimativo...
Nos olhos que me querem é que eu vivo
Esta existência efêmera e encantada...
Um dia hão de extinguir-se e, então, mais nada
Refletirá meu vulto vago e esquivo...
E cerraram-se os olhos das amadas,
O meu nome fugiu de seus lábios vermelhos,
Nunca mais, de um amigo, o caloroso abraço...
E, no entretanto, em meio desta longa viagem,
Muitas vezes parei... e, nos espelhos,
Procuro em vão, minha perdida imagem!

De Mário Quintana

Presença (Para Lara de Lemos)
É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
a folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa no ar.
É preciso a saudade para eu te sentir
como sinto --em mim-- a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar os olhos para ver-te!

Ausência

Hoje, ele perdeu (novamente) a chance de me enxergar. Ele sempre quer me achar e estou cansada de dizer aonde estou: aqui...

E ainda...

Capítulo III
Futuro
O muro real fez-me pensar nas barreiras que impusemos ao mundo. Assim como a enorme parede cor de terra, ao lado direito do quatro do meu filho, construímos muros que impedem aos outros a possibilidade de talvez, vislumbrar uma luz prateada.
Na cidade onde moro, é cada vez mais comum a construção de condomínios fechados. Não sei se esta é uma tendência, mas acho estranho para uma cidade de 200 mil habitantes e, de onde posso avistar, de pontos mais altos, a Serra da Mantiqueira.

Soube agora de um novo empreendimento imobiliário, que fará fundos à casa de minha irmã (diga-se, entusiasta do projeto), em uma área nobre da cidade. Trata-se de “boulevard” --similar ao de grandes centros— com direito a “vários tipos de serviço e comércios”. Quem sabe com uma boutique?
Quem tiver mais de R$ 70 mil, já pode comprar a passagem para o “eldorado”. Enquanto isso, a menos de dois quilômetros (certamente), um grupo de famílias vivem sem água encanada, em uma área verde invadida.
Na cidade vizinha, a política pública tratou de se livrar das favelas incômodas espalhadas pelo centro. Colocar pobres e ricos, cada um em seu lugar, rendeu o controle estadual da política de habitação ao comandante do "eldorado".

A palavra de ordem é segregar? Ficamos assim tão maculados pelos índices de criminalidade? Os muros de nossos pseudo-universos feudais nos separarão de quem?
(Não se iludam. Também sucumbi ao artefato de proteção "muro-portaria" em meu condomínio de baixo padrão).

Continua

Capítulo II
Passado (sob o verão prateado)
É também sobre o lado esquerdo da janela do quarto do meu filho que nasce a lua. Isso acontece particularmente nos dias de verão. Há dois anos, quando me mudei para cá, costumávamos dormir sem nenhuma barreira de aço ou vidro entre nós e sua luz prateada.
Para mim, uma visão romântica, quase transcendental, de nossa vizinha com suas crostas. Talvez para ele, com então dois anos, não passava de uma enorme bola luminosa (não, nessa idade eles ainda não sabem quem é São Jorge o que é um queijo suíço. Tampouco agora –aqui em casa os bolsos não permitem muito mais que muzzarela...).
Eis que então veio o muro. Na ânsia de transformar sua “unidade assobradada” (é, é assim que são chamados casas tipo sobrado em condomínios populares pela Caixa Econômica Federal) em um duplex com suíte, os vizinhos impuseram a barreira de tijolos entre eu e a luz prata.
Engraçado, mas isso me fez pensar em outra coisa, bem menos poética: a cruel realidade (continuo a ladainha acima)...

Sobre pontos cardeais e planejamento urbano

Capítulo I
Presente (no inverno amarelo)
Da janela do meu quarto, ao lado direito, posso ver o comecinho das montanhas que formam a Serra da Mantiqueira.
Não sei porque, mas no inverno o crepúsculo me parece ainda mais alaranjado daqui do alto. É uma visão fantástica essa escala de cores que terminam bem ao meio de uma montanha.
Ah, e quando venta, a sensação é indescritível. Muitas vezes abro os braços quando passo pelo meio da estrada de terra (é, elas ainda existem em áreas urbanas de cidades como a minha), o atalho que leva até a escola do meu filho...
(Casualmente, seu horário de saída é às 17h –bem a hora do espetáculo laranja. Aprendi com os colegas fotógrafos a ansiar por esse momento do dia e o seu filtro de luz natural).

segunda-feira, junho 27, 2005

Páginas Amigas


Bom, como não sabia como postá-las em outro lugar, deixo aqui o endereço de páginas de amigos (ou não) e outras sugestões.

www.marioquintana.blogspot.com.br
www.acidetal.weblogger.terra.com.br
www.casadosespelhos.blogspot.com
www.omeninoazul.zip.net

Sobre sorte

Sempre achei que não fora muito abençoada pela sorte –e cheguei a duvidar se é que ela existe. De repente, tropeço em uma caixa com três CDs que ganhara no passado (Clássicos do Jazz, editado pela Som Livre) e quase esquecida na estante.
A começar pela caixa, decorada com as imagens de Laurabeatriz, artista plástica do Rio de Janeiro, a coleção é maravilhosa. Acho melhor eu (voltar a) acreditar em venturas.
Tudo bem, gosto de jazz, mas não é para toda hora. Pra ser sincera, essa coisa de dizer que gosta de jazz às vezes soa meio falso. Parece argumento de gente “cult” que, como eu, tem cabelo vermelho, adora filme estrangeiro, Ed Motta e outros artefatos indies.

Bom, ainda sobre a tal caixa
Ouvir a tal caixa me transporta novamente para meu universo paralelo. E das 13h55 vou diretamente para às 21h17, precisamente, onde posta à mesa de um restaurante envolto em aura ameralada que se dissolve na penumbra peculiar aos sonhos.
Postada estrategicamente ao lado esquerdo do palco, aos fundos, a mesa permite ver apenas as mãos que acompanham a jam session embalada por Wes Montgomery (tocando How Insensitive) and Cool Breeze, com Dizzy Gillespie, além do sax de Stan Getz –este vindo diretamente dos céus da Filadélfia para a ocasião.

A minha frente, um milhão de amigos imaginários sorriem com elegância. E lá está você. Aliás, não é o primeiro texto que lhe escrevo –e isso acabo de me lembrar. É que passaste tanto tempo ausente, que apenas lembrava-me de você quando, não sei porque, perdia-me em qualquer olhar.

Recomendo: God Bless the Child, com Billie Holiday.

Blecaute (sobre esperança)

Dias desses, na verdade, já há muitos idos, um blecaute causado por seja-lá-o-que-for, pegou-me de surpresa. E a casa outrora iluminada, terminara na mais total escuridão.
Se ainda não fosse a escada (o banheiro é no piso superior) e a necessidade de proteger da penumbra o filho que não passara dos quatro anos, a escuridão não causaria tamanho pavor.
Por descuido ou esquecimento, não comprara nenhuma vela no dia anterior. Não haveria como saber que terminaria surpreendida pela escuridão!!

Mas as janelas da minha casa eram tão imensas, embora eu não as conhecesse tão bem (elas estavam sempre detrás das cortinas), que após abertas, deixaram que a luz do luar inundasse minha sala. A lua estava lá, embora a noite estivesse escura, como que colocada pela fenda imposta pelos cúmulus nimbos dançando no céu. É, ela estava lá.

Passado algum tempo, um reencontro ontem lembrou-me do tal blecaute e encheu-me de esperança. Como a lua posta no céu, algumas pessoas que passaram pela minha vida aparecem, de surpresa, em encontros casuais, e iluminam o que seria uma noite escura. E suas existências bastam— mesmo distantes, estão sempre aqui, dentro de mim. E eu nelas
;-).

domingo, junho 26, 2005

Em um mundo todo colorido por tartrazinas e outros pigmentos, meus cabelos vermelhos adquirem tonalidade violeta ao cair sobre as lentes de meus óculos roxos.

Ordinary Life

Passados quase cinco meses em casa, sinto que esse tempo já foi suficiente para me fazer olhar para dentro.
E o que encontrei? Páginas em branco e outras tão amareladas que se desfizeram com o tempo. O problema hoje já não é o passado ou o futuro. É estar sem nenhum presente...

O fato é que não consigo permanecer nesta total ausência de trabalho (em função do problema no braço). Isso me deixa angustiada. Como quase todas as minhas paixões são efêmeras, a dedicação à vida doméstica já não me completa... E o SBP para plantas já foi esquecido no armário.

Em meio a essa apatia, desenvolvo meu universo paralelo. Nele, o calor do sol que esquenta meus pés transforma meu colchão em areia fina, o barulho do chuveiro em sinfonias marítimas e o vapor da panela na neblina que recai sob a alvorada nos dias tão frios como esse nas montanhas...