quarta-feira, dezembro 26, 2007

Note



não há como fugir do mercado consumidor. somos criados sob a égide da sociedade do consumo, ou do conspício, segundo verblein, e nos deleitamos facilmente com aquilo que a tecnologia nos propõe: de quatro horas seguidas de música no meu ipod genérico ou na chance de transformar em texto os pensamentos que surgem inesperadamente na madrugada, confortavelmente instalado na sua cama com o notebook comprado em zilhares de vezes por um preço inimaginável há dois anos (e fatalmente depreciado em tempo inferior a isso, daqui pro futuro).

sob o pretexto de guardá-lo melhor para servir-me sempre, trouxe o 'note', pseudônimo carinhoso para o computador ultrapessoal para o quarto. e como as idéias que surgiram o banho precisavam tomar forma, liguei o laptop mais uma vez. em um passe de mágica, a enxurrada de pensamentos que deram origem ao ato desapareceram após a senha de entrada. em seu lugar, uma ode ao notebook surgiu, como se ele tivesse vontade própria sobre aquilo que guarda em 80 gigabites de memória.

Beautiful.

She lay in bed all night watching the colours change
She lay in bed all night watching the morning change
She lay in bed all night watching the morning change into green and gold


Belle & Sebastian


perdemos o timing do romance.
o prazo dos suspiros.
o tempo do sorriso no rosto.

queimamos a etapa da conquista.
passamos batido pelas palpitações.
a fase do 'e agora?' virou 'já era'.

ficamos mais tristes que jogo da velha.
e éramos só sonhos.
agora somos sozinhos.

domingo, dezembro 23, 2007

A secret whisper, perfect ending...

I have to be leaving. But I won´t let that come between us, ok?

http://www.youtube.com/watch?v=5MV7Sym8bIQ

"the more you know what you want, the less you let things upset you."

Uma flor pra trazer alegria.



Um dia a tristeza que a morte nos trouxe vai passar.
Por enquanto a gente vai levando, esperando o tempo apaziguar a dor de todos que ficaram por aqui, meio órfãos. Esperando abraços e olhares de consolo daqueles que amamos. Mas, às vezes, o conforto surge de fonte inesperada, de onde menos se imagina.
Ontem ganhei um presente inesperado, deixado na portaria do meu condomínio: uma tela com uma flor e a palavra "alegria".
Obrigada Bruno Magera, artista que eu admiro pela destreza com que usa cores e desenha traços, e pela sensibilidade de trazer o consolo em forma de tela e flor.

terça-feira, dezembro 18, 2007

Só para mulheres (momento 'Capricho')



Difícil mesmo ser mulher. A gente não sabe se deve dizer sim, quando quer dizer sim e finge sentir que não. Ficamos em dúvida em um mar de opções de shampoos diferentes, vestidos diversos e até a maquiagem é pauta para atrasos imperdoáveis. Não sabemos se devemos ligar ou entrar em contato quando queremos. Inventamos desculpas para deslizes alheios (quando a resposta aos nossos devaneios é bem mais simples: 'ele' não está nem aí pra 'você').

Na realidade, no mundo dos homens esse tipo de dúvida praticamente não ocorre --não porque os homens sejam 100% seguros ou invariavelmente práticos! A diferença é outra: eles não desenvolvem teoria, ocupam o tempo livre com esporte, trabalho e até videogame e têm dificuldade pra pensar em mais de uma coisa ao mesmo tempo. Logo, os balõezinhos de suspiros são menos frequentes para eles. E aqui no meu confessionário, admito: morro de inveja dessa praticidade do universo masculino. Tudo parece ser mais simples.

Geralmente tenho sido assim. Mas aí um evento ou outro te envia ao universo 'frágil' das dúvidas femininas e pronto: cá estamos nós (eu ou você, amiga leitora, já que este texto é só para as mulheres) pensando 'neles' e nos porquês dos quais e poréns dos relacionamentos.

Como forma de uma espécie de texto de auto-afirmação, resolvi criar uma série de tópicos com dicas (que ninguém me perguntou, whetever) para as mulheres em dúvida, fruto de anos de meditação e horas gastas com budismo, grupos que rezam mantra e teorias hare krishna --leia-se, nas conversas com a 'guru' Fernanda Margutti:

* Bateu a vontade de ligar para o broto, gato ou afim no dia seguinte? Segure-se. reze o mantra 'eu-não-estou-nem-aí-pra-noite-passada-hare-hare-hare-hama' 100 vezes. E coma um chocolate.

* Meninas: assim com os homens, você também tem mais o que fazer na vida do que pensar neles ou no próximo fim-de-semana. Pense nas coisas óbvias: unhas, cabelos, sobrancelhas e vá evoluindo pras específicas. Eu recomendo leitura: Crime e Castigo, de Dostoievski é uma boa. Aliás, mesmo que você não goste de ler, pense nisso como um investimento. Não faz diferença na balada, mas pense no futuro menina!

* Homens não percebem sutilezas. Seja direta e específica, mas um charminho é fundamental (pelo menos até uma certa idade, para o qual esse texto foi idealizado. Não a minha idade, é claro). Cuidado só para não perder as oportunidades. Como dois chocolates antes dos encontros. E escove os dentes, por favor.

* A questão é universal. Você não liga para quem não está afim, certo? O fato de ser educada com alguém não significa que você quer vê-lo, não é? Por que raios com eles deve ser diferente? Se ele quiser te ligar, vai te ligar. Se estiver interessado em você, vai te ver (nem que tenha que pegar dois ônibus e viajar oito horas pra isso). E se ele sumir por alguns dias, sem responder seu e-mail, não se desespere: ele pode estar sem acesso à internet, ocupado demais, cuidando do canil, da granja, dos pais etc.
Mas se os dias alcançarem o patamar de semana, preocupe-se e desencane em seguida. Só coloque-se no lugar do outro e pense feito 'macho'. E coma chocolate diet (porque a essa altura você já estará com uns quilos a mais)!

* Se você gosta de poesia e Chico Buarque vai, invariavelmente, acabar cansando do seu lutador de vale-tudo. Ou de hapkido, que odeia livros. Encare esses homens da mesma maneira que muitos olham pra você. Diversão, avec elegànce.

* Se gosta de reggae, praia, forró e surfistas não tente se dar bem na FFLCH-USP. Homens com pacote barba, cabelo, bigode e sociologia não lhe serão atraentes ao longo de mais de um fim-de-semana.

* Cuidado com homens do signo de Aquário. Eles são avoados. Amigos e ex-romances provam o fato. Não interessa se você não tem superstição alguma. Essa dica vale ouro. A menos que você seja pacieeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeente-ente-entinha-inha-inha. E não se importe em consumir 5.000 calorias. Porque você precisará de chocolate.

* Não aceite convites estranhos para cafés com homens supostamente descomprometidos.

Ah, e só pra constar, eu não sigo essas regras. Jogar nunca foi meu acerto.

E que se dane se este texto é futil demais. Todo mundo tem seu momento (de) Capricho, não é?

:D

domingo, outubro 28, 2007

Boas surpresas



Saio de uma semana movida pela energia que só as boas surpresas nos trazem.

A madrugada do último domingo me trouxe alegrias vindas de longe (efêmeras como, decerto, deveriam ser): descubro que gosto de Ludov, ao vivo e no player. Rompo a barreira com Mombojó. Acabo de ouvir o grupo e fiquei interessada, como naqueles processos que um romance surge do nada.

Assumo um novo trabalho, com responsabilidades diversas e algumas burocracias, mas com custo-benefício extremamente positivo. Passo os dois primeiros dias da semana perdida, descobrindo o que o trabalho exige.

Na terça, recebo, ‘de presente’, um lindo texto de uma das pessoas mais adoráveis que já cruzaram minha vida (assunto para mais de mil páginas) e me emociono (www.picbrasil.blogspot.com). Termino o dia com a notícia menos previsível: sou aprovada na prova que havia feito na semana passada. Corro para São Paulo, perco horas e mais horas cantarolando enquanto dirijo no trânsito mais complicado (ao menos até a queda de barreira no túnel Rebouças, no Rio), faço uma entrevista estranha com o orientador indicado, passeio na chuva pelas ruas da Cidade Universitária (mais bonita nesta época do ano). Irrito-me na quinta e sacramento minha TPM na sexta, com a única notícia desagradável da semana (mas incapaz de me tirar a felicidade dos últimos dias).

Fim-de-semana família, que começa com um contato no sábado de manhã me faz sorrir (melhora, Henrique, a gente espera!), ganhamos um CD player para o carro (finalmente!).
pego as crianças da Natália para passarem o sábado e domingo com a gente. Volto a escrever por aqui. E o céu está ainda mais azul, aguardando as visitas que ainda vão chegar (Jú e meninas)

Maior que a blogosfera



O universo da blogosfera é um mar de achismos musicais. Parece não haver assunto melhor para se escrever um ‘post’ –texto, no jargão dos blogueiros (que é mais ou menos qualquer pessoa com acesso à internet hoje em dia).

Pode-se pressupor que tais conjecturas musicais servem menos ao universo que uma pá furada. Sim, ‘pá furada’ já é uma alusão a Los Hermanos, milimetricamente pensada para introduzir o assunto mais senso comum depois das novelas da Globo: a música.

E cá estamos nós, cada um de seu respectivo lado –A ou B--: comigo escrevendo e você lendo mais umas bobagens sobre gostos musicais que não interessam muito ao mundo além de você e eu. Cada vez que ouço John Mayer (aquele nascido em 77 como eu) gosto mais da qualidade de seu trabalho. ‘Any Given Thursday’ é um puta disco e não me interessa se é inovador ou se as cadências lembram, hora ou outra, outro ‘J.’: Jeff Buckley.

Música é isso mesmo, bigger than mine and your body (na segunda apologia do texto). Mayer acerta na composição e nos acordes. E transforma música em mais uma experimentação corporal. Como ele poderia argumentar (mais uma vez usando o tema como referência), nosso corpo é uma wonderland. E não é?

E se o blues dá o tom da sonoridade de Mayer, foi ele quem embalou o sensacional Jeff Buckley nos anos 90. Eu ensaio para escrever algo sobre Buckley desde o ano passado. Nunca me acho suficientemente pesquisada ou apta para falar sobre ele.

'Grace' –o primeiro e único álbum lançado ‘em vida por Buckley— nasceu para ser degustado, assim como o póstumo “Sketches for My Sweetheart the Drunk”. Sim, Jeff deve ser tateado, lambido, retorcido. Penso como a trilha caberia bem para um encontro a dois. Porque Jeff soava muito sexy (não só pela sonoridade) ao mesmo tempo em que era provocador, melancólico.

Se Justin Timberlake acha que tem algum sex appeal ou se suas músicas provocam arrepio, deveria ir comer um prato de ‘feijão com arroz’ (ou para regionalizar, uma american pie) na referência buckleyniana: imprevista, densa e leve: tudo ao mesmo tempo.

Mais sobre Buckley: http://pinguimazul.wordpress.com/category/jeff-buckley/
http://www.youtube.com/watch?v=hm8JoMhgjRw

sábado, outubro 27, 2007

Uma 'pseudodecepção' é algo nem tão relevante para ser uma decepção completa e nem tão insignificante para deixar de ser catalogada como tal.

quinta-feira, outubro 25, 2007

Aquilo que realmente importa




A regra não tem exceção. Vivemos a maior parte de nossas vidas proferindo explicações sobre o que pensamos, quem somos, justificando-nos e pleiteando –de 'x' salada à amor, aumento de salário, folga nos feriados. Ninguém se livra dessas formalidades. A cada primeiro contato é quase inevitável cumprir a etapa da apresentação do currículo ao interlocutor. Perguntas senso comum como 'o que você faz?, quantos anos têm?' e até a famigerada 'qual signo é o seu?' são praticamente onipresentes nos primeiros diálogos. E diante do questionário 'clichê, aqui estamos nós' perdemos a chance de conhecer informações vitais capazes de apontar aquilo que realmente importa: pequenas coisas, sempre as pequenas coisas.

O diálogo perfeito do primeiro encontro pode ter várias dissonâncias e poucas consoantes. Poderia começar com um 'oi', um 'olá', um 'tudo bem' (não sou radical). A abordagem pode, de fato, determinar o futuro de uma relação (entre duas pessoas ou mais), mas o conteúdo subseqüente é tão importante como o início ou o fim.

Diante desse mundo inundado de convencionalidades, forjei (sem ferro ou fogo) perguntas, conjecturas ou afirmações diversas que gostaria de alimentar em um primeiro encontro. Que deve, como disse, ser regado com pequenas coisas, aquelas que realmente importam. Para dispensar a forma protocolar do início ou do fim, começo pelo meio (sempre a melhor parte em qualquer história). A seguir, os exemplos.


Você prefere caldo de cana na feira ou pamonha na beira de estrada?

Uma das primeiras lembranças da minha infância é a do azulejo branco e do piso vermelho do banheiro da casa onde vivia. Havia algo de especial naquela composição, uma sintonia quase poética na disposição dos ladrilhos. Também gosto de lembrar da estante de livros na casa de um casal amigos dos meus pais e de como era especialmente divertido andar de velotrol.

Gostaria de andar de bicicleta comigo?

Eu gosto do cheiro da casa da minha avó. E do jeito que ela arruma o cabelo com aquele pentinho curto, que os homens costumavam levar nos bolsos traseiros.

Você ainda lambe a tampa do Danete?

Quando eu abraço as pessoas eu sinto como se eu pudesse inspirá-las e depois voltar a ser eu mesma. Neste momento, eu me sinto como se pudesse lembrar-me, com elas, das imagens que lhe vêm à cabeça.

Estou sempre sentindo algo grandioso pela vida. E confesso, já li Paulo Coelho.

Importa-se se eu tocar a ponta dos seus dedos da mão?

Posso me sentar aqui e ficar até o alvorecer. Eu também estou disposta a compartilhar a alvorada. E ver a luz elevandp-se no horizonte até chegar a 45 graus, aqui, ao seu lado.

quarta-feira, setembro 26, 2007

Boa vida



Boa vida.
Bem-vinda.
Ardida.
Vindoura.
E vivida.

Entra aqui no meu blog!




Ah, sempre os Malvados!
www.malvados.com.br

E entre mais aqui no meu blog, pô!

quarta-feira, agosto 29, 2007

Processos




nas relações humanas, eu curto processos.

descobri neles uma forma de apaziguar a ansiedade.

de viver mais feliz.

não me importa o fim. nem o começo, mas o meio.

o que ou quem será amanhã.

importa o abraço que temos hoje.

:D

quinta-feira, agosto 23, 2007

A grande diferença



Sempre confundem. Então aí a explicação desprovida de conteúdo acadêmico. Recorro ao Aurélião pesado.

Sentimental (verbo): sensível, que se deixa comover com facilidade.

Trata-se de definição afeta aos sentidos. Todos. Inclui a contemplação dos dias ensolarados. Dos cinzentos, tão belos quanto outros (se fosse o contrário, porque fotografariam em preto e branco?). Da cor da chama da vela. Do cheiro de terra úmida. De boca beijada. De fruta recém-colhida. Sorriso de criança. Gargalhada de adulto. Tato. Audição. Música boa me faz chorar. Ruim também. De tomar chá quentinho antes de dormir. Noz moscada, canela e cravo. Jasmim e flor de pitanga causam-me arrepios. Estar vivo me faz sentir. E nem sou tão piegas assim...


O adjetivo feminino é sentimentalona. Pretendo incorporá-lo ao meu sobrenome.

Cacos




Sou um ser fragmentado. Formei-me a partir da poeira dos transeuntes da minha vida. Dela, nasci. - "Foi como fiquei assim," justifico ao ser questionada sobre minha identidade. Os cacos justificam minha aparência dissoluta e até as imperfeições da minha pele. Cada partícula do meu corpo abriga essa poeira. E eu respiro-a, gratificada.

Hoje veio-me às narinas o cheiro da poeira dos seus livros. Imediatamente, a sinestesia promoveu um encontro absurdo entre olfato e paladar. Lembrei de seu gosto e, em seguida, os sentidos ampliaram-se para um déjà vu visual e pude ver as cores mal pintadas em seu braço. Vi seus olhos e não pude identificar a cor. Castanhos esverdeados? Tanto faz. A poeira dissipou-se e voltou ao seu abrigo original: meu corpo.

segunda-feira, agosto 20, 2007

Horizontal




Estava lá e eram óbvias suas intenções. Ela queria olhá-lo na horizontal, embora não soubesse disso antes. Então sorriu e adormeceu. Tinha mais uma beleza a recordar. Mas disso, ele nunca saberia. Pois não vira seus olhos dela sorrindo enquanto ela apenas o respirava sutilmente.

Todas Amelies do Mundo




De longe tenho a intenção de ser a porta-voz da alma feminina.
Falo de mim e, se quiserem, tomem por base todas as mulheres restantes no mundo.
Faço parte de um grupo batizado pelo meu egocentrismo de "Todas as Amélies do Mundo".
É como me sinto boa parte do tempo.
Não tenho a delicadeza de Audrey Tatou que imortalizou a personagem a ponto de não conseguir se desvencilhar da pobre (ou abençoada, depende do ponto de vista), Amélie Poulain.

Tenho uma legião de amigas que amam o filme. Minha teoria é simples. Para nós, mulheres (merda, virei a suposta porta-voz de novo), o amor de Amélie e Nino Quincampoix é extra-sensorial. Inocente. Quase infantil. Mesmo a cena onde eles finalmente se tocam é sublime. O desejo é parte do amor e não o ponto de partida.
Ela o quer pela identificação. Porque ele é como ela. Embora trabalhe numa sex shop ele, em certo momento, ignora toda a sexualidade explícita em contemplação de uma paixão por alguém cujos contornos são desconhecidos.

Todas queremos sexo, isso é fato. Mas queremos os suspiros de Amélie e Nino também. >Queremos pele, mas queremos alma. Queremos ser insustentavelmente leves.

Quem não quer ser alvo de um amor como o idealizado por Rodrigo Amarante na estrofe da belíssima .... . "(...) E até quem me vê lendo o jornal na fila do pão sabe que eu te encontrei (...) E se o caso for de ir a praia eu levo essa casa numa sacola...". (Tanta delicateza faz com que muitas acabem querendo o próprio Amarante).

Pedir um pouco desse tipo de romantismo é ser sentimental demais? Preciso então mudar minhas preferências literárias e cinematográficas. Daqui saio para a locadora onde alugarei 'Duro de Matar'.

domingo, agosto 05, 2007

Cinco temas e 12 notas.



Por Elvis Costello

Para compor canções, há uns cinco assuntos: eu deixei você; você me deixou; eu quero você; você não me quer; acredito em alguma coisa. Cinco temas e doze notas.
Nas canções de John Lennon, as pessoas tendem a destacar os versos que soam como epitáfios ou cartões de felicitação. É muito esquisito passar de carro no aeroporto de Liverpool e ver o logotipo com os desenhos dele e as palavras: “Acima de nós, só o céu”. O céu está cheio de aviões! Mas, no fim, todo mundo acaba virando estamparia de toalha de mesa produzida em massa.


Costello, Elvis. In: O que aprendi (pag 61),revista Piauí_10, ano 1_julho 2007

Drops: http://www.americanrhetoric.com/MovieSpeeches/moviespeechastreetcarnameddesire.html

segunda-feira, julho 16, 2007

1977: Como chego aos 30 anos caipira, sob influência de Cameron Crowe e interessada em Números Mágicos.




De quebra, um pouco sobre o rock.

Cameron Crowe tem dirigido não só filmes que tenho prazer em ver, rever e colecionar, mas meu próprio gosto musical. Sou totalmente suscetível às trilhas sonoras dos filmes de Crowe. Totalmente, sem eufemismo, como muitos costumam usar tratar estas grandezas por aí.

Diretor de filmes como Vanilla Sky, Quase Famosos e o meu favorito, Tudo Acontece em Elisabethtown, Crowe fez-me ouvir Elton John com atenção. Colocou Free Bird na minha vida e desnudou um amplo repertório composto inclusive por sua mulher, Nancy Wilson (homônima de outra, hoje entre minhas compositoras de trilhas favoritas (ouçam 60B, de Nancy, por favor). Muito mais do que isso: Cameron Crowe –apesar da trilha de Vanilla Sky e sua verve eletrônica— tornou-me uma fã de música com pitada country. De repente, fiquei totalmente fascinada pelo rock caipirão (que vai muito além e começa muito antes de Kings of Leon).

Revival ou vintage: é tudo ou nada
Aparentemente, tudo produzido nos anos 70 ainda está por aí incitando mentes e dedos na composição do rock do novo milênio (tudo bem, a expressão virou lugar-comum, mas é isso aí). Não são apenas as trilhas de Crowe que fazem apologia e propaganda do rock setentista. É minha impressão ou quase tudo no universo do rock soa como uma mistureba de Stooges, Velvet Underground ou Clash repaginados? Os Strokes foram influenciados por Lou Reed (e eu por Lou Reed para gostar de Strokes). The Dresden Dolls (ouçam Me & The Minibar e comprovem) tem mais que só um ‘quê’ de Patti Smith. Coincidência (ou não!!), eu também sou made 70´s. Sendo mais específica, modelo 1977.

Abri os meus olhos pela primeira vez em 14 de agosto de 1977. Era domingo, Dia dos Pais, e minha irmã então com cinco anos de idade foi liberada para entrar no quarto. Ela me viu e batizou de ‘Stela’, nome que ouvira várias vezes de minha mãe. 'Stela' havia sido vizinha da família Guimarães no bairro do Ipiranga em São Paulo, muito antes dos anos 70. Meus pais acataram o desejo da irmãzinha mais velha. Foi assim que começou o meu primeiro dia.

Mas, exceto para mim (e provavelmente minha mãe!), meu nascimento foi a quase mais insignificante deste ano. Em 1977, o universo do rock também mudava. Dois dias depois, em 16 de agosto, Elvis Presley ‘o Deus do Rock’ morria.



Sex pistols, drogas, Shakira e acidentes aéreos
Voltemos, no entanto, ao início do lendário ano. Foi nele que os Sex Pistols subiram ao palco –no mesmo ano em que Sid Vicious entrava pra banda. Quase simultaneamente (e me perdoem os mais precisos com as datas), os Ramones lançavam Rocket to Russia, the Jam's In the City, Iggy Pop's Lust for Life. Em 1977 o Clash debutava com o álbum ‘The Clash’, assim como Elvis Costello com ‘My Aim is True’ e o Sex Pistol com ‘Never Mind the Bollocks’, ‘Here's the Sex Pistols’, e ‘Television's Marquee Moon’.
Mas nem tudo era novidade no mundo do rock há exatos 30 anos: Keith Richards já havia sido preso no início do ano com cocaína e Alice Cooper já era internado por causa do vício do álcool (‘this is not the first time’, cantaria Oingo Boingo anos à frente).

Dois meses após eu ‘vir ao mundo’ o avião que carregava os integrantes do Lynyrd Skynyrd (os mesmos caras do Free Bird) cai no Mississipi, matando o vocalista e compositor Ronnie Van Zant, o guitarrista Steve Gaines além de Cassie Gaines, backing vocal do grupo. ‘Etranho, muito etranho’, eu gostar da banda e conhecê-la quase 30 anos após o incidente, suporia Walter Mercado.

Enquanto o rock caminhava sem Elvis –mas estava mais vivo que nunca (o rock, não Elvis!)— ‘Os embalos de sábado à noite’ estreavam nos cinemas e disseminavam a dancinha dedinhos para o alto pra lá, quadris pra cá de John Travolta. Irrompia a ‘era disco’, caminhando lado a lado (na cronologia) com o punk. Enquanto no Brasil, Chico Buarque que ainda não era sexy simbol lançada Os Saltimbancos. Diretamente do exílio, na Itália. E a ditadura militar deixava passar o meu primeiro disco pseudoinfantil.

E houve mais, muito mais, em 1977. O ano caracterizou-se por bandas como INXS, The B-52's, Def Leppard, Whitesnake e até os Dire Straits! Shakira, Cris Martin e Jon Buckland, ambos do Coldplay e Fiona Aple também deram olá ao planeta em 77 –todos hoje trintões e infinitamente melhores sucedidos que eu. E têm mais: Mark Stoermer, do The Killers, Aaron Kamin, The Calling, Craig Nicholls, The Vines e até o John Mayer desembarcaram por aqui na mesma época.

Foi ainda neste ano que a música que deu aos Eagles o posto de banda bilionária por Hotel Califórnia, que estava à frente das paradas até da Alemanha, quando o mundo nunca ouvira falar de globalização. Passados 30 anos, meu player genérico de Ipod ‘Made in Brazil’ traz como uma das músicas exemplo do playlist Hotel Califórnia. Weirdoooooooo.



No mundo micro daquela que conta aqui, o ano terminou com minha mãe mais tranqüila –sem aquela choradeira de bebê de dois meses—e eu certamente feliz com minha papinha. E o mundo terminou mais triste, com Chaplin dizendo adeus à terrinha no dia 25 de dezembro. De 1977.


Em 2007:
Ouço (nesta semana): The Dresden Dolls, Albert Hammond Jr e experimento The Fratellis e amo o repetitivo Magic Numbers (Viva Forever Lost, Long Legs e Love me Like You!).
Leio (nesta semana): Manuel Castells, Sociedade em Rede
Penso: logo existo. E surto.

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Frase da semana: por Valter Pereira, fotógrafo e colega de trampo: “Casa de ferreiro, peito de mau” (??????????).

That´s all folks. :-)

(dona de total desleixo, estou com preguiça de revisar o texto, faço depois...rs)

sexta-feira, junho 29, 2007

Horóscopo do dia



Sol na casa 8, lua na casa 2

29/06 (hoje) às 4h14 a 01/07 às 1h18

Neste período, que vai de 29/06 (hoje) às 4h14 a 01/07 às 1h18, a passagem da Lua pelo setor das finanças forma oposição ao Sol no setor das crises pessoais. A oposição tem uma natureza de conflito, mas também de complementação: o que é realmente importante para você, e que deve ser preservado, versus aquilo que não lhe serve mais, ao qual você tem um tolo apego emocional, mas que está na hora de se livrar.

O Sol na Casa 8 ilumina e esclarece a respeito do que não lhe serve mais e que precisa ser descartado sem piedade. A Lua na Casa 2 sugere a dor do apego ao que não tem mais funcionalidade em sua vida. É uma fase crítica, mas também libertadora, natural das luas cheias. Admire a Lua Cheia nestas noites, Stela, e compreenda que ela lhe concede o dom da renovação.


PS.: Tem lógica!

segunda-feira, junho 25, 2007

Hit the road, Jack.





Parte 1

Cair na estrada, tomar um rumo. A existência de tais expressões não ocorre ao acaso. Sabe-se lá desde quando o mundo, as artes –e universo dos lugares comuns— apropriaram-se das estradas como figura de linguagem, sinônimo de mudanças e de liberdade. Não é diferente na cotidianidade da vidinha humana. E o cinema está aí apenas para reforçar tais idéias.

Nos dias atuais, com a crise do sistema aéreo, as estradas ocuparam o caminho vazio daqueles que dela dependem. São elas que ligam pessoas queridas umas às outras, parentes distantes, colegas de classe, o aluno à sala de aula -ignorância e conhecimento. Também não é ao acaso que as estradas são arteriais. Elas comportam um fluxo tão vivo quanto aquele que leva, entre outras coisas, hemoglobinas.

Nos últimos dois meses, rodei mais de dois mil quilômetros de estrada, entre idas e vindas semanais. Esta rotina acaba amanhã, com o fim das idas a São Paulo. Neste tempo, aprendi a e virar em um trânsito complicado, a encontrar nomes de avenidas conhecidos. Acabei perdida em duas ocasiões –mas nenhuma delas me tirou a fé de encontrar o caminho certo, literalmente. Passei horas cantarolando sozinha dentro de um carro e tive a grata chance de presenciar pelo menos cinco pores do sol tão inesquecíveis para mim quanto o nome da rodovia por onde trafegava: Ayrton Senna. Em uma noite, fiz como companhia uma figura até então inimaginável: algumas músicas do Kleiton e Kledir que afugentaram a solidão ao volante quando a pilha já não rodava nada além do rádio (só para constar meus companheiros favoritos nestas noites: Strokes, Maria Rita e Lou Reed. Nando Reis, Lenine e Ryan Adams. Pearl Jam, Franz Ferdinand e Arnaldo Antunes).

Foi na estrada que também desabei no início da última semana, ao ponto dos olhos ficarem tão confusos pelas lágrimas que as imagens pareciam fotografias registradas em baixa velocidade. E nesse dia elas foram minhas melhores companhias, tanto quanto o asfalto que nos leva por esse mundo afora.







Parte 2




Coisa rara eu falar sobre minhas tristezas. Eu mesmo ‘me’ acredito como especialista na arte de sorrir. E isso não é artificial. Gosto mesmo de estar viva, de compartilhar e de respirar todos os dias.
Com certa freqüência, oferece ombro para os amigos e até me cobro quando não consigo dar a atenção que eles merecem (ombros e amigos). ‘Amar pode dar certo’, ‘O sucesso é ser feliz’ e os até os ‘Sete hábitos das pessoas muito eficazes’ poderiam surgir como conselho aos amigos mais necessitados.
Sentir-me como um livro ambulante de auto-ajuda já me fez pensar, em mais de uma ocasião, na possibilidade de explorar o ‘talento’ com fins lucrativos (rá!). Pena ser tão idealista e correr das prateleiras mais respostas nas livrarias.
Na linha da auto-análise, admito não ser fã de melancolia (apesar do meu gosto musical), de gente amarrada ao passado –de tristeza, em geral. Admitir-me nesta condição é tão doloroso quanto estar nela.

A condição de refutar a dor não é minha. Haja visto a quantidade de fluoxetina e outras ‘pílulas da felicidade’ despejadas por aí pelas receitas médicas. O mundo não admite mais a tristeza. Mas o que seríamos de nós sem ela? (desculpe, não consegui evitar a frase ‘shiniashikiniana’. Eu avisei!)

Sorte ter o repertório de auto-ajuda intríseco. Assim, minhas dores passam em menos de uma hora e eu livro ombros amigos de tal decepção. Afinal, a gente é aquilo que imagina ser, poderia dizer um guru qualquer por aí. E eu fico com o adjetivo ‘feliz’. Sem Prozac.









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(Nos fones, 'Esperanto', de Freundeskreis. Obrigada, Denise!)




domingo, maio 27, 2007

Bono Vox e a muiezinha de Cique e Taís

O Cique, batizado Márcio Henrique, é um desses caras que gostamos de ter por perto: é dono de um senso de humor apuradíssimo, faz e ri das piadas mais bobas. Ele foi um achado quando eu tinha 15 anos e surgiu como um oásis numa noite friozinha lá pelos idos dos anos 90. Eu saía pela primeira vez em um bar juntamente com minha irmã Deborah cuja idade, à época, ultrapassava um pouco os 20 anos. Conversa de gente velha, eu pensava enquanto bebericava uma caipirinha de morango pela primeira vez. Bebericava porque logo após o segundo gole voltei pra velha e boa coca-cola.

Estávamos com os amigos da minha irmã --nenhum deles com menos de 20-- e o Cique apareceu no bar porque é primo de um deles, o Gilberto, amigo próximo da minha irmã. E aquela noite mudou a minha vida.

Não se trata de um relato de uma noite romântica como vocês poderiam pressupor até aqui. Naquela noite eu conheci algo muito, muito bacana além de um amigo querido. Naquela noite eu ouvi, pela primeira vez (com atenção, pelo menos) a guitarra de The Edge e os vocais de Bono Vox, além do resto do pacote, Larry e Adam. Naquela noite, eu conheci e sua turma.


Cique me mostrou uns alguns vinis que nem dele eram (estávamos na casa de um outro amigo da Deborah, Ricardo). No meio deles tirou dois e catalogou: "isso você deve ouvir com atenção". Era Rattle and Run e The Joshua Tree (coisas que, provavelmente, ele nem ouve mais).

Sacou um dos discos de vinil e deixou a capa na minha mão. Depois falou algo sobre 'The boy and the torn in his side' e contou ter uma coleção de Pink Floyd que ia muito além de 'Wish you were here'. Falou coisas sobre Led Zeppelin entre outros. E eu fiquei muito abalada pelo rock dos anos 80. Era como se eu tivesse perdido a virgindade musical (atesto para os devidos fins que a outra ficou preservada por alguns anos à frente).

A minha amizade com o Cique não mantém uma linearidade temporal ou um contato permanente. Depois daquela noite em 93 ficamos muito, muito tempo sem nos falarmos. Eu sempre levei, no entanto, um pedacinho desse bom amigo guardada aqui dentro.
A internet permitiu um reencontro feliz. E descobri no Cique um leitor assíduo deste blog. Ele virou arquiteto, mas não trabalha em projetos de obras, teve uma banda independente e é fã do Autoramas. Montou um bar (viva o 'Funil'!) e é primo de um outro cara, que não o Gilberto, o Ricardo (que me deixou com duas costelas quebradas após uma batida de carro em 99, mas eu o perdôo por isso!). E o Cique tem a Taís, a namorada mais simpática de todos os amigos que tenho.

Juntos, Cique e Taís terão uma menina. E este certamente é o 'projeto' mais legal deste amigo, dono de um gosto refinado para muitas coisas (exceto para times de futebol) e, que sem querer, definiu há muito o gosto musical de uma adolescente até então meio sem assunto há 14 anos.

Que o mundo receba bem essa pequena 'muiezinha' (termo usado pelo pai para me contar o sexo do bebê!) que vem ao mundo bem provida de pai e mãe!

As I promisse!

quinta-feira, maio 03, 2007

Porque eu tive medo de Beatles




Durante muito tempo hesitei em ouvir Beatles. Parecia aquela coisa pré-estabelecida das muitas aclamadas sem muito sentido, parecida com Legião Urbana. Sabe aquele coisa de gente fanática defendendo Beatles como se nada de melhor tivesse sido produzido na música? Assustava-me um pouco. Nunca conheci alguém que gostasse ‘mais ou menos’ de Legião Urbana ou de Beatles. Era sempre aquela coisa de adjetivá-los com 'sensacional', 'divino', 'awsome' ou até o dissemidado 'é foda', se preferir (quem nunca ouviu a sentença 'Beatles é foda?').

E eu tinha tudo para gostar de Beatles. Havia uma relação emocional entre eu e a banda. Uma de minhas primeiras lembranças da praia, quando viajamos no Santana vermelho dos tios Waldir e Inês, tem como trilha sonora ‘Michelle’ e ‘Strawberry Fields Forever’. Lembro do caminho da praia do Lázaro, a rodovia Rio-Santos no trecho de Ubatuba, ao som de ‘Michelle ma belle’. Ainda assim Michelle (e as Micheles soltas no mundo me perdoem) soava como nome de menina chata. Não há lógica nisso, eu sei. Mas muitas Micheles que encontrei por aí eram, de fato, meio xaropes e quase sempre loiras (e eu não tenho nada contra loiras, é bom atestar!). Há mais: um de meus filmes favoritos da 'Sessão da Tarde' nos idos dos anos 80 era Hard Day´s Night. Adorava a cena das fãs se escondendo para ver seus ídolos (mais tarde, fiz um remake da cena na vida real para pegar uns autógrafos com o U2 Cover. Situação vexaminosa, admito hoje, passados 16 anos da cena).

Quanto aos Beatles, eu achava meio besta essa coisa de Ob-La-Di Ob-La-Da. A versão de Kiko Zambianchi para Hey Jude, sucesso quando eu tinha 12 anos, ajudou na repulsa. E o ‘lá vem o sol’ de Lulu Santos? Jesus, acende a luz! Que saco! Eu costumava pensar.

O acaso fez com que justamente uma cantora brasileira despertasse a vontade de ouvir Beatles com atenção. Cássia Eller, uma dessas unanimidades incontestáveis (como que por ironia), gravou Come Together e tudo mudou. Foi a primeira vez que ouvir Beatles com a atenção necessária para desmistificar aquela minha primeira impressão, de banda de yeah, yeah, yeah.

Come Together e I´ve Got a Feeling são duas obras raras, pensei. Atuais! Certamente há outras. Bingo! Discografia em mãos, ficou impossível resistir ao quarteto e tudo, tudo mais que ele representou à história da música, do rock, e por que não, do mundo.

Como em ‘I am Sam’ (filme divino com Sean Pean e título péssimo em português, o qual nunca lembro), os ‘meninos de Liverpool’ têm um repertório para cada momento da vida de qualquer pessoa. Qualquer cotidianidade, qualquer sentimento. É trilha sonora para a vida. Mas esse texto está fanático demais para continuar. Tenho medo de afugentar possíveis novos fãs.

(Só para distoar da maioria, um dos meus álbuns favoritos é o renegado Let it Be. Eu e pelo menos Two of Us, para não deixar de constar um trocadilho)

sábado, abril 07, 2007

Estamos de volta. Ao trabalho!





A semana mais absurda da minha vida termina hoje com a certeza de mudança e, para não perder a mania dos clichês, com meu coração cheio de esperança.





O início de abril celebrou meu verdadeiro 'feliz ano novo'. Eu encontrei o que precisava. Só agora abraço 2007, um ano muito especial e simbólico. Em agosto, inaguro a idade das mulheres de Balzac. Na próxima terça-feira, deixarei finalmente de lado a ociosidade forçada (pela maior licença médica sobre a qual já tive notícia). Estou livre para trabalhar e minha força de trabalho terá novo endereço.


Revigorada e disposta a trabalhar por aquilo que me dispus, assumo um compromisso novo. O tempo de pensar acabou. É preciso colocar tudo em seu lugar e depois mudar de novo. Abraçar o novo e respirar.





Nesta semana ganhei vários presentes: alguns alguns fragmentos de sutil beleza para colecionar, situações e imagens para o relicário com recortes das coisas bonitas que vejo em minha breve existência.

Seja bem vindo, stranger.


(De volta ao universo online --engraçado, porque meu blog voltou a habilitar postagens hoje por acaso,
fico devendo o texto sobre os beatles e o filho do casal mais bacana de todos os tempos, Cique e Taís)

domingo, fevereiro 11, 2007

Trava língua
Um tigre
Dois tigres
Três tigres

Destrava a língua
Um copo de cerveja
Dois copos de cerveja
Três copos de cerveja

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

CONJUGAÇÃO NÃO LINEAR DE VERBO À FRENTE DA GELADEIRA

(SOBRE DIAS DE INVERNO OU DE ENCLAUSURAMENTO)Eu belisco
Tu beliscas
Ele belisca
Nós beliscamos
Vós beliscais
Eles beliscam
Nós engordamos
Vós gastais
Eles lucram

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Você desmancharia em moléculas?


Costumo defender os filmes que gosto como um religioso ortodoxo à frente do púlpito. Esforço-me para não parecer entusiasmada demais, mas sempre acabo citando-os com tom excitado quando tenho a chance. Mas minha postura fanática acaba com um suspiro (um hãm...) quando o interlocutor discorda da qualidade da película. Tudo bem (embora eu suba as sobrancelhas finalizando um gesto bem arrogante, admito). Todos têm um mau gosto qualquer e isso é o charme das conversas. Eu gosto de Maroon Five embora lembre-me de NSync quando vejo a perfomance dos garotos. Compartilhar gostos e desgostos é uma das graças da vida.

A introdução foi só para justificar tamanha exaltação a olhos vistos naqueles que eventualmente lerem este texto. Falo sobre Antes do Pôr-do-Sol, lançado em 2004, com Julie Delpy e Ethan Hawke, um dos filmes mais fantásticos que já vi. Tudo bem, você pode pensar que é entusiasmo demais para um filme cuja história é contada em ‘tempo real’, centrada em dois personagens e a cidade de Paris como pano de fundo. A magia do filme consiste justamente no diálogo dos personagens. Enquanto o diálogo transcorria, eu pensava: “puta que pariu! É isso mesmo!”, estabelecendo minha sincronia e empatia com o casal e sua história.

O filme foi lançado em 2004, nove anos após o lançamento do também poético Antes do Amanhecer, quando os personagens de Julie (como Celine) e Hawke (Jesse) vivem uma noite de encontro e romance em um trem. Antes do Pôr-do-Sol trata do reencontro dos personagens e encerra a dúvida deixada ao final de seu antecessor: teriam os amantes se encontrado seis meses depois daquela noite, conforme prometido ao final de Antes do Amanhecer? Teriam eles se casado, envelhecido, desistido? Amadurecido, hibernado, sofrido, partido?
A resposta, no entanto, não é o ponto alto do filme. Ela é respondida ao longo dos primeiros 10 minutos e nem por isso encerra a emoção da história. Pelo contrário: sua aflição –a mesma que sentimos quando temos uma confissão a fazer, há muito guardada— continua ao longo da conversa pelas ruas de Paris. Seu roteiro foi escrito a seis mãos –pelos dois protagonistas do filme e o diretor Richard Linklater, o mesmo de Waking Life (tema para outro texto) e Escola do Rock (engraçadiiiiinho, divertidiiiiiiiiiinho e só).

Se as questões filosóficas são tratadas em Antes do Amanhecer, elas são o ponto alto das conversas entre Jesse e Celine, temperadas pela angústia e a tensão daqueles que se amam e correm o risco de serem dissolvidos em moléculas no prenúncio de um toque.

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Para quem não gosta de spoillers (textos que contam finais ou detalhes importantes de séries, filmes entre outros, embora esse não seja o caso porque deixei o final de fora), é melhor abandonar a leitura dos diálogos abaixo de lado antes de ir até a locadora.


Sabe, você percebe que a maioria
das pessoas que você encontra
está tentando conseguir
alguma coisa melhor,

sabe, eles estão tentando
fazer um pouco mais de dinheiro,
tentando conseguir um pouco mais de respeito,
ter mais pessoas que as admirem, sabe,
é simplesmente exaustivo!

Sabe, é exaustivo ser você
mesma uma dessas pessoas.

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Eu acho que uma lembrança
nunca é terminada.

Desde que você esteja vivo...
******************

Quando eu era uma menininha, minha mãe me contou
que eu estava sempre atrasada para a escola.
Um dia ela me seguiu
para ver o porque...
eu estava olhando as
castanhas caindo das árvores,
rolando na calçada, ou...
formigas, cruzando a estrada...
o modo como uma folha modela a
sombra no tronco de uma árvore...
Pequenas coisas.

Acho que é o mesmo com as pessoas.

Eu os vejo em pequenos detalhes,
tão específicos para os outros,
que me movem, e que eu sinto falta, e...
vou sempre sentir falta.

Você nunca pode repôr ninguém,
porque todos são feitos de tais
detalhes de específica beleza.

Como eu me lembro o modo...
que sua barba tem um pouco de vermelho.
E como o sol estava fazendo
ela brilhar aquela...
aquela manhã, logo antes de você sair.

Eu me lembro disso, e ...
Eu senti falta disso!

****************

Você acha que nós ainda somos?
Eu acho que quando nós somos
jovens...você apenas acredita...
que existirão tantas pessoas
com as quais você se conectará.
Só mais tarde na vida você percebe
que isso somente acontece poucas vezes.
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Mas estou, eu me sinto como
se alguém me tocasse, sabe,
eu me dissolveria em moléculas.

domingo, janeiro 21, 2007

At least


Finalmente um texto neste blog já abandonado.
Na realidade, o fato de não ver sentido nisso não era papo. Era fato.
Hoje, abastecida por mais de uma dúzia da boa e velha combinação do malte plus lúpulo plus whatever sinto-me à vontade para escrever aqui.
Não que não tenha tido idéias. A cabeça anda tão fervilhante quanto outrora. Faltava-me, talvez, inspiração ou força de vontade. Tenho deixado a preguiça me vencer e até por ela mesma tenho tido coragem para dizer isso. É mais fácil assumi-la que criar justificativas para tamanho desapego.
Mas vá lá: com tanta coisa boa para fazer, por que você me visita aqui?
Que venha ao vivo, com cores, cheiros, texturas e sabores.

E que venha o restante da porra de 2007 (perdoem-me os mais eclesiásticos). Porque no final, todo ano é igual ao outro. Por mais pessimista ou paciente que seja essa idéia.

Espero, como milhões de brasileiros, o Carnaval. No meu caso, e aí a dezena é dos milhares, em São Luiz do Paraitinga (SP).