Estamos muito perdidos porque experimentamos a antagonia da
sociabilidade e da misantropia.
Sentimo-nos obrigados a sermos felizes o tempo todo e, ao mesmo tempo, confortáveis em dissipar aos quatro cantos
nossa impaciência com a humanidade. Mau humor virou imagem para ser compartilhada. Alegria, Prozac. Não
aceitamos estágios de infelicidade como parte da vida. Afogados em medicamentos,
reclamamos nas redes sociais. Recorremos à internet para reencontrar pessoas
que não nos fazem a menor falta. Encontramos aquelas que de quem sentimos a ausência todos os dias. Ansiamos pelo amor, mas discorremos discursos embuídos
de cores afeita à sociopatia. Bom, só "os iguais". Perdemos a sinceridade e, quando a
encontramos, duvidamos dela. Preferimos prever o pior porque é difícil acreditar no que é bom. Ser honesto demais causa até certa culpabilidade. Trocamos amigos por amores efêmeros. Cosméticos corrigem
as falhas do corpo enquanto varremos para debaixo do tapete nossas
incoerências. E eu, que penso ser otimista e colorida, só consigo pensar nesse texto muito
azedo e monocromático. Estamos mesmo muito perdidos.
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