E aí ela estava acostumada a viver assim, como se em todos os
dias não soprasse nada além de uma brisa suave, incapaz de alterar os contornos
de seu fluido vestido ou daquele fio de cabelo que insiste em cair sobre seu
olho esquerdo.
A brisa permanecia a mesma e era assim desde que ela deixara alguém em
um banco de praça, simplesmente porque não havia nada mais que furacões intransponíveis para
eles. Depois daquela noite, todos os dias foram iguais, tomados por uma temperatura estável e
por um céu de um azul desbotado e constante.
Embora ela respirasse melhor, era como se colorido contrastante dos dias tivesse desaparecido. Estava enxergando um
colorido em 8 bits, nada além. Toda a ilusão romântica, que nela já era escassa há
muito, havia se transformado em uma confortável sensação estática de viver. Nenhuma intempérie ou tempestade se abatera novamente sobre seu corpo.
A paz que ela sentia, no entanto, parecia pouco natural para
alguém tão naturalmente colorido, como assim a costumavam descrever. Ela havia
se esquecido como era enxergar uma com variação superior a 16 milhões de cores. Ou dos efeitos de um trovão ameaçando suas janelas.
E foi assim, diante de uma calmaria sufocante, que ela percebeu a falta que lhe faziam as chuvas. Sim, ela se lembrava vagamente de sentir os pingos d’água atingindo seu
rosto e da sensação do frio cortante entrando por entre suas luvas em um já
saudoso inverno. Naquele momento, ela desejou ver raios, ouvir trovões. Ela
queria colher tempestade.
Naquele mesmo dia, pôde ver um acúmulo denso de nuvens se acumulando no horizonte. Cúmulus nimbos que subiam a mais de 20 mil pés avisavam que era chegada a hora de transformar a brisa em vento, o azul em luz. A tempestade escura estava muito, muito longe mas ela sabia que
poderia alcançá-la. Naquele momento, teve medo, mas sabia simultâneamente
que não era uma mulher presa aos dias de brisa. Sentia que a ordem só poderia vir
após caos de uma tormenta.
Correu em direção à chuva e, embora tivesse tipo tempo de se
vestir e calçar sapatos, sabia que não precisaria deles para encontrar o vento.
Quando a água despejou sobre ela e os raios transformaram momentaneamente o
escuro do céu em um halo tão brilhante quanto Sirius, ela não sabia qual seria
o seu destino, mas estava disposta a tocar o infinito. A
chuva havia arrumado os seus dias. E foi assim que ela sorriu de novo.
3 comentários:
Que bom! Eu escrevo cada vez menos, mas vez ou outra tenho uns rompantes. Beijão, volte sempre. =)
Lindo Post, Stela!!!
ADOREI!!!!
Obrigada, Karine. <3
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