terça-feira, dezembro 10, 2013

Cascas

Dizem, e confirmo por experiência própria, que o passar dos anos nos amolece por fora e nos endurece por dentro. Enquanto a pele vai perdendo a firmeza de outrora, uma couraça invisível vai nos fazendo perder a ternura e, muitas vezes a fé na humanidade. Acredito que este é o causador de velhinhos azedos, recrudescidos pelas horas do dia.

Ao crescermos, desconfiamos se a frase "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás" , atribuída a Che Guevara, foi de fato proferida pelo suposto autor, uma vez que o comandante tinha outras facetas além daquela pintada em Diários de Motocicleta. Nas primeiras desilusões amorosas, perdemos o encanto sobre o amor (até que nos apaixonemos de novo).

 

Foto de Guilheme Briggs.

Ao crescer, descobri que o Trem da Alegria – grupo de meus principais ídolos da primeira idade, dos anos de 1980 – era composto por gente de verdade, como eu e você (acredito que a geração seguinte sofra o mesmo com Miley Cyrus, a ex-Hannah Montana). Que Papai Noel não me trazia presentes porque o Sarney afundava a economia brasileira. Mais tarde, ao perceber que a profissão dos sonhos não mudaria o mundo, como pensávamos antes do ingresso na faculdade.

A vida nos empedra porque acreditamos demais nos ganhos, evitamos o fracasso e sofremos pequenas ou grandes injustiças. Petrifica nossa alma quando apanhamos mesmo sendo merecedores de flores. Ou quando uma suposta autoridade nos enfia o dedo na cara, substituindo o diálogo pela força bruta – seja a das palavras ou a da força física.

Diante de tanto endurecimento, como não perder a ternura? O antídoto está na resistência de colocar flores no lugar de pedras no meio do caminho. Que neste fim de ano todos percamos as cascas e tiremos de dentro delas aquele pessoa que já nasceu aprendendo a sonhar. Não importa o quanto estejamos moles por fora ou petrificados por dentro.

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