segunda-feira, outubro 24, 2005

Ecos do ão*



Após meses de espera e ‘silêncio’, volto aqui. Não consegui me manter calada. Indignação.


Sintomático do medo, o ‘não’ venceu hoje com folga o referendo sobre as armas e deixou-me entristecida. Desde o início fui a favor do ‘sim’. Talvez porque não tenha assistido a campanha das frentes na TV. Venceu o marketing.

Há inúmero motivos que me levaram a votar o ‘sim’. E apesar da vitória do ‘não’ eu terei minha consciência tranquila quando, eventualmente, for informada que mais uma criança morreu por disparo acidental dado pelo irmãozinho que achou a arma –pensada secreta pelo pai das vítimas. Ou quando uma garota de cinco anos de idade for novamente assassinada por um disparo de arma de fogo –diga-se, legalizada—por um insandecido no trânsito de São Paulo.

Fica uma tristeza menos pelo resultado prático em si, mais pelo que ele aponta. Cada vez mais nos distanciamos do outro. E no país das maravilhas, ter uma arma pra matar ‘ladrão’ é permitido –do ponto de vista da população. Se bandido não é gente, por que não instituímos a pena de morte de uma vez?

Sim, essa declaração poderia estar em alguma campanha da frente contra as armas. Têm alguns elementos básicos para isso. Pode emocionar corações sensíveis, coloca o interlocutor em situação desconfortável, enfim.
Mas o referendo nasceu morto. Sem mudanças e apontando para o possível sepultamento de outras iniciativas como esta –altamente dispendiosa e que consumiu R$ 274 milhões do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), apesar das declarações de entusiastas (alguns derrotados) como Aldo Rebelo (PcdoB) a favor da consulta popular.


Foi um final de semana triste. Da prisão, saiu Maluf. A queda do avião na Nigéria matando 117 pessoas. E os ecos do ão vão se espalhando como um furacão –como o Wilma que atingiu o Caribe mexicano deixando pelo menos seis mortos.


E por aqui eu sigo, no ano mais estranho da minha vida. Aquele em que me tornei ‘vizinha’ de um personagem envolvido em escândalo nacional (cuja história os tantos ‘ãos’ sucessivos já quase seputaram) e deixará cicatrizes até nos meu ombro, tão novo e já tão gasto.




*É o nome da primeira faixa do CD Falange Canibal, de Lenine

Um comentário:

Anônimo disse...

Onde assino , Stela?Concordo com tudo que você disse nesse texto... também era a favor do sim. Tava com saudade de ti , espero ansiosamente que você possa voltar a postar como antes...

Bjs!