sexta-feira, julho 08, 2005

Pequena História de Amor (?)

A pequena história de amor durou 70 anos. E é verdadeira. Só pode ter sido uma história de amor. O que mais, além do amor, a faria durar assim?

Não seu o nome de um dos protagonistas. A outra chamava-se Alzira e era irmã da minha avó materna, Mariana. Aos 84 anos, 'tia' Alzira cuidava do marido -com dez anos de vida a maisque a esposa- e já debilitado por uma doença decorrente da própria idade.

Alzira cuidava do marido (a quem me referirei de forma carinhosa como Zé, por não saber seu nome. Ele era mineiro, de Itanhandú, onde os Zés eram maioria --confirmando o que o Censo já sabe).
Há anos, Zé já não se levantava da cama. Havia perdido a visão e mal comia. No passado, era ele -trabalhador rural- que provia a família e seus 12 filhos.

Até semana passada, o maior temor de 'tia' Alzira era deixar o marido sozinho. Mesmo com uma aparente força vital, não saía de casa para quase nada, temendo uma possível partida de Zé sem 'aviso prévio'.

Na semana passada, Alzira foi acometida por um ataque do coração fulminante. E partiu, sem ter tempo de dizer adeus a Zé ou mesmo, de passar a limpo tudo que possa, eventualmente, ter ficado entalado em sua garganta ao longo de sete décadas.

Debilitado, Zé morreu três dias depois. Antes disso, ainda no velório de sua mulher, juntou o que restara de suas forças e sussurou aquelas que seriam suas últimas palavras em volume alto suficiente para que restassem testemunhas.
Com as mãos sobre o corpo da companheira -que conhecia tão bem embora a luz não pudesse distinguir suas cores- revelou:

--Ah, mulher. Eu comia e falava por você... Só por você.

O jejum o levou para junto de Alzira. E, hoje --certamente mais jovens e companheiros, os dois sorriem enquanto contemplam as cores do crepúsculo que tingem o céu da antiga Itanhandú, sentados sob uma laranjeira ;-)

3 comentários:

Anônimo disse...

Olá!

Gostei de seu Blog. É uma relação muito íntima mesmo. Ler tuas palavras é discutir com uma amiga de infância, mesmo sem saber qual seu nome completo ou cor de seu cabelo.
Seus posts são looongos! Vou ler mais quando estiver mais tranquilo.

André (dos DIAS DE ANDRÉ)

ps: fui bem na banca. Apesar dos professores me massacrarem com perguntas, eu gostei muito da experiência. Quero mais! :-)

Anônimo disse...

Que história linda, é este o tipo de amor que quero pra mim. Um para durar toda a vida e um pouco mais.

beijos

Anônimo disse...

Stelinha
Pois é, como eu já disse. Você leva jeito pra coisa...
Adorei o texto da Tia Alzira ( ou era Isalina). Fiquei com lágrimas nos olhos, apesar da Vó já ter me contado essa história no domingo.

Beijos e por favor não desperdice esse talento
Lara